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Segunda, 02 Dezembro 2019 11:25

Vírus da pólio atenuado pela vacina oral reproduz-se e contamina crianças sem vacina em Angola

Angola está entre os 13 países africanos onde o vírus vivo atenuado pela vacina oral da poliomielite reproduz-se nos intestinos, é excretado nas fezes para o ambiente e crianças que não são imunizadas podem infetar-se, segundo a OMS.

Num comunicado da Organização Mundial de Saúde (OMS), a que agência Lusa teve hoje acesso, a agência das Nações Unidas reafirma o seu apoio aos esforços do Governo angolano para acabar com um surto de poliomielite, que afeta o país desde maio deste ano.

A OMS sublinha que a poliomielite é uma doença vira, que é transmitida de pessoa para pessoa, principalmente através da via fecal-oral, pela água ou alimentos contaminados.

Segundo a OMS, África tem vindo a enfrentar em 13 países, incluindo Angola, surtos de um vírus da poliomielite tipo 2 (cVDPV-2).

A nota realça que os poliovírus derivados de vacinas são raros, mas são por vezes encontrados em populações que vivem em áreas com saneamento inadequado e baixos níveis de imunização contra a poliomielite.

Nesse sentido, a OMS apela as autoridades sanitárias de Angola, que continuam a implementar resposta ao surto de poliomielite, seguindo as diretrizes acordadas internacionalmente, incluindo o reforço da vigilância para detetar rapidamente outros casos, que para o sucesso desse esforço sejam envolvidas as autoridades governamentais a todos os níveis, a sociedade civil e a população em geral, assegurando assim a imunização de todas as crianças menores de cinco anos.

O surto de poliomielite já afetou, desde maio, 49 crianças angolanas, tendo o Ministério da Saúde procedido já à vacinação de 4,5 milhões de crianças, em 15 das 18 províncias do país.

O representante da OMS em Angola, Hernando Agudelo, citado no comunicado, apontou a necessidade de sensibilização das famílias e comunidades para a necessidade de se vacinar todas as crianças, além de se precisar reforçar a vigilância das doenças e o sistema de vacinação de rotina para detetar, prevenir e responder rapidamente a qualquer transmissão da doença.

"Tendo em conta os desafios que Angola enfrenta para garantir a imunização de todas as crianças, temos de permanecer resilientes em nossos esforços e vigilância epidemiológica, para que nenhuma criança seja deixada para trás com o risco de contrair paralisia", disse Hernando Agudelo.

O comunicado explica relativamente à contaminação pelo vírus atenuado pela vacina oral da poliomielite excretado nas fezes, que se ocorrer a sua circulação prolongada em muitas crianças, devido a baixa cobertura de vacinação contra a pólio, o vírus em cada replicação sofre mutações.

"Os vírus mutantes (que sofrem alterações) são transmitidos às populações suscetíveis (crianças não vacinadas), levando ao surgimento do denominado poliovírus derivado de vacina, que pode circular nas comunidades com baixa cobertura vacinal, causando eventualmente paralisia", refere o comunicado.

A experiência mundial indica, realça a OMS no documento, que a única maneira de se interromper a circulação deste vírus derivado da vacina é através da implementação de duas ou mais rondas de campanhas de vacinação, utilizando a vacina pólio oral do mesmo serotipo que o vírus circulante.

"Em Angola, foi confirmado laboratorialmente a circulação do vírus tipo 2 e está a ser utilizada a vacina pólio oral monovalente tipo 2. O poliovírus derivado da vacina não é um efeito adverso pós-vacinação, nem depende da qualidade da vacina, mas sim um evento que acontece quando há uma baixa cobertura vacinal contra a poliomielite na comunidade", lê-se no comunicado.

Os países que registam surtos de poliovírus de vacinas em África são Angola, Benim, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Etiópia, Gana, Níger, Nigéria, Togo e Zâmbia.

"Estes países enfrentam desafios para impedir a circulação do vírus que incluem a fraca cobertura de vacinação de rotina, a recusa de vacinas, o difícil acesso a serviços de saúde. Estes países precisam, portanto, assegurar campanhas de vacinação de boa qualidade para garantir a imunização de todas as crianças", refere-se na nota.

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