De acordo com o consultor da direção da Associação Angolana de Bancos (Abanc), Ondjoy de Barros, não são os bancos comerciais que fornecem as divisas que circulam no mercado informal, que deve ser alvo de fiscalização devido aos montantes aí transacionados.
“Hoje esse mercado é enorme, temos até a entrada de divisas pelas fronteiras e muito desse comércio que é feito não está registado e deve estar registado e ser supervisionado, mas ainda não se percebe qual a sua dimensão”, afirmou o responsável, em entrevista à Lusa.
Falando sobre a escassez de divisas no mercado angolano, preocupação manifestada por cidadãos, empresários e até por “kinguilas”, o consultor da Abanc referiu que o mercado informal opera mesmo em períodos de alguma estabilidade cambial no circuito oficial.
“O que acontece é que quando havia uma maior disponibilidade de divisas não havia tantas reclamações (…) havia mais estabilidade, mas já tínhamos um mercado informal a circular”, recordou.
“Acho que não é a questão de os bancos canalizarem (divisas para o mercado informal). Acho que tem a ver como se deve formalizar as atividades no mercado informal e ver como é que há essa oferta de divisas constantes nesse mercado”, sustentou.
Ondjoy de Barros considerou igualmente que o comércio que se desenvolve nas zonas fronteiriças de Angola e até mesmo o contrabando de combustível nessas regiões “podem gerar divisas”, insistindo na necessidade de maior fiscalização das autoridades.
“Acho que não é a banca formal que fornece (dinheiro) ao sistema informal, sobretudo por ser um dos setores mais regulados da economia. Temos regras e regulamentos internacionais que devem ser seguidos e há esse rigor a nível dos bancos”, assegurou o representante da Abanc.
A compra e venda de divisas no mercado paralelo é um negócio que dura há décadas em Angola, praticado por mulheres e homens, que se encontram normalmente nas imediações das instituições bancárias, locais onde, alegadamente, tem origem grande parte dos valores transacionados pelas “kinguilas”.
A escassez de divisas em Angola faz-se sentir também no mercado informal onde se transaciona moeda estrangeira, dizem as “kinguilas” de Luanda, que se queixam da falta de clientes e veem nos empréstimos uma alternativa de rendimento.
Algumas “kinguilas”, como são conhecidas as mulheres e homens em Angola que se dedicam à venda e compra de divisas no mercado informal, disseram à Lusa estar com dificuldades em trocar ou comprar diariamente uma nota de 100 dólares ou de 100 euros.
Com falta de clientes, contrariamente ao que acontecia no passado quando os rendimentos desta atividade lhes permitiam construir uma residência, as “kinguilas” buscam outras alternativas, vendendo recargas telefónicas e água mineral, ou viram-se para os empréstimos.