Músicos juntam-se em Maputo pela libertação dos ativistas políticos na Angola
"Este é um jeito por nós encontrado para apoiar aos nossos irmãos angolanos neste momento delicado ", disse à Lusa o músico luso-moçambicano Milton Gulli, organizador do espetáculo, que contou com a participação de dezenas de espetadores.
Num clima descontraído, entre copos, conversas e com retratos dos ativistas angolanos espalhados pelo pequeno palco, os mais de 30 artistas, de diferentes bandas e géneros musicais, tocaram temas de exaltação à liberdade de expressão, sob olhar atento do público que, logo nas primeiras horas da noite, se colocou à porta do café Gil Vicente, no centro capital moçambicana.
"Estou aqui há horas, ansioso para ver a atuação dos músicos, e espero que esta iniciativa sirva para pressionar as autoridades angolanas na decisão final", disse à Lusa Mário Marrengula, um dos espetadores, momentos antes do início do espetáculo, justificando a importância da iniciativa com o facto de Moçambique e Angola partilharem, além da língua, a mesma história.
Para Milton Gulli, mais do que uma questão interna, a situação dos ativistas na Angola exige o apoio e a intervenção de todos, na medida em que trata-se de "uma luta pela liberdade de expressão".
"Esta é agora uma causa que é universal", sublinhou o organizador do espetáculo, enquanto afinava as cordas da sua guitarra momentos antes de acompanhar o 'rapper' de intervenção social Azagaia na sua atuação.
Para o vocalista da banda 340 ml, Pedro da Silva Pinto, que já trabalhou com Luaty Beirão, o ativista mais conhecido entre os que estão a ser julgados em Luanda, além do apoio, a iniciativa mostra que há pessoas que se identificam com esta causa além-fronteiras, uma característica típica das sociedades modernas e globalizadas.
"Esta é uma forma de incentivar as pessoas a abrirem os olhos e falarem de forma aberta, não só em Angola como no mundo", referiu Pedro da Silva Pinto, saudando os ativistas pela " coragem e determinação na luta pelo seu povo".
Por sua vez, o 'rapper' moçambicano Rage considerou que causas similares à dos ativistas angolanos mostram que já não há espaço para modelos de governação coercivos e é a altura de, a partir de movimentos como este, a juventude africana começar a exigir mudanças.
"Eu penso que nós fazemos parte da última geração capaz de fazer alguma coisa para manter a igualdade e liberdade nas nossas sociedades", afirmou à Lusa o autor do álbum "A Minha Maneira", esperando que a justiça e a liberdade prevaleçam na leitura final da sentença.
Os 17 ativistas são acusados de atos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, e as alegações finais do julgamento foram agendas para segunda-feira, no tribunal de Luanda.
Através de um vídeo de pouco mais de dez segundos, publicado nas redes sociais, os jovens ativistas angolanos agradeceram a iniciativa dos músicos em Maputo, exaltando a importância da liberdade de expressão e repudiando quaisquer "atitudes ditatoriais".
© Lusa