Sábado, 17 de Agosto de 2024
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Quarta, 14 Agosto 2024 23:34

Olimpíadas, Schopenhauer e a situação de Angola e do Mundo

Sou optimista e construtivista por natureza. Mas o que se passa, hoje, no mundo me entristece tanto, especialmente, quando não é estimulante para Angola que precisa de superar o seu problema de bloqueio de qualquer liderança libertadora de energias para a felicidade das suas populações.

Por Marcolino Moco

Coincidência ou impulso induzido por essa situação, eu que me decidi, há algum tempo, por revisitar trechos antigos de Filosofia, calha, por estes dias, estar debruçado sobre as páginas da obra “O Mundo como Vontade e Representação” de Arthur Schopenhauar.

Filósofo alemão pessimista por antonomásia, Schopenhauer (1788-1860) é conhecido pelo seu aforismo arrasador: “viver é sofrer”.

Di-lo refletindo sobre as fragilidades do Homem perante as forças da Natureza e sobre a inevitabilidade da morte trágica ou “normal” do humano e de outros seres vivos; e da irracionalidade da “vontade” dos homens em destruir os outros, se for necessário, para a sua subsistência individual, fazendo jus a asserção de Hobbes: “o homem é lobo do homem”.

Mas, os jogos olímpicos, como estes que acabam de realizar-se na própria pátria de Pierre de Coubertin, transportam-nos para a ideia de que vale a pena viver e vale a pena lutarmos pela harmonia de todos os homens e mulheres da Terra, até onde a Natureza, de onde emergimos, o permitir.

Ontem, subtraídos, momentaneamente, da vontade dos seus (maus) políticos, em vão desejosos de tomar conta de tudo, desportistas palestinos estiveram ao lado de desportistas israelitas, chineses do Continente ao lado de chineses de Taipé e coreanos do Norte devem ter-se avistado com coreanos do Sul.

Só o vão orgulho humano não baixou tanto para permitir a presença de conhecidos e extraordinários desportistas russos e bielorrussos, que pouco têm a ver com os “seus” políticos, divertidos na disputa de jogos de vãos e assassinos poderes.

Assim e apesar de todos justificáveis pessimismos, decorrentes do apagamento das lições da 1ª e 2ª guerras mundiais do século passado, temos que os Jogos Olímpicos, com a sua extraordinária beleza e com o seu caráter metafórico, na demonstração de que podemos construir um mundo mais harmonioso, despolitizado e desarmado, podem levar-nos a esfolhear as derradeiras páginas da obra de Schopenhauer, onde se atesta que a Estética e a Ética podem ajudar-nos a aliviar o sofrimento do Mundo.

Agir diferente – e aqui Schopenhauer alude a Cristo e Buda – é causar mais sofrimento ao “outro” por causa da vã ganância, o que irremediavelmente fará reação negativa contra nós próprios ou contra os nossos descendentes. Exemplos não faltam, na nossa actual política angolana, cheia de ódios, vinganças e contra-vinganças.

*Jurista e ex-Primeiro-Ministro

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