O Produto Interno Bruto (PIB) per capita deverá cair dos actuais 3.543 USD para 3.525 USD em 2027, menos 18 USD, de acordo com o Plano de Desenvolvimento Nacional draft preliminar 2023-2027, apreciado no final de Setembro em Conselho de Ministros. Isto significa que os angolanos ficarão mais pobres dentro de quatro anos, apesar do crescimento económico previsto para este período.
O PDN prevê que, entre 2023 e 2027, o Produto Interno Bruto nacional atinja, em termos reais, a preços de 2022, 135 mil milhões USD e que se observe uma taxa de crescimento anual média de 2,9%. Isto resulta de um crescimento médio anual de 4,5% do sector não petrolífero e de uma queda real média de 2,1% no sector petrolífero, devido à descida da produção média diária de petróleo de 1,136 milhões de barris/dia em 2022 para 1,010 milhões em 2027.
É possível que o PIB per capita diminua mesmo havendo crescimento económico e isso acontece em Angola porque o crescimento populacional, cerca de 3,1% ao ano, é superior ao crescimento económico. É assim desde 2014. Por outras palavras, a soma dos bens e serviços produzidos no País, ou a riqueza gerada em Angola será incapaz de compensar o crescimento da população, cujas projecções passam de 33 milhões de angolanos em 2022 para 38 milhões em 2027.
A questão da demografia em Angola é encarada com preocupação por parte de especialistas, já que a população tem estado a crescer nos últimos anos a uma média de quase um milhão de pessoas por ano. Aliás, segundo o PDN, a taxa de fecundidade actual é de 5,4% (objectivo é reduzir para 4,6%), o que faz de Angola um dos países onde as mulheres têm mais filhos. E como a economia nacional tem sido bastante afectada pelos ciclos de baixa de preços do petróleo verificadas em anos anteriores, que se traduziram em cinco recessões económicas consecutivas, o País tem estado a criar cada vez mais pobres, já que a economia não tem criado empregos em quantidade suficiente para o crescimento da população.
Para o economista Alves da Rocha há uma enorme expectativa no seio científico em relação ao impacto que a degradação da economia teve na população e vice-versa. "O Censo Populacional de 2024 é aguardado com enorme expectativa para se conhecerem os reais efeitos sociológicos e demográficos da Covid-19 e do extenso período de recessão económica. A população continuou a crescer à mesma cadência de 3,1% do Censo de 2014 ou a mortalidade provocada pela pandemia e pela degradação das condições de vida alterou alguns dos padrões demográficos vigentes?", questiona o economista Alves da Rocha em declarações ao Expansão.
O também director do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola alerta para a "doentia dependência do petróleo" que, ainda assim, considera não ser "o único obstáculo à disseminação dos efeitos do crescimento económico, fundamental para se dar aos factores internos, como o consumo privado, a relevância que devem ter na mecânica do crescimento". Considera que a solução para inverter o quadro de degradação da economia passa pelo "investimento privado (nacional e estrangeiro), mas acompanhado de tecnologia, know-how e inovação".
O economista adianta que a "excessiva subordinação ao Estado e à sua intervenção na economia é outra anomalia com efeitos perversos sobre a actividade económica", e que "a economia do petróleo ainda é necessária e relevante para o funcionamento do todo o sistema económico". Expansão