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Terça, 23 Fevereiro 2016 10:43

"A Isabel devia ser tratada com menos preconceito" - Sindika Dokolo

Sindika Dokolo sublinha que Isabel dos Santos “nunca vendeu qualquer activo nem nenhuma empresa” e defende que a crise em Angola teve um lado positivo “porque revelou ao Governo os problemas estruturais” da economia.

Sindika Dokolo ganhou notoriedade pública em Portugal com a compra, por 1,6 milhões de euros, da Casa Manoel de Oliveira, no Porto, que irá utilizar como sede europeia da fundação que leva o seu nome. 

Casado com Isabel dos Santos, a filha do Presidente da República de Angola, tem negócios neste país em aéreas como os cimentos e a logística. Já em Fevereiro foi alvo de uma participação feita pelo activista Rafael Marques, que o acusa de esbulho de terras. 

Em entrevista ao Negócios, Sindika Dokolo responde a esta acusação, analisa a crise em Angola e fala dos negócios de Isabel dos Santos. 

Há quem diga que a participação de Isabel dos Santos no comité de reestruturação da Sonangol tem como objectivo transferir para ela alguns dos activos da empresa. 

Nesse caso porque é que ela estaria no comité? Vamos ser sérios. Se Angola fosse um país desses, porque é que ela entraria no comité? Se ela quisesse controlar activos, porque é que não o faria de forma escondida? E volto ao Rafael Marques que já há uns anos que está a fazer um trabalho destinado a criar essa percepção. Mas é preciso olhar as coisas com perspicácia. A Isabel, em todos os projectos que desenvolveu, nunca vendeu nenhum. Uma pessoa que fosse um predador e fizesse tráfico de influência o que faria era assumir uma posição com condições preferenciais e depois revendê-la. A Isabel nunca vendeu qualquer activo nem nenhuma empresa. 

Quer dar exemplos? 

Vamos ver o caso do BIC. A Isabel criou o BIC com o senhor Amorim, e o senhor Amorim vendeu. A Isabel ficou dentro. O BIC teve um desenvolvimento fortíssimo e a Sonangol nunca teve conta no BIC. Acha realmente que se o que o Rafael Marques tem escrito sobre Angola fosse verdade, o primeiro reflexo não seria: "Conseguimos uma licença bancária e a Sonangol vai colocar lá o dinheiro." Isso não aconteceu e põe em questão todo o cenário que as pessoas querem montar em torno da Isabel. 

Outro exemplo, a Unitel. A empresa foi uma das principais fontes de lucro e dividendos para a Portugal Telecom. Quando a Isabel chegou e disse que essa visão da Portugal Telecom com os brasileiros não era uma boa ideia porque não criava valor e estrategicamente não era uma boa jogada, foi criticada. Hoje, quando se faz o balanço dessa operação, vê-se que foi uma pouca-vergonha. 

Ninguém olha para o nível de confiança que ela foi conseguindo criar, ao longo dos anos, na banca. Se for ver o dossiê Efacec, uma boa parte do dinheiro que financiou a compra vem da banca portuguesa e a banca portuguesa vai lucrar com isso como sempre o fez, apoiando projectos da Isabel. O que faz o sucesso da Isabel é a capacidade de capitã de indústria dela, a visão estratégica, o rigor e a disciplina extrema que ela coloca no trabalho. Em vez disso, fazem a manipulação dos supostos milhões de dólares que ela tem sem nunca olhar para a dívida. 

Um estudo interessante que se podia fazer era o de ver, nos últimos 15 anos, quantos empregos foram criados por Isabel dos Santos, quantos impostos em Angola e noutros lugares do mundo foram pagos por ela, quantos empregos portugueses foram criados por Isabel dos Santos. Acho que, no mínimo, ela devia ser tratada com um pouco menos de preconceito e um pouco mais de objectividade. 

Porque é que Isabel dos Santos persiste em não falar com a imprensa, em especial com a portuguesa? 

O mundo dos negócios não é o da política. Os políticos têm de gerir uma percepção. O que às vezes não se percebe em Portugal é que os verdadeiros capitães da indústria têm de se concentrar nos factos e não na percepção. A Isabel tem responsabilidades, tem milhares de trabalhadores, tem responsabilidades para com parceiros, investidores, bancos, etc., e essa questão de dizer que fazer negócios é ir gerindo a opinião pública não é a cultura dela. Eu respeito isso. 

Jornal de Negócios

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