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Sábado, 14 Novembro 2015 11:31

Juventude angolana já leva quatro anos na rua a contestar o regime

A procura por espaços de diálogo para resolver problemas comuns à grande parte da juventude angolana move desde 2011 manifestações contra o Governo e que, apesar de reprimidas pelas autoridades, ganham adeptos noutras regiões de Angola.

A capital angolana foi palco da primeira manifestação pacífica, a 07 de março de 2011, com uma convocatória feita na internet. Desde então, Cabinda, Benguela e Malanje – estas duas últimas com quase 30 detidos ainda em outubro em manifestações travadas pela polícia – foram algumas das províncias que receberam contestações antigovernamentais protagonizadas por jovens.

Em declarações à agência Lusa, o investigador social e docente universitário Nelson Pestana classificou as manifestações em Angola como sendo a “expressão de um mal-estar geral”, face à crise social “grande” que o país vive, agravada agora pela crise económica e financeira.

Segundo o também político do Bloco Democrático, desde 2010 que os espaços de participação dos atores políticos institucionais foram cada vez mais e progressivamente reduzidos, e a juventude não se revê nesse sistema institucionalizado político.

“Porque o único espaço de participação que ela tem é um espaço de participação institucional do partido dominante, a JMPLA, e aí não há participação sequer, é tudo dirigido de cima para baixo, e eles são arregimentados como se de tropas se tratassem para cumprir uma agenda que não lhes diz respeito”, referiu.

“E por isso é que a juventude a partir de 2011 efetivamente tomou a decisão de ela própria começar a ter manifestações políticas e a criar os seus próprios espaços de participação”, acrescentou Nelson Pestana.

Apesar de “fortemente reprimidas”, Nelson Pestana realçou que o movimento não para, pelo contrário, até tem crescido.

“E a prova de que há um grande potencial de crescimento desse movimento é que as autoridades reprimem sistematicamente todas as manifestações e ações desse movimento e não permitem que ele cresça, porque têm efetivamente receio de chegarem a um ponto de que em que já não podem controlar esse movimento”, frisou.

Sem nunca se referir diretamente a estes grupos de jovens ativistas, autodesignados de “revús” – revolucionários -, a preocupação com as aspirações da juventude foi destacada pelo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, na sua mensagem à nação a propósito dos 40 anos da independência nacional, que se assinalaram a 11 de novembro.

“Sabemos que os jovens querem tudo resolvido de um dia para o outro. Assim foi em todas as gerações anteriores (?) Temos que continuar a transformar a energia e o dinamismo da juventude em alavanca para continuarmos a construção de uma Nação mais próspera, feliz e justa”, apontou o chefe de Estado.

Já para Nélson Pestana, “a juventude quer hoje, mais do que nunca, que se faça uma sucessão, inclusive uma sucessão de gerações”. “Não é só uma sucessão política, das lideranças políticas, nomeadamente de um Presidente da República, que está há 36 anos no poder, mas é também uma sucessão de gerações”, referiu.

Em entrevista à Lusa, em Lisboa, o embaixador itinerante angolano, António Luvualu de Carvalho, focado no caso atual dos 15 jovens ativistas detidos em Luanda – alguns destes no embrião das manifestações, como Luaty Beirão -, por atos preparatórios de subversão, sublinhou que Angola é um país aberto e que enfrenta desafios.

Sobre a situação deste grupo, António Luvualu de Carvalho rejeita que se trate de um caso de golpe, mas que a situação que levou à detenção os 15 indivíduos e os processos de luta desenvolvidos pelos mesmos levaram o nome de Angola às manchetes pelas piores razões.

“Mas acredito que levaram, porque, mais uma vez, não houve um confronto com a verdade ou com os processos constituídos para que se chegasse até esta conclusão”, concluiu o embaixador angolano.

Lusa

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