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Sábado, 25 Outubro 2014 08:18

Portugal e Família dos Santos ligados por uma empresa financeira

Foi há pouco mais de um ano que José Eduardo dos Santos anunciou o “fim” da parceria estratégica com Portugal. A 15 de Outubro de 2013, no discurso sobre o Estado da Nação, o presidente angolano falou em “incompreensões ao nível da cúpula em Portugal” que não aconselhavam “à construção da parceria estratégica antes anunciada”. O caso acabou por ser desdramatizado por ambas as partes e não passou de um percalço diplomático.

Os negócios entre Angola e Portugal continuam e estão bem de saúde. Provando isso mesmo está a ERIGO, uma sociedade de capital de risco ligada à família de José Eduardo dos Santos e outros dirigentes angolanos. Uma investigação da revista Visão publicada esta semana dá conta de como esta empresa liga dois governos, famílias influentes e vários negócios.

Constituída em Fevereiro de 2012 com um capital social de USD 317 mil (EUR 250 mil), a ERIGO tem como administradores José Paulino dos Santos, mais conhecido pelo nome artístico de Coréon Dú, e Maria Luísa Abrantes, ex-mulher do actual presidente. A líder da Agência Nacional para o Investimento Privado (ANIP) é também a mãe de Tito Mendonça, CEO da ERIGO, nascido de outra relação. Com assento na administração está também Sérgio Valentim Neto, antigo director executivo da Semba Comunicação.

De acordo com a Visão, pouco ou nada mais se sabe sobre a empresa, apenas que tem uma quota maioritária na Masemba, editora que no ano passado comprou as publicações Revista de Vinhos, Lux e Lux Woman à PRISA. Accionistas, participações ou actividades da empresa são desconhecidas.

 Ligações ao poder

As ligações da ERIGO ao poder não ficam por Luanda. Em Portugal, a 12 de Março de 2014, Manuel Luís Rodrigues, secretário de Estado das Finanças, oficializou a contratação, para o seu gabinete, de Rodrigo Balancho de Jesus, director de investimento da ERIGO. A 9 de Setembro, Rodrigo passou de adjunto a chefe de gabinete do governante, cargo de acesso a informação reservada. Contratado “em regime de cedência de interesse público”, poderá regressar à empresa com ligações à família Dos Santos assim que terminar as suas funções governativas.

Juntos na área das Finanças do governo português, Manuel Luís Rodrigues e Rodrigo Balancho de Jesus têm pela frente um dos dossiers mais sensíveis da governação: a alienação de património empresarial do Estado a privados, no país e no estrangeiro. A responsabilidade valeu a Manuel Luís Rodrigues o apelido de “Sr. Privatizações”.

A investigação da Visão descobriu ainda uma outra ligação entre a ERIGO e o poder. Na presidência da mesa da assembleia-geral da empresa está Miguel Nuno Ferreira Pena Chancerelle de Machete, membro dos órgãos sociais da empresa desde a sua fundação. O apelido fala por si: é filho de Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Recorde-se que este é o ministro que pediu “diplomaticamente desculpas” a Angola por causa das investigações em curso na justiça portuguesa envolvendo dirigentes angolanos.

Família Dos Santos

As ramificações da ERIGO junto da família do presidente angolano remontam a 6 de Setembro de 2002, ano em que Walter Rodrigues, jurista, sócio e representante legal de Tchizé dos Santos em negócios, registou a ZE Designs Importação e Exportação, Lda. na qualidade de “mandatário de José Eduardo dos Santos” e “representante legal do seu filho menor, José Eduardo Paulino dos Santos”, então menor de idade.

Os negócios entre família continuaram em 2003, quando os irmãos juntaram-se a Hugo Pêgo, marido de Tchizé, e criaram a Di Oro – Sociedade de Negócios Limitada. Inicialmente ligada a eventos de moda e alta-costura dedicou-se, numa fase posterior, à exploração de diamantes. Paulino e Tchizé foram ainda accionistas do Banco de Negócios Internacionais (BNI) e estiveram juntos na criação da Semba Comunicação. Recorde-se que a filha de José Eduardo dos Santos está sob investigação da procuradoria portuguesa, depois das suas transacções financeiras terem sido denunciadas pelo ex-embaixador angolano Adriano Parreira ao Ministério Público português.

As ligações que a reportagem da Visão dá conta centram-se também em “Milucha”, nome pelo qual é conhecido Maria Luísa Abrantes. Através da ANIP, que preside, esteve em 2013 em Luanda numa conferência do Centro de Relações Transatlânticas, da John Hopkins University, dos EUA, promovida pela ANIP e a ERIGO.

A denominada Iniciativa de Cooperação para a Bacia do Atlântico inclui, entre os seus membros, Dias Loureiro, ex-ministro do PSD, e Tito Mendonça, CEO da ERIGO. Desde Março que os dois são administradores da Lagoon, SGPS. Esta empresa tem a mesma morada da ERIGO e também é gerida pelo filho do general angolano Carlos Hendrick da Silva, denunciado à Procuradoria de Portugal pelo activista Rafael Marques, no seu livro Diamantes de Sangue, por cumplicidade com torturas e assassínios na região diamantífera da Lunda.

Rede Angola | AO24

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