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Terça, 21 Janeiro 2020 07:59

Isabel dos Santos aponta o dedo acusador a Manuel Vicente

A empresária está cada vez mais no centro do furacão. Diz a própria que existe uma “campanha contratada” contra si que começa numa empresa de lóbi dos EUA, continua em Malta e acaba em Portugal. Com Manuel Vicente como pivô de tudo.

Isabel dos Santos pôs Manuel Vicente, ex-vice-presidente de Angola e antigo presidente da Sonangol, no centro do furacão, imputando-lhe responsabilidades por aquilo que diz ser uma "campanha contratada" contra si.

A empresária, durante uma entrevista à RTP3, entregou documentos ao jornalista Vítor Gonçalves, os quais, na sua perspetiva, validam esta tese. O Negócios sabe que esses documentos traçam uma ligação que começa nos Estados Unidos e acaba em Portugal. Tudo terá começado em 2019 com a contratação da empresa lobista norte-americana Squire Patton Boggs por parte do Governo angolano, com a missão de ajudar o país a reformar o setor financeiro, atrair investimento internacional e identificar aliados em Washington. Esta, por sua vez, subcontratou uma empresa denominada Erme Capital, criada em Malta, em que surge como um dos acionistas Pedro Ferreira Pinto, enquanto o seu pai, Carlos Ferreira Pinto, é diretor.

Nesta cascata, surge a ligação da Erme Capital à Domínio Capital, detida precisamente por Carlos Ferreira Pinto, cujas ligações à Sonangol remontam ao período em que Manuel Vicente liderava a petrolífera. No site, a empresa refere como seus principais clientes, além da petrolífera angolana, a Falcon Oil, a Galp Energia e o Banco Nacional de Angola.

Dois outros dados. Um dos sócios da Squire Patton Boggs é Joseph L. Brand, que fez serviços de lóbi para a Sonangol em 2008, precisamente durante o consulado de Manuel Vicente. O segundo, como nota a Africa Intelligence (AI), uma publicação de acesso restrito, no seu número 804, tem que ver com a subcontratação dos serviços. "O contrato assinado entre João Lourenço e a Squire Patton Boggs contém uma cláusula inusual: a firma compromete-se a subcontratar trabalho a uma empresa financeira desconhecida chamada Erme Capital recentemente registada em Malta", assinala a AI.

Processo de Manuel Vicente está em banho-maria

Esta posição de Isabel dos Santos significa uma rutura completa com Manuel Vicente, que partilhou parte da infância com o seu pai, José Eduardo dos Santos, e foi mesmo vice-presidente do país entre 2012 e 2017. "Nada aqui [acusações de que é alvo] é inocente. Querer fazer parecer que eu sou o foco da corrupção em Angola não é nada mais do que me neutralizar porque há vozes em Angola que acreditam que eu posso fazer política. Trata-se de uma perseguição pessoal. É uma perseguição política. Só estive no cargo da Sonangol 18 meses, a comparar com o engenheiro Manuel Vicente que esteve lá vários anos", declarou a empresária à RTP 3.

Em Portugal, no âmbito da Operação Fizz, Manuel Vicente foi acusado de corrupção ativa, branqueamento de capitais e falsificação de documento. Em maio de 2018, o Tribunal da Relação de Lisboa decidiu enviar o processo que envolvia o ex-vice-presidente angolano para julgamento em Luanda, pondo assim fim a um mal-estar entre os dois países, na medida em que o Governo angolano considerava a situação que se vivia como uma "ofensa". Um ano e meio depois de ter recebido o processo, a Procuradoria-geral da República de Angola não deu andamento ao mesmo. JN

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