"No Palácio ou no 'war room' ouvi Fidel fazer a Raúl Castro observações do tipo: 'o Ochoa está a dar sinais de incapacidade', o 'Ochoa não se apercebe da realidade', ou ainda 'Ochoa já não tem os pés na terra'", relatou Juan Reinaldo Sanchéz, que vive exilado em Miami, Estados Unidos.
Herói da Revolução cubana, membro destacado da resistência contra Fulgêncio Batista, além de ter participado com Che Guevara na formação de grupos de guerrilha no Congo e mais tarde na Venezuela, Ochoa foi um elemento essencial no envio de tropas cubanas para Angola em 1975, comandou as forças expedicionárias na Etiópia em 1977-1978 e foi, a mando de Fidel, conselheiro especial do ministro da Defesa da Nicarágua.
Após dois grandes desastres militares soviéticos em Angola, Ochoa é enviado para o terreno, onde participa na batalha do Cuito Cuanavale, contrariando muitas vezes as ordens diretas do próprio chefe de Estado cubano.
Em janeiro de 1988, em plena batalha do Cuito Cuanavale, o general Ochoa, caído em desgraça, é chamado a Havana, tendo sido fuzilado um mês de depois, acusado de tráfico de droga.
Segundo o autor do livro, Ochoa acaba por ser o bode expiatório daquilo que poderia transformar-se num escândalo com proporções internacionais e que envolvia o próprio Fidel Castro em esquemas de tráfico de droga como meio de financiamento da revolução.
O livro que dedica um capítulo à participação de Cuba na guerra em Angola não deixa de notar as capacidades militares de Fidel.
"O feito é extraordinário, pelo que merece ser sublinhado: durante toda a guerra, Fidel dirigiu as operações militares a partir de Havana, quase do outro lado do mundo. Era vê-lo entregue ao trabalho, o estratego no 'war room', rodeado de mapas do Estado-Maior e de maquetas de campos de batalha" recordou o antigo guarda-costas do presidente sobre os meses em que se travou uma das mais importantes batalhas travadas no continente africano.
Em Cuito Cuanavale, Angola, registou-se o confronto final "entre Cuba e a África do Sul" durante seis meses, de setembro de 1987 a março de 1988, resultando num impasse em que ambas as partes reivindicam a vitória mas os sul-africanos admitiram que jamais derrubariam "o governo marxista" militarmente.
"Aceitaram negociar a paz nos seguintes termos: Fidel repatriaria o seu exército para Cuba, sob a condição de que o South African Defense Force (SADF) deixasse a Namíbia e outorgasse a independência total àquela ex-colónia alemã que desde 1945 se encontrava sob protetorado sul-africano", recordou Sánchez.
Pouco depois, é proclamada a independência da Namíbia e na "mesma época o regime racista de Pretória" foi levado a fazer outras concessões, como a libertação de Nelson Mandela.
"Três anos mais tarde, Nelson Mandela declarou: 'Cuito Cuanavale pôs fim ao mito da invencibilidade do opressor branco. Foi uma vitória para toda a África", recordou Sánchez.
O guarda-costas de Fidel Castro referiu-se ainda à "Operação Carlota": a ponte aérea e marítima entre Havana e Luanda em 1975 a pedido de Agostinho Neto, que tinha conhecido Che Guevara dez anos antes no Congo.
No outono de 1975 na véspera da independência milhares de soldados cubanos estão já estacionados em Angola sem que Fidel tenha informado Moscovo das "grandes manobras" africanas.
Em 1980, "após a morte natural de Agostinho Neto", a situação complica-se com a invasão norte-americana de Granada onde são capturados 638 cubanos e depois em Angola, onde os sul-africanos relançam a ofensiva militar no sudeste do país.
"No terreno as baixas não param de aumentar. Decorridos dez anos do início do conflito, as mães cubanas vivem com um medo permanente", escreveu Sánchez referindo que "ao todo" as baixas de Havana em Angola atingiram os 2.500 mortos.
No livro Sanchéz contou que assistiu às divergências entre cubanos e soviéticos sobre o curso da guerra e as críticas de Fidel contra as más decisões de Moscovo no teatro de operações.
LUSA