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Sexta, 06 Agosto 2021 12:30

Alerta do BNA provoca corrida à Xtagiarious Finance

O ambiente à porta dos escritórios da Xtagiarious Finance no Zango 3, esta terça-feira, era pesado e transmitia muita apreensão por parte de quase duas centenas de clientes que, ao longo do dia, se deslocaram ali, aguardando ansiosos por alguma informação sobre o futuro das suas poupanças.

Cláudio M. (nome fictício), de 72 anos, é uma das dezenas de pessoas que por volta das 14h00 já tinha sido recebido por funcionários da empresa, mas que teimava em deixar o local. Este ex-funcionário da Halliburton admitiu ter sido aliciado pelo dinheiro fácil e pelo retorno rápido e, por isso, aplicou todo o dinheiro que recebeu de indemnização quando deixou a empresa que actua no sector do petróleo. Sem mencionar o montante, admitiu ao Expansão que aguarda com esperança pelo reembolso dos valores investidos, nas próximas duas semanas, conforme está escrito num documento que naquele dia recebeu por parte da Xtagiarious. "Sei que muitos estão a rir-se de nós", lamentou, adiantando recear ter perdido todo o seu dinheiro.

Vários clientes da Xtagiarious falaram com o Expansão, mas praticamente todos optaram por não mencionar o nome. É o caso de Gustavo (nome fictício) que aplicou um milhão Kz em Março de 2021. O funcionário público, de 55 anos, recebeu os juros relativos a Abril e Maio mas, de lá para cá, só recebe "promessas sobre as duas prestações em falta", na ordem dos 250 mil Kz cada uma. Seria, a ser verdade, um excelente investimento, bom demais até para acreditar. "Eu ligo e mandam aguardar", disse, ao acrescentar que " a última mensagem da empresa garantia que pagariam no dia 28 de Julho, mas até hoje (3 de Agosto) não aconteceu nada", lamentou. O negócio parecia tão bom que, a dada altura, chegou até a pensar em reaplicar os lucros. Agora, admite, ter estado iludido.

Abel Paxe (nome fictício), de 34 anos, estudante e trabalhador é outra pessoa que confiou 500 mil kz que vinha a acumular há vários anos. Para não o gastar facilmente, decidiu aplicá-lo na Xtagiarious.

Para sua surpresa, como conta, depara-se com a discussão sobre a alegada burla da Xtagiarious Finance promovida por um dos clientes da empresa que se queixava de atrasos sucessivos no recebimento dos juros do seu investimento. "Estou assustado devido às notícias e ao posicionamento do BNA", desabafou, aludindo à esperança de ainda ver os seus valores restituídos.

Durante o período em que a equipa do Expansão esteve à porta dos escritórios da Xtagiarious Finance era visível a desilusão e o medo dos clientes e investidores que ansiavam por uma resposta.

Desde a manhã que foram chegando dezenas de queixosos, uns com mensalidades em atraso e outros apenas para tentar perceber se era verdade o que andava de boca em boca sobre a alegada fraude aos clientes. A enchente foi de tal ordem que, de um momento para o outro, foram colocados dois seguranças à porta da empresa.

Por volta das 15h00 a situação voltou a levar as pessoas ao extremo, uma vez que para serem atendidas teriam de estar inscritas numa lista. Isto, apesar de algumas pessoas irem chegando e entrando com "cunha", o que iam provocando uma pequena desordem no local.

BAI congela conta da Xtagiarious Finance

O bloqueio de uma conta no BAI na semana passada trouxe à realidade os investidores da empresa Xtagiarious Finance que, aliciados pelas promessas de um retorno acima do que é praticado no mercado, aplicaram as suas poupanças naquilo que as autoridades e especialistas dizem ter as características típicas de um esquema em pirâmide.

Não se sabe quando é que o alegado esquema terá começado, mas nos últimos meses tem ganhado mais visibilidade, não só devido à cobertura mediática feita por órgãos de comunicação social, mas pelo crescendo de divulgação nas redes sociais, onde a empresa anuncia taxas de juro entre "20% a 25% ao mês sendo um cliente particular ou premium/ empresa da primeira e única startup de finanças em Angola". Mas as promessas não ficavam só pelas taxas de juro elevadas e apetecíveis já que algumas aplicações recebiam um bónus de "20% no final da sua aplicação. "Num país em que os cidadãos nacionais têm uma relação de desconfiança em relação ao sistema financeiro e onde existe uma iliteracia financeira tão grande é normal que vão aparecendo esquemas deste género. As pessoas querem lucro fácil, mas é precisamente essa facilidade que as deveria fazer desconfiar", admite uma fonte ligada à banca.

A presença nas redes sociais, em notícias nas principais televisões, jornais e rádios nacionais ajudou a publicitar a empresa e, acima de tudo, a mostrar sinais de credibilidade e de aparente poderio financeiro. Sem nunca descortinar em que activos estavam a ser utilizados os recursos dos investidores, o objectivo da empresa passava por captar o maior número de investidores (a base da pirâmide) para conseguir suportar as despesas com os investidores mais antigos (o topo) e assim sucessivamente, admitem especialistas em mercados financeiros. Tudo corria de feição e são hoje dezenas de pessoas que dizem ter apostado neste tipo de investimento. Como em todos os casos de pirâmide, alguns tiveram retorno - e ajudaram a "espalhar" a palavra - e outros não. E assim se foi desenvolvendo a actividade da Xtagiarious Finance num mercado sem regras e sem garantias, que é como quem diz sem estar debaixo da supervisão de um regulador.

Entretanto, o congelamento da conta no BAI na semana passada veio agravar ainda mais as desconfianças e as queixas de investidores sobre atrasos nos pagamentos acordados com a empresa de Edson Caetano de Oliveira. Mas os piores receios para as pessoas que aplicaram as suas poupanças nesta empresa só se concretizaram uma semana depois do "chumbo" do departamento de compliance do BAI, quando esta segunda-feira o Banco Nacional de Angola (BNA), cumprindo o seu papel de supervisor do sistema financeiro nacional, comunicou que a Xtagiarious Finance "não está habilitada a exercer, em Angola, qualquer actividade financeira sujeita à sua supervisão, nomeadamente a prestação de serviços de pagamentos, captação de depósitos e aplicações monetárias, actividades reservadas às instituições financeiras bancárias". Expansão

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