«Alimento todos os dias uma esperança quase ridícula, quase utópica, de uma Angola mais justa. Enquanto espero, abraço aqueles que quando vão falar estão preparados para escutar», disse.
O livro, afirmou o escritor angolano, «é um abraço aos que não se acomodam, mas antes se incomodam».
«Fi-lo com o que tinha dentro de mim entre verdade, sentimento, imaginação e amor. É uma leitura de carinho e de preocupação. É um abraço aos que não se acomodam mas antes se incomodam. É uma celebração da nossa festa interior, trazendo as makas, os mujimbos, algumas dores, alguns amores, penso que todos queremos uma Angola melhor», declarou o escritor.
Abrindo o seu discurso de agradecimento com o verso «eu não ando sozinho», o autor afirmou que «este livro é sobre uma Angola que existe dentro de uma Luanda» sobre a qual procurou «escrever e descrever».
Ondjaki afirmou-se com «dúvidas e anseios em relação ao nosso momento histórico atual», mas procura «alimentar todos os dias uma esperança».
«Uma esperança que me vem, certamente, de outros mais-velhos que conheci, de um outro tempo, de uma outra educação», disse o autor, que recordou a frase que encimava os seus cadernos escolares: «a caneta é a arma do pioneiro».
Essa esperança é numa «Angola mais justa», a quem dedicou o prémio. «Este prémio não é meu. Este prémio é de Angola», rematou.
«Seremos um país melhor quando as pessoas puderem expor e debater as suas convicções ainda com mais liberdade e conforto. Tenho o orgulho de pertencer a um país onde os jovens pensam, refletem e chegam às suas próprias conclusões», disse.
Estas conclusões - prosseguiu o distinguido - «trazem exigências, reclamações, debates. Parece-me que estamos assim a caminho do futuro, se é realmente o futuro que queremos: democracia, exposição, debate. O direito à convicção tanto quanto o direito à dúvida», afirmou.
Ondjaki, de 36 anos, é o primeiro angolano a receber este galardão, instituído há 15 anos pela Fundação Círculo de Leitores, visando distinguir e incentivar jovens escritores de língua portuguesa.
Hoje, na cerimónia realizada na Casa dos Bicos, sede da Fundação Saramago, Ondjaki, antes de iniciar o discurso e de forma improvisada, agradeceu «às pessoas que trazem universos» como a sua avó, os pais, a tia Rosa, que tomou conta de Ondjaki em vez de ir para a creche, ao tio Joaquim e à tia Dad, que lhe deram livros para ler, a Nuno Leitão, ao editor Zeferino Coelho, à poetisa Ana Paula Tavares, a quem beijou carinhosamente, por lhe «ter ensinado a ler e a cortar nas frases» e «a todos os professores de português que teve»O escritor angolano Ondjaki, de 36 anos, com o romance «Os transparentes», recebeu hoje o Prémio José Saramago 2013, no valor de 25.000 euros.
LUSA