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Sábado, 31 Outubro 2015 10:00

Guerra em Portugal Rafael Marques 'vs' Luís Paixão Martins

Um acórdão recente do Tribunal da Relação de Lisboa confirmou o envio para julgamento do dono da LPM, para responder por um crime de difamação de que o ativista e jornalista angolano o acusa. Isabel dos Santos e George Soros estão no epicentro do conflito

Tudo começou com um artigo da Forbes que deu brado, publicado a 14 de agosto de 2013, escrito em co-autoria pelos jornalistas Kerry A. Dolan (da redação daquela business magazine americana) e Rafael Marques, com um título direto ao assunto, a encimar uma fotografia de Isabel dos Santos: Menina do papá: como uma 'princesa' africana arrecadou 3 biliões de dólares num país que vive com 2 dólares por dia. Dono da agência de comunicação LPM, Luís Paixão Martins tomou publicamente as dores da filha do Presidente de Angola e, na sequência da publicação daquela reportagem, escreveu um artigo para a revista portuguesa Briefing, com um título, também ele, contundente: A história de um ativista escondido com George Soros de fora.

Rafael Marques avançou então, no DIAP (Departamento de Investigação e Ação Penal) do Ministério Público (MP) de Lisboa, com uma queixa-crime por difamação contra Luís Paixão Martins. O MP acompanhou a acusação particular, um juiz de instrução pronunciou Luís Paixão Martins para julgamento e, no último dia 27, após recurso do arguido, os desembargadores Agostinho Torres e João Carrola, da Relação de Lisboa, confirmaram a decisão instrutória.

Nesse julgamento, cujo início não está ainda marcado, vamos ter, pois, a sequela portuguesa da reportagem da Forbes, que abalou, e muito, a imagem de Isabel dos Santos.

ATÉ UM EX-PRIMEIRO-MINISTRO DISSE: 'SIM, É VERDADE'

A jornalista Kerry A. Dolan e a Forbes deram total crédito aos documentos trazidos por Rafael Marques para o artigo em causa. A ponto de surgir ali um ex-primeiro-ministro angolano, Marcolino Moco, a afirmar não haver "dúvidas" de que foi o Presidente José Eduardo dos Santos a gerar a fortuna da filha primogénita. Um dos exemplos dados é o súbito aparecimento de Isabel dos Santos como detentora de 24,5% da companhia Ascorp, através de uma empresa sediada em Gibraltar, a TAIS, mais tarde transferida para o controlo da sua mãe. A Ascorp estabeleceu depois uma joint venture com a Endiama, a empresa estatal angolana de venda de diamantes, parceria aprovada num Conselho de Ministros presidido por José Eduardo dos Santos.

Quanto à participação de 25% que Isabel dos Santos detém na Unitel, a primeira operadora privada de telecomunicações em Angola, a Forbes informa que o nascimento da empresa foi antecedido de um decreto presidencial que permitia a concessão de licenças sem concurso público.

A conhecida business magazine arrisca, até, mencionar na reportagem a entrada de interesses privados em Angola de maneira "obscura", mediante participações de 25% supostamente atribuídas a um "veículo de investimento controlado por Isabel dos Santos".

À 'ESTALADA'

No seu trabalho de comunicação para Isabel dos Santos, Luís Paixão Martins relata, no artigo que escreveu na revista Briefing, ter dito a Kerry A. Dolan, antes da publicação da reportagem, que Rafael Marques é um "ativista político". A jornalista americana refutou a alegação, remetendo Paixão Martins para um link que credencia o angolano como "investigative journalist" pela organização The Committee To Protect Journalists. Luís Paixão Martins escreveria, na Briefing, que este comité "é, tão somente, uma organização de frente (para empregar a terminologia cuidadosa que nas Public Relations damos às organizações de fachada), criada e financiada por George Soros", o conhecido (e controverso) multimilionário húngaro-americano."É mais fácil", continuava, "um filantropo patrocinar o ativismo político engajado do que o jornalismo independente." Anotava ainda que "a África Austral é um território muito referenciado nos negócios de Soros, de tal forma que foi aí que iniciou as suas atividades filantrópicas".

Na altura da publicação da reportagem da Forbes, um comunicado atribuído a "fonte oficial" de Isabel dos Santos classificava como "completamente falsas" as "alegações" do artigo da business magazine. E Rafael Marques era descrito enquanto "conhecido ativista político que, patrocinado por interesses escondidos", andava em digressão internacional a "atacar Angola e os angolanos".

No artigo da Briefing, Luís Paixão Martins diz que "o mundo é um penico", para ilustrar a facilidade com que se verificava o suposto financiamento, por George Soros, do "ativismo político" de Rafael Marques. O jornalista angolano, atingido na sua "honra, reputação, bom-nome e profissionalismo", respondeu: "A metáfora utilizada poderia e deveria ser substituída por outra (...) que remetesse para a expulsão de detritos."

Visão

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