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Quinta, 29 Outubro 2015 17:53

Activistas presos apelaram ao perdão e reconciliação nacional

"Do Presidente da República ao último agente da opressão - todos eles precisam de perdão", defendem activistas, em carta aberta aos angolanos

Numa carta aberta aos angolanos, divulgada esta quarta-feira, os quinze activistas políticos detidos desde Junho e acusados de actos preparatórios para prática de rebelião e atentado contra o Presidente da República, apelam ao perdão dos “detentores do poder” e das forças do regime, e também à reconciliação nacional. “Ódio e vingança não são o caminho para o futuro de Angola (uma Angola livre, democrática e de bem- estar)”, lê-se na carta, que é endereçada a todos os compatriotas.

Assinado por Nuno Álvaro Dala “com o consenso dos 14 activistas detidos no hospital prisão de São Paulo”, em Luanda, o manuscrito confirma as reduzidas esperanças que os arguidos depositam no desfecho do seu julgamento, que foi agendado para 16 de Novembro. “Estamos cientes de que já fomos condenados publicamente pelo regime de José Eduardo dos Santos”, lê-se. Mas apesar da desesperança, os quinze companheiros recusam alimentar rancores e ódios, defendendo, pelo contrário, que “o perdão é o melhor caminho”.

“Temos sofrido tremendamente com a prisão (…), mas não desenvolvemos qualquer ódio. Não odiamos o Presidente da República nem aqueles que executaram a trama urdida contra nós”, garantem os activistas – que reafirmam o seu pensamento político “regido por uma filosofia assente nos valores da dignidade humana, igualdade, justiça social, desenvolvimento, tolerância, angolanidade e reconciliação”, em contraponto com “a ética do mal que rege os agentes do regime”.

Sublinhando que o seu “projecto político filosófico de nação” preconiza que “Angola deve ser construída por todos”, e defendendo que “a reconciliação nacional deve ser um processo de todos e para todos”, os quinze subscritores da carta aberta pedem “a todos os angolanos de bem para que perdoem esta gente”, numa referência aos “detentores do poder” que “vivem permanentemente aflitos e com medo de perderem tudo (inclusive as riquezas que saquearam à nação)”. “Do Presidente da República ao último agente da opressão – todos eles precisam de perdão”, escrevem os activistas.

A carta aberta aos angolanos foi conhecida um dia depois do anúncio do fim da greve de fome do músico Luaty Beirão, um dos arguidos do processo, ao fim de 36 dias sem comer. O rapper de 33 anos, que foi transferido da prisão para a clínica Girassol, uma unidade privada de saúde onde permanece internado sob supervisão médica, pediu para se juntar aos seus companheiros no hospital prisão de São Paulo, a partir de onde falariam “a uma só voz”.

Com data de 27 de Outubro, a missiva faz um breve inventário dos acontecimentos que marcaram a vida destes reclusos desde a sua detenção, “há mais de 120 dias”, na sala de aula do Instituto Luandense de Línguas e Informática onde participavam numa sessão de debate da obra “From dictatorship to democracy”, de Gene Sharp. Nuno Álvaro Dala refere-se às “condições desumanas” dos vários locais de detenção dos activistas, que se viram confrontados com “água imprópria para consumo”, “comida de má qualidade” e “camas de betão”, e também às “agressões físicas por agentes dos serviços prisionais e outros”, em cumprimento de orientações superiores e em desrespeito pela Constituição e as leis do país. Também aponta as consequências do tratamento recebido nestes quatro meses de prisão preventiva na saúde dos reclusos: “Problemas de visão, infecções no sangue, infecções na pele, infecções urinárias, gastrite, hérnias, amigdalites, etc”, enumera. “Mas mantemo-nos firmes”, garante.

Publico

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