"Alguns passos estão a ser dados, mas mais pode ser feito", disse Naoyuki Shinohara, durante uma palestra em Luanda, no âmbito da visita oficial que o número dois do FMI está a fazer a Angola.
Fruto de uma quebra na produção de petróleo no primeiro semestre do ano - Angola é o segundo maior produtor da África subsaariana -, o FMI estimou já em setembro um défice de quatro por cento do Produto Interno Bruto (PIB) na economia angolana em 2014, o que acontecerá pela primeira vez em cinco anos.
Naoyuki Shinohara sublinhou por isso a "importância" de o país possuir um "quadro macroeconómico" e "mecanismos claros", de médio prazo, para utilizar os dividendos petrolíferos, que o próprio ministro das Finanças de Angola, Armando Manuel, viria a clarificar, na mesma palestra, situarem-se em 76% do total das receitas fiscais.
"Quando o orçamento é excedentário penso que a receita deve ser utlizada para acumular a riqueza soberana, mas quando é deficitária tem de haver uma forma de financiar esses défices, utilizando a receita do petróleo, tanto quanto possível", apontou Naoyuki Shinohara.
Neste cenário, o Executivo angolano tem vindo a recorrer ao endividamento externo para compensar as quebras nas receitas do petróleo.
"Para já, o que está acontecer é que para financiar o défice orçamental é preciso contrair empréstimos no estrangeiro. Deve ser claramente estipulado um mecanismo para trabalhar esta questão", defendeu o diretor-geral adjunto do FMI.
A utilização do Fundo Soberano de Angola é uma das hipóteses sugeridas para a gestão destes recursos, com o responsável do FMI a apontar como necessária uma gestão "mais eficiente das receitas" do petróleo, para benefício das "futuras gerações" angolanas.
De acordo com a informação divulgada por aquela instituição internacional, que em julho esteve representada em Luanda para regulares avaliações à evolução da economia angolana, a queda de 14% nas receitas do petróleo, entre janeiro e maio, explica as dificuldades.
Apesar disso, disse também Shinohara, Angola conseguiu "produzir excedentes financeiros, acumulou reservas internacionais e conseguiu atingir uma inflação de um só dígito", depois das dificuldades da crise económica internacional entre 2008 e 2009, que afetou o setor do petróleo.
"As políticas macroeconómicas assumidas pelas autoridades de Angola foram bastantes consistentes no sentido de conseguir um desempenho e um crescimento económico estável", admitiu o responsável do FMI.
No último relatório sobre a economia de Angola, de 05 de setembro, o FMI refere que depois de um "forte crescimento" da economia em 2013, de cerca de 6,8%, a projeção para 2014 aponta para um crescimento de 3,9% - após revisão -, devido ao declínio da produção de petróleo.
Contudo, a previsão a médio prazo é de forte recuperação, com um crescimento que poderá elevar-se a mais de 7%.
O FMI reconheceu um "forte avanço" em termos de reformas estruturais e na diversificação da economia do país, além do petróleo.
LUSA