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Segunda, 11 Julho 2016 10:10

Crise está a tirar músculo aos "caenches angolanos

O encerramentos de várias lojas de venda de suplementos para aumentar a massa muscular está a deixar os "caenches" angolanos com os nervos à flor da pele. O mercado paralelo, onde a garantia sobre a qualidade e a protecção contra falsificações não existe, está a ser a solução de recurso para que não lhes falte a "vitamina" para o músculo.

Os problemas de saúde que surgem em resultado do consumo de suplementos que permitem aumentar a massa muscular em curtos períodos, ou manter um ideal de aspecto físico por parte dos "caenches", geram permanentes alertas por parte de especialistas em nutrição e médicos em todo o mundo, mas o fenómeno não pára. Angola não é excepção. Também aqui os esteróides androgénicos anabolizantes, que são a substituição artificial da testosterona que o corpo humano produz naturalmente, põem a saúde dos cultores do físico em risco.

Com o encerramento de um grande número de lojas onde eram vendidos estes suplementos, alguns contendo componentes perigosos quando consumidos sem acompanhamento especializado, os "caenches" angolanos, como constatou o Novo Jornal Online, estão a recorrer ao mercado paralelo, como é o caso do mercado do Kwanza.

A razão para o fecho de alguns destes estabelecimentos é a falta de divisas para importar estes produtos, como confirmou o proprietário da Casa dos Bigs.

A reportagem do Novo Jornal Online foi ao encontro de vários jovens praticantes de culturismo e consumidores regulares destes suplementos para perceber como estão a lidar e a contornar estas restrições.

"Muitos de nós estamos preocupados porque já temos uma rotina. Quando utilizo estes suplementos, acompanhando os exercícios, duas horas bastavam para manter a postura do corpo", descreve António Rafael, de 27 anos, apesar de admitir que tem consciência de que existem riscos conexos ao consumo destas substâncias.

A par da raridade dos produtos no mercado em Luanda, outro problema que anda a tirar o sono a estes jovens é o enorme aumento dos preços a que assistiram nos últimos tempos, especialmente desde que as divisas passaram a ser ainda mais raras que os suplementos para a "dieta" dos "caenches", como disse Luís Pedro, outro dos praticantes de culturismo contactados pelo Novo Jornal.

Nem tudo está perdido

Apesar dos constrangimentos relatados, nem tudo parece estar perdido para que estes jovens não percam os salientes músculos.

Por exemplo, enquanto António Rafael está preocupado com o encerramento da loja onde fazia as suas compras, Gaspar António sente-se mais sossegado pelo facto de encontrar os seus suplementos preferidos no mercado do Kwanza a um preço razoável, apesar de a segurança e a qualidade não estarem totalmente garantidas.

Descontraído, o jovem admitiu que utiliza estas substâncias para "manter o corpo mais atractivo para as mulheres".

"Agora já me sinto mais tranquilo porque consegui localizar um mercado onde passarei a comprar", disse e, quando questionado se tinha a informação de que alguns produtos podem ser falsificados e perigosos, o "fisiocultuirista" admitiu estar ciente das eventuais consequências negativas.

Comerciantes preocupados com as divisas

Carolina Adriano, vendedora da casa Big Tomás, não tem dúvidas de que" está cada vez mais difícil fazer a importação de produtos devido a ausência de divisas".

"Os nossos principais compradores ligam-nos constantemente para ver se já temos aquilo que pretendem. Isso preocupa-nos porque o mercado de suplementos esta a ficar cada vez mais deserto. Só esperamos que a situação das divisas melhore vertiginosamente", adianta a comerciante de 28 anos.

Jorge Ambuilo, outro comerciante contactado pelo Novo Jornal, deixou claro que não teve uma outra opção se não fechar a loja, Casa dos Bigs, "até que a situação financeira do país melhore".

"Os meus produtos vêm do Brasil e não estamos num bom momento para importar. Por isso, resolvi fechar a loja", disse e, lamentando, o também preparador físico, afirmou: "Os meus clientes terão de procurar outras fontes".

Mercado do Kwanza, o salva-vidas dos "caenches"

Atendendo à procura de muitos consumidores, o mercado do Kwanza tornou-se o salva-vidas de muitos cultores do físico que fazem o uso de suplementos.

Ali, conforme apurou o Novo Jornal, os comerciantes congoleses vendem comprimidos para aumentar as nádegas das mulheres e ampolas para aumentar os músculos dos homens.

À nossa reportagem, o comerciante deste tipo de produtos Eduardo (nome fictício), disse que nos últimos dias o número de clientes tem aumentado, "particularmente as mulheres que vão a procura dos comprimidos para aumentar o bumbum".

"O número de compradores aumentou, agora já ronda entre 10 a 12 por dia, principalmente as mulheres", admitiu sattisfeto.

O mesmo acrescentou que o suplemento Deca Durabolin, que é composto por Decanoato de Nondrolona, um dos esteróides androgénicos anabolizantes mais conhecidos, é comercializado a 15 mil kwanzas e o Sustanon, que é uma forma de testosterona injectável, a 10 mil kwanzas.

Quanto aos comprimidos de crescimento das nádegas, conhecidos como "limpo seis", são comercializados ao preço de dois mil kwanzas" e devem ser usados durante três semanas", informou este comerciante que não pretende ser identificado, sugerindo que o produto tem sucesso porque "todas as jovens querem ter rabo grande para impressionar os homens".

Perigos para a saúde

O nutricionista Eduardo Filipe admite que o consumo dos suplementos para o aumento da massa muscular "já virou moda em Luanda", mas alerta que "muitos utilizam estes produtos sem nenhuma orientação médica", considerando esse "o principal erro cometido"

E deu um exemplo para os perigos que estas pessoas correm: "Cada produto deve ser consumido em função do peso", o que se sabe que não é seguido por grande parte dos consumidores.

"O principal erro que os ("caenches") luandenses cometem é utilizarem esses anabolizantes sem nenhuma orientação. A necessidade de proteína que uma pessoa precisa ao dia nunca ultrapassará duas gramas para cada quilo do seu peso total. Quem ingere oito gramas de proteína por quilo do seu peso, como acontece, por mais que pratique muito exercício, não terá um benefício maior. Infelizmente, muitos vivem nessa ilusão", avisou.

Para o nutricionista, os anabolizantes usados de maneira errada e com fim exclusivamente estético, acarretam vários problemas e podem mesmo ser responsáveis por diabetes e infertilidade, entre outros problemas.

"É absolutamente necessário procurar orientação de um médico ou nutricionista especializado em exercícios físicos para garantir que, somadas, alimentação e suplementos, não excederão a dose diária aceitável", alertou.

NJ

 

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