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Quinta, 02 Janeiro 2020 01:56

"O meu pai disse-me para ter coragem" - Isabel dos Santos

A empresária filha do ex-presidente de Angola garante não estar a receber um tratamento judicial justo no processo de que é alvo e que levou ao congelamento das suas contas bancárias bem como da participação em nove empresas. "Isto vai ter um impacto muito grande nas empresas e não estar próxima delas vai ser muito difícil", disse num vídeo em direto no Instagram.

Depois de uma série de twitts publicados com pouco tempo de intervalo no primeiro dia do ano, a empresária Isabel dos Santos fez um vídeo em direto no Instagram onde aparece a responder a perguntas sobre o processo judicial de que é alvo e que levou ao congelamento das suas contas bancárias e à retirada de participações em nove empresas. "Nós vamos continuar a lutar e vamos redobrar o nosso compromisso. Estas coisas não fazem sentido. São fabricadas", disse.

A empresária filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos considerou que "é importante que a justiça seja justa e que se dê uma oportunidade às pessoas para se poderem defender. Sobretudo de poderem mostrar documentos, mostrar factos. Ninguém quer uma sociedade em que não haja oportunidade para as pessoas se defenderem. A mim, infelizmente, não me foi dada essa oportunidade", referiu, em resposta a uma das perguntas que lhe foram colocadas ao longo de um direto de mais de 30 minutos na rede social Instagram (que foi entretanto colocado no Youtube).

O Tribunal Provincial de Luanda decretou na segunda-feira, 30 de dezembro, o arresto preventivo de contas bancárias pessoais de Isabel dos Santos, do marido, Sindika Dokolo e de Mário da Silva, chairman da Efacec, administrador da Nos e seu braço direito, e das participações sociais que detêm em nove empresas naquele país.

Durante o direto, Isabel dos Santos garantiu não ter sido informada, em nenhuma ocasião, de que o processo estaria a decorrer, defendendo que teria sido melhor ter sido notificada não só por si, mas também pelos trabalhadores de todas as empresas que gere. "Por atenção a todas as pessoas que trabalham nestas empresas, se calhar chamar e pedir um esclarecimento teria sido o melhor caminho e não teria criado este nível de ansiedade. Vocês não imaginam o número de pessoas que me telefonaram a chorar e a perguntar: engenheira, amanhã vou trabalhar ou não? Fechamos a empresa, podemos pagar? E a única coisa que eu pude fazer foi pedir calma", referiu.

Quando confrontada se o processo seria ou não fácil de ultrapassar, Isabel dos Santos disse nada saber. "Fomos apanhados de surpresa. O fim de ano tem sido muito difícil. Em vez de ser um momento de família, tem sido um momento do trabalho", explicou, garantindo, ainda, "que o processo vai ter um impacto muito grande nas empresas e não estar próxima delas e poder acompanhar vai ser muito difícil".

A empresária angolana admitiu, ainda, a possibilidade de empresas poderem vir a fechar. "Há essa possibilidade sim. Estamos num momento de crise económica, e assim sendo, se as empresas não são acompanhadas muito de perto e não têm o apoio do acionista nem de quem as criou, seguramente o risco está sempre aí". Aos seguidores disse estar "preocupada" e admitiu possíveis dificuldades no pagamento aos fornecedores e colaboradores.

Foram mais de 30 minutos de conversa com quem quis assistir ao direto, com perguntas que variaram entre o processo judicial, pedidos de recomendações de livros e até o cabelo de Isabel dos Santos. E para o fim, propositadamente, a empresária guardou a conversa que teve com o pai - o ex-presidente José Eduardo dos Santos - "preocupado" com a situação. "O meu pai acredita que em Angola tem de vencer a verdade. O que ele me disse foi: a luta continua, muita coragem".

O processo do fim do ano

Todo este processo está a agitar Angola desde que no dia 30 de dezembro a Procuradoria-Geral da República (PGR) emitiu a nota que caiu como uma bomba: o Serviço Nacional de Recuperação de Ativos intentara uma providência cautelar de arresto no Tribunal Provincial de Luanda, na sequência de negócios celebrados pelos três empresários - Isabel dos Santos, Sindika Dokolo e Mário da Silva - com o Estado angolano, através das empresas Sodiam, empresa pública de venda de diamantes, e com a Sonangol, petrolífera estatal, que terão sido lesivos do Estado em quase 1,2 mil milhões de dólares.

O arresto das participações de Isabel dos Santos foi em nove empresas angolanas - Banco BIC, Unitel, Banco BFA, Finstar, ZAP Media, Cimangola II SA, Condis - centros comerciais Candando, Continente Angola e Sodiba, distribuição de bebidas. Mas poderá vir a ter também consequências em Portugal, já que a empresária tem uma posição de peso no capital de empresas nacionais, como a Nos, Efacec e Galp. Além disso, nas empresas arrestadas existe exposição direta a companhias portuguesas.

No primeiro dia do ano, Isabel dos Santos decidiu recorrer ao Twitter para contra-atacar. Escrevendo em inglês, além das acusações ao atual governo de Angola liderado pelo presidente João Lourenço, a empresária critica também o impacto negativo que a situação pode ter na economia do país, sublinhando que "num momento em que é vital para economia angolana atrair investimento estrangeiro", isso "é um mau sinal para o setor privado". DN

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