"É provável que alguns dos projetos de infraestruturas sejam abrandados ou mesmo suspensos, mas isto só vai dar uma pequena folga porque Angola precisa desesperadamente de investir em geração de energia e redes de distribuição de eletricidade, e não o fazer vai atrasar o crescimento do setor não petrolífero, o que é crucial dado que as receitas do setor dos hidrocarbonetos serão muito fracas", escrevem os analistas da unidade de análise da revista britânica The Economist.
Na nota aos investidores, a que a Lusa teve acesso, os analistas acrescentam que outro dos problemas que afetam atualmente o país tem a ver com a falta de moeda estrangeira, nomeadamente dólares, cujo efeito "não se fica apenas pelo impacto na moeda nacional".
A EIU argumenta que a falta de dólares está a fazer com que "algumas empresas estrangeiras tenham já afirmado que não estão a receber o dinheiro devido por causa de uma decisão governamental deliberada relativa à suspensão de pagamentos e proteção das reservas de moeda estrangeira".
Isto, concluem os analistas da EIU, "vai piorar a já de si má reputação de Angola como destino de negócios, e pode levar a atrasos significativos, que com o passar do tempo vão ser mais difíceis e mais caros de pagar".
Nos últimos dias, têm surgido várias notícias relativamente a fornecedores estrangeiros que não estão a receber as verbas pela entrega das mercadorias, porque o Banco Nacional de Angola não terá ainda dado a autorização para a libertação de dólares para que os bancos comerciais possam fazer as transferências.
O clima económico de Angola degradou-se a partir do segundo semestre do ano, quando a descida abrupta do preço do petróleo fez as receitas fiscais começarem a cair significativamente, obrigando o Governo a rever o Orçamento e a reformular a política económica tendo em conta o desequilíbrio criado.
De acordo com informação do Ministério das Finanças, a revisão do OGE para este ano deverá estar concluída até ao final deste mês e vai implicar menos 14 mil milhões de dólares (12,3 mil milhões de euros) em receitas petrolíferas, com a previsão do barril de crude a cair para 40 dólares.
Em causa está a forte quebra na cotação internacional do barril de petróleo, que se situa em torno dos 50 dólares, quando no OGE de 2014 o Estado angolano previa a exportação a 98 dólares.
No orçamento para 2015 o Governo liderado por José Eduardo dos Santos fixou esse valor - necessário para estimar as receitas fiscais com a venda do crude - em 81 dólares por barril, valor que agora descerá, na revisão, para 40 dólares.
Na versão ainda em vigor do OGE, o Governo angolano previa arrecadar mais de 21,5 mil milhões de euros de euros com impostos sobre o petróleo (a 81 dólares) em 2015, o que já representava uma quebra face ao ano anterior.
O orçamento de 2014 previa a arrecadação de 3,048 biliões de kwanzas (25,7 mil milhões de euros) em impostos sobre o petróleo.
O petróleo rendeu a Angola, em 2013, cerca de 76% das receitas fiscais, com cada barril a ser vendido, para exportação, a mais de 100 dólares.
Na versão original, o OGE 2015 previa um défice de 7,6% do Produto Interno Bruto.
LUSA