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Sexta, 18 Dezembro 2020 14:14

Preço de bens alimentares dispara e cabazes varia entre 230.000 kwanzas a 120.000 kwanzas

A uma semana da ceia de Natal, a procura por produtos básicos (natalícios), em Luanda, continua a ser uma incógnita para muitas famílias.

Se por um lado há as restrições no ajuntamento, por conta do novo coronavírus, estabelecido no máximo de 15 pessoas, a qualidade da ceia de Natal poderá também estar ameaçada devido ao aumento constante dos preços dos principais produtos, sobretudo, os da cesta básica.

Para muitos consumidores, os preços dos produtos "são um exagero" e não há bolso que aguente. Numa ronda efectuada em mercados paralelos e lojas em Luanda,  o Jornal de Angola constatou que um cesto de cabaz ronda os 230.000 kwanzas, caso o cliente opte por um supermercado e 120.000 kwanzas em caso de as compras forem feitas no mercado informal. "Ainda assim, pode não ser um cabaz de facto como manda a praxe”, contou o responsável de uma loja que não quis ser identificado.

Encontrámos a dona Gabriela de Carvalho, numa das lojas da Casa de Frescos, localizada na baixa de Luanda. Nas mãos, carregava um bolo rei, que para si, o preço praticado, nada condiz com o seu tamanho. "Só para este bolo, tive de gastar mais de cinco mil kwanzas”, desabafou a senhora de 77 anos, que vê os preços praticados caros demais, tanto nos mercados, tanto nos supermercados. Bastante falante, a mulher garante que terá uma ceia leve, mas que, para isso, ainda assim teve de gastar um pouco mais do que nos anos anteriores. "Parece que as coisas tendem a piorar. Não se compreende como as coisas sobem da noite para o dia e ninguém faz nada . Somos sempre nós, o povo, a ser sacrificado”, lamentou.

Mãe de três filhos disse que as suas despesas são apenas para si e o esposo.  Ainda assim, está "muito difícil”. Afirmou que comprou duas postas de bacalhau ao preço de 28.000 kwanzas e um cartão de ovos por 4.875 kwanzas. "Nunca vimos isso. Não sabemos o que se passa. Se é mesmo só o coronavírus ou cada agente comercial pratica o preço que quiser”, disse. Para Mateus Pereira, é impossível falar em preços baixos. Encontrámo-lo no mercado do Catinton, em Luanda. Quando foi abordado, tentava persuadir a vendedeira que baixasse o preço do quilo de feijão. Numa tarde em que as vendas eram proibidas, Mateus Pereira aproveitava a folga do serviço para adquirir alguns produtos que achava que pudessem estar barato. "A vida está muito dura. Gastei 2.250 kwanzas para comprar apenas dois quilos de feijão, um de catarino e outro de macunde”, desabafou.

Trabalhador de uma empresa privada, acreditava que com o dinheiro disponível pudesse levar pelo menos três quilos de feijão, sem contar com o macunde. "Optei pelo macunde porque ainda se encontra mais barato que os outros. O quilo do feijão macunde custa 750 kwanzas, quando o "espera cunhado  " e os outros rondam os 1.250, a cabetula (quilo raspado) , a 1.300 Kz o quilo normal". Mateus Pereira disse que com o salário de 100 mil que ganha não pode pensar sequer em alternativas para esta quadra festiva. "Vou preferir comprar o que já é habitual e esquecer o Natal de bolos e bacalhau”.

Já Ana Claudina, também vê os preços dos produtos exorbitantes. Bióloga de profissão diz que não vê razões para os produtos da cesta básica serem comercializados aos preços actualmente praticados. "Nesta época de quadra festiva, seria provável os  preços dos produtos estarem mais acessíveis ao bolso do cidadão. Mas notamos que estamos diante de especulações grosseiras que só atrasam mais a vida do cidadão comum”, alerta Ana Claudina que com um salário mínimo o cidadão não conseguirá sequer arriscar em buscar por uma alimentação condigna.

Cesta básica dispara

Os preços dos produtos básicos sobem vertiginosamente em todas as superfícies comerciais e nos mercados de Luanda. Nas lojas, por exemplo, o bacalhau lombo demolhado de 800g é vendido entre 27.475 a 28.600 kwanzas.

Já a tigela de quatro postas de graudo salgado de 910g custa 17.285 kwanzas. No mercado da BCA, em Viana, a posta de bacalhau médio importado é vendido entre três a 4.000 Kz. Já o bacalhau nacional sai em dois a três mil Kz, respectivamente. Este mesmo produto, segundo dona Madalena, vendedeira da BCA, até meados de Novembro custava entre 1.500 a 2.000 kwanzas para o bacalhau importado e o nacional 1.000 a 1.500 kwanzas. A batata rena de três quilos na loja é comercializada entre 1.560 a 3.325 kwanzas, quando o balde de 5 quilos no mercado informal é vendido entre 1.700 a 2.000 kwanzas.

O cartão de 30 unidades de ovos sai a 4.875 Kz, quando este mesmo produto no mercado informal é comercializado a preços que variam entre 3.300 a 3.500 kwanzas. Dois quilos de cebola nas superfícies comerciais podem custar 2.325 Kz e no mercado informal o de 10 quilos custa 3.900 kwanzas. O grão de bico de 500 g é comercializado a 1.995 Kz, no supermercado e no mercado informal é vendido a 800 Kz.

O trigo, um dos produtos mais procurados nesta fase ronda aos 695 a 1.495 Kz e no mercado informal, o balde de cinco quilos é comercializado a dois mil kwanzas. Em Novembro, este produto estava a ser despachado no mercado informal a 350 Kz e neste momento a 450. O quilo de açúcar branco  é vendido entre 585 a 975 kwanzas, em lojas, mas nos mercados informais (praça) é vendido a 450 kwanzas.

O azeite varia entre os 2.995 Kz o recipiente de 250 ml para 5.9995 o de 750 ml. No mercado informal este mesmo produto custa entre 2.500 a 3.300 kwanzas. O óleo alimentar de variadas marcas ronda os 1.845 a 2.995 kwanzas. No mercado informal este produto ronda aos 1.100 a 1.300 Kz. O arroz agulha de 1 quilo e o parabolizado é vendido entre 1.045 a 1.495 Kz, respectivamente. No mercado informal, o mesmo produto vale 500 kwanzas.

O feijão preto de 1 quilo  custa 2.145 kwanzas no formal e no mercado informal 1.000 kwanzas. Os frutos secos que vão desde amêndoas, noz, avelã e ameixas rondam aos 1.395 a 5.495. Este último, raras vezes encontra-se no mercado informal. A manteiga ronda aos 995, para 500g aos 3.995 kwanzas. No mercado informal, a tigela pode ser comprada a 2.500, enquanto o pacote sai a 750 kwanzas.

A lata de leite em pó de 1.800g sai entre 14.000 aos 18.000 kwanzas. O mesmo produto em líquido de 1 litro custa entre 650 a 960 kwanzas. O Jornal de Angola  constatou que muitos comerciantes optaram em não vender por ser muito caro. O monte de alho de 500g no mercado informal custa 500 Kz e no supermercado 2.690 Kz. Já o frango de 1.200g é vendido a 3.680 Kz nos supermercados, enquanto no mercado a opção recai para a coxa de frango  cada 500 kwanzas.

Alternativas

Diante de muitas incertezas, muitos ainda acham que a opção deve sempre passar em procurar por produtos mais baratos. Teresa Muquixi é comerciante e aconselha as donas de casa a optarem por uma ceia diferenciada. "Felizmente, os mercados oferecem uma grande variedade de preços e alternativas.

Não podemos comprar o bacalhau, mas podemos optar pela corvina seca. Com um bolo e bolinhos, os nossos filhos devem saber que a ceia não passa de uma confraternização familiar. O jantar da ceia pode ser servido de várias formas. Muitos de nós quase não tem tempo para jantar à mesa com os filhos, se o fizermos nesta data, será uma grande alegria para eles”, lembrou.

Fernandes Huambo também vai aproveitar a noite de Natal para jantar com os filhos. O vendedor de peixe seco considera as vendas boas, não só nesta época, como em outras ocasiões. "Felizmente, o peixe seco nacional tem sido uma das opções das famílias não só nas quadras festivas como em outras ocasiões”, garantiu.

Fernando Huambo aconselha os consumidores a buscarem por produtos baratos e de qualidade. "Aqui no mercado é possível encontrar os mesmos produtos que se vendem nos supermercados e a preços mais acessíveis”, garantiu.  Para a ceia de Natal, o empreendedor disse que o cozido da ceia de Natal será acompanhado de tubarão seco. JA

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