No poder em Angola desde 1975, o partido realizará em dezembro o seu IX Congresso, no qual deverá ser definida a sucessão do seu lider e Presidente de Angola, João Lourenço, que cumpre o seu segundo e último mandato, como previsto na Constituição.
O chefe de Estado tem defendido publicamente a renovação geracional e a escolha de um jovem para a liderança e o processo interno deverá decorrer num clima de tensão, com militantes que anunciaram a Intenção de concorrer a enfrentar resistências e marginalização na estrutura, numa altura em que o partido regista um desgaste significativo de popularidade.
Entre os nomes que anunciaram publicamente essa intenção estão o repetente António Venancio, Valdir Conego, recentemente afastado do comité central, e o general Higino Carneiro, um peso-pesado que foi declarado arguido esta semana em dois processos judiciais.
O analista politico Crispin Seriga disse à Lusa esperar que o Presidente da Republica "não pisoteie a Constituição" concorrendo a um terceiro mandato e considerou que 2026 será exigente para o MPLA e para a oposição, com "desafios acrescidos para todos os atores políticos".
"Uma coisa é certa: à luz da Constituição, o Presidente da República já não pode concorrer por este ser o seu último mandato, contudo não me espantaria que ele concorresse, porque em África estamos acostumados a ver os estadistas a pisotear as Constituições", afirmou.
Se o congresso do MPLA deixa "todos expectantes", no contexto social, Senga alerta para o "abismo da miséria e pobreza" em que vivem muitos angolanos, criticando a governação de João Lourenço por, no seu entender, "falhar na resposta aos problemas que afligem os cidadãos.
O analista abordou ainda as limitações às liberdades fundamentals, defendendo a necessidade de "Inverter o paradigma da 'mesmice', em que aqueles que criticam como a coisa pública é gerida são perseguidos e presos".
Reconheceu, no entanto, os esforços de João Lourenço na atração de investimento externo, mas sublinhou que esses progressos "não se têm refletido na qualidade de vida dos angolanos", apontando a "burocracia, a corrupção e a insegurança como fatores que dificultam a captação de capital privado.
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), principal partido da oposição, chega a 2026 fortalecida, com os 90 assentos conquistados em 2022, e com o seu presidente, Adalberto Costa Júnior, a garantir a reeleição com 91% dos votos, pressionando a realização das autárquicas e preparando alianças para disputar o poder em 2027.
Em termos socioeconómicos, Angola enfrenta vulnerabilidades profundas, com elevado índice de desigualdade e uma população jovem que representa dois terços do total, que alguns especialistas descrevem como uma "bomba-relógio que pode rebentar se não forem aceleradas reformas sociais:
Num ano pré-eleitoral, o economista Agostinho Mateus alerta, no entanto, para possiveis medidas "artificialmente expansionistas como reduções administrativas de preços, controlo politico do câmbio ou aumentos salariais sem base produtiva".
Ainda no dominio económico, considera que o declinio fisico da produção petrolifera continuará a pressionar o Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2026 e avisa para os riscos da execução orçamental.
"O maior risco para o cumprimento da execução do OGE 2026 em Angola é o lado das receltas petroliferas, que continuarão pressionadas por declinio fisico da produção, maturidade dos blocos, investimentos insuficientes e volatilidade internacional dos preços", disse à Lusa, salientando que isso "exige elevada disciplina fiscal"
O especialista identifica "très caminhos imediatos e tecnicamente realistas" para o crescimento das receitas não petrolíferas: reformar a estrutura fiscal, alargar a base tributária "em vez de aumentar taxas" e foco nos setores que já estão a crescer.
Com variáveis políticas, socials e económicas a convergirem num cenário de Imprevisibilidade, 2026 antecipa-se como um ano de consolidação frágil em que o crescimento económico, apesar de modesto - a previsão otimista do Governo aponta para 4,2%, mas o FMI não vai além de 2,1% poderá sustentar alguma estabilidade.

