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Quarta, 11 Agosto 2021 16:18

Falta de consenso nas datas belisca V congresso da FNLA

A Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA), partido histórico angolano, vai realizar o seu V congresso ordinário, marcado pela falta de consenso nas datas, soube hoje a Lusa das partes envolvidas.

Na primeira data, apontada para 16 a 18 de agosto, concorrem à liderança do partido três candidatos, enquanto na segunda data, de 16 a 18 de setembro, são candidatos ao cargo oito pessoas, entre as quais o atual líder do partido, Lucas Ngonda.

Em declarações à Lusa, Lucas Ngonda, de 81 anos e há mais de uma década na liderança do partido, disse que decorrem os preparativos finais para a realização do conclave, correndo formalmente para o cargo oito candidatos.

Entretanto, uma nota distribuída esta semana aos órgãos de comunicação social dá conta da realização do V Congresso ordinário, a ter lugar de 16 a 18 de agosto, apontando como candidatos à liderança do partido três nomes, nomeadamente Pedro Dala, João Nascimento e Paulo Jacinto.

“Esta convocatória é falsa, não é da direção do partido. A direção do partido ainda não emitiu as convocatórias para os delegados ao congresso. Esta convocatória não tem qualquer valor, não é da direção do partido e o congresso é o congresso que a direção do partido está a organizar”, afirmou Lucas Ngonda, questionando a origem da convocatória e sublinhando que “a direção do partido é dirigida pelo senhor Lucas Ngonda”.

Segundo o líder da FNLA, o congresso, subordinado ao lema “Unidos na Diversidade de Ideias”, com mais de um ano de atraso, teve já vários adiamentos, por diversas razões, a primeira delas a tentativa de se realizar um congresso “onde a unidade do partido se refletisse”.

“Estes não querem a unidade, foram fazer o congresso, não é um congresso válido, não é um congresso que estão a organizar, é um grupo de indivíduos que quer tomar a direção do partido, é isso, mas não é congresso”, reiterou.

O número previsto de delegados ao congresso é de 1.600, contudo, poderá sofrer uma redução até 1.200, devido à situação da pandemia de covid-19 e espaços compatíveis para acolher esta quantidade de pessoas.

“As salas estão muito caras e a FNLA é um partido que tem só um deputado no parlamento, não tem muitos recursos assim, então, estamos a ver que o número de 1.600 seja reduzido para 1.200 delegados”, frisou.

Instado a comentar as motivações que o levaram a recandidatar-se e o que terá de novo para os militantes do partido, Ngonda comentou que de novo não tem nada a apresentar e candidatou-se pelo sentimento que sempre nutriu, o de “deixar a FNLA organizada, estabilizada e em paz, para uma transição normal”.

“Tanto mais que na minha conferência de imprensa, quando apresentei a candidatura, eu disse que eu não era o candidato do mandato, quer dizer que o meu mandato não é o mandato de quatro anos, mas é para preparar a transição e deixar um partido mais ou menos estabilizado é só isto”, afirmou.

O político e deputado à Assembleia Nacional salientou que recebeu também o pedido “de muita gente, muitos setores religiosos, os que apoiam o partido” para não deixar a direção com os seus membros desavindos.

“Disseram que eu não devia abandonar o partido assim (…) porque quando um ganhar todos vão lutar. De certeza absoluta que o partido sairá muito mais debilitado do que está agora. Eu atendi a este apelo das pessoas, mas a minha vontade mesmo era de deixar, não é agora, mas há uns anos atrás que eu sempre manifestei o desejo de deixar a direção do partido e fazer outra coisa, mas, infelizmente, a vida política é assim, muitas vezes não corresponde ao nosso desejo”, acrescentou.

Nesse sentido, para as próximas eleições gerais, previstas para 2022, Lucas Ngonda adiantou que não será o cabeça de lista do partido na corrida à Presidência da República.

“Eu não serei candidato à cabeça de lista, fica ao critério dos militantes, porque mesmo quando fui candidato foram os militantes que decidiram, eu tinha indicado alguém para ser cabeça de lista, os militantes é que decidiram e eu também deixo tudo isto ao critério dos militantes da FNLA”, referiu.

“Se pensarem que ainda sirvo para alguma coisa, eu vou ver, vou refletir, para aceitar ou não aceitar, se pensarem que já não sirvo para nada, vamos encontrar uma outra pessoa que será cabeça de lista”, apontou.

O IV congresso ordinário da FNLA, realizado em 2015, no qual foi reconduzido Lucas Ngonda, ficou marcado, no primeiro dia, por confrontos entre militantes de duas alas do partido que provocaram um morto e 14 feridos.

Juntamente com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no Governo desde 1975, e com a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição, a FNLA foi um dos movimentos nacionalistas envolvidos na guerra pela libertação angolana do domínio colonial português.

Conhecido como o partido "dos irmãos", a FNLA foi fundada há mais de meio século pelo histórico líder angolano Holden Roberto, mas contrariamente ao peso do MPLA e da UNITA no plano político angolano, a FNLA conta atualmente com apenas um deputado no parlamento e tem vindo a enfrentar uma crise interna após a morte do líder fundador, em 2007, sendo infrutíferos todos os esforços realizados para a reconciliação entre os militantes.

Lucas Ngonda, duramente criticado por militantes do partido, que lhe atribuem o fraco desempenho da força política nos últimos anos, foi confirmado pelo Tribunal Constitucional, em 2011, como presidente da FNLA, com base nos resultados de um congresso realizado em 2004, no qual foi eleito primeiro vice-presidente do partido.

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