“Sim, o setor bancário ainda vê o agronegócio como um enteado que ele não gosta, porque por conta da conjuntura fomos doutrinados a pensar que o agronegócio é uma coisa negativa, uma coisa para pobres, uma coisa que não tem muito valor”, respondeu Paula Bartolomeu à Lusa.
Para a empresária, apesar do agronegócio “começar a dar os primeiros passos no quadro da diversificação da economia” angolana, o setor ainda enfrenta “enormes desafios”, com o financiamento e a legalização de terras para o cultivo “como os principais”.
“Depois temos aqui outras questões como a disponibilidade de máquinas, sementes, fertilizantes, tudo tem que ser importado, temos um câmbio flutuante, temos taxas de importação, mas este tipo de importação deveria ser totalmente isento de impostos”, defendeu.
Em declarações à margem do III Congresso Angolano de Direito Bancário, onde falou sobre o “Crédito Bancário ao Agronegócio”, Paula Bartolomeu afirmou, no entanto, que o setor começa a ser visto agora com algum interesse.
“Já começamos a sentir que há algum interesse não só dos operadores comerciais, mas também do próprio executivo em fazer isso acontecer, hoje já se vê bons sinais que se quer fazer acontecer”, apontou.
Segundo a empresária e fundadora da Fazenda Maravilhosa, para um maior impulso ao setor Angola deve apostar na “profissionalização do agronegócio”, e inclusive introduzir a temática no currículo escolar, “por ser uma forma de vida”
“Temos que mudar a mentalidade que o agronegócio é para pobres e desgraçados, e o Estado pode fazer isso introduzindo esta temática como uma cadeira curricular na escola, para mostrar que é possível ter-se também aí uma carreira de sucesso”, frisou.
Reforçou também a necessidade de o país apostar fortemente no setor, para se reduzir a importação de produtos alimentares, por entender que o investimento na agricultura “é uma questão de segurança de Estado”.
“[Na situação] em que nos encontramos hoje, porque vivemos do navio, onde a maior parte do que comemos vem de fora, é aí onde deixo o país doente, então é segurança de Estado”, frisou.
“Então, temos de ter a capacidade de produzir internamente, principalmente por angolanos. Sem descurar o investimento estrangeiro, mas é necessário termos o controlo daquilo que comemos”, rematou a empresária agrícola.
O III Congresso Angolano de Direito Bancário, que congregou, em Luanda, vários especialistas da banca e distintos operadores económicos, foi uma organização da Altafinança – empresa angolana de consultoria financeira.