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Sexta, 31 Mai 2019 19:03

João Soares lamenta que "fantasma" de Savimbi ainda assuste MPLA

"Se há uma coisa de que o actual Presidente não se pode queixar, é de não ter uma expectativa positiva por parte de toda a gente", afirma o deputado português João Soares, que se encontra desde ontem em Angola para assistir às cerimónias fúnebres de Jonas Savimbi.

Mantém com o País, e em particular com a UNITA, uma relação antiga e de proximidade que já lhe granjeou muitas críticas.

João Soares chegou a Luanda a bordo do avião Morro Boco da TAAG para participar na cerimónia de inumação do líder histórico da UNITA. A esperá-lo estava o filho de Savimbi, o também deputado do partido do "Galo Negro" Rafael Massanga Savimbi.

Em declarações exclusivas ao NJOnline, Soares começou por dizer que "Angola só será uma democracia a sério quando realizar eleições "livres e justas". Mas, acrescenta, "se tivermos em conta que viveu durante mais de 20 anos num regime de partido único, apesar de tudo houve uma evolução".

Na opinião do deputado português, com a chegada de João Lourenço ao poder, houve um "vento de esperança" que se fez sentir, e se reflecte também no modo como Angola passou a ser olhada por parte da comunidade internacional.

Sobre o líder fundador do "Galo Negro", que durante a guerra civil em Angola visitou em várias ocasiões na Jamba, bastião da UNITA na província de Kuando Kubango, João Soares desafia: "Se alguém tinha dúvidas sobre a dimensão do Savimbi, 17 anos depois de morto, era possível com qualquer outro haver estas reacções?" E responde, logo de seguida: "A mobilização popular que o nome e a memória dele ainda evocam em todo o lado, mesmo em Luanda, só acontece porque era um homem ímpar. Tem um lugar incontornável na história de Angola e de África."

Ainda assim, João Soares garante reconhecer os erros de Savimbi, assumido que "o homem, o dirigente político e militar, o combatente, tinha defeitos", mas também "foi alvo das maiores calúnias".

"O Savimbi tinha defeitos e cometeu erros graves, houve pessoas que foram mortas e não deveriam ter sido, eu próprio não esqueço aqueles que conheci: Tito Chingunji, Wilson dos Santos, general Bock. Aliás, falei com o Savimbi sobre o Tito e o Wilson, sobretudo sobre o Tito, que eu conheci", declara.

"Mas o Savimbi foi sempre um bode expiatório do MPLA", acrescenta. "No 27 de Maio, numa guerra interna, morreu mais gente, só em Luanda, do que em toda a guerra colonial, dos dois lados. E o Savimbi, claro que cometeu erros, mas nunca o deixaram ir a votos livremente", diz.

E acrescenta: "E nunca se vendeu. E isso tem muito valor numa terra onde quase toda a gente se vendeu. E era um homem cultíssimo. Mesmo na mata, tinha um apetite voraz por literatura. Cultíssimo. Não tem paralelo em Angola.

Para o deputado do Partido Socialista português, "tornou-se politicamente correcto dizer que o Savimbi tinha saído de Luanda para fugir da guerra, mas se ele não tem saído de Luanda quando saiu, tinha morrido logo".

"Como morreu outro que eu também conheci e de quem era amigo, o Jeremias Chitunda. E também o Alicerces Mango. Morreram por causa de uma manifestação, que é um direito elementar", lembra.

"O Savimbi deu uma entrevista em que afirmava que aceitava disputar a segunda volta das eleições presidenciais, antes desse massacre. Ele e o Holden Roberto", acrescenta.

João Soares destacou ainda o contributo do fundador da UNITA para a formação de quadros, que hoje integram altas instâncias em Angola: "O Savimbi formou alguns dos melhores quadros angolanos. A prova é que o próprio MPLA e o José Eduardo dos Santos foram buscar para Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas o Nunda (general Sachipendo Nunda), que era um general do Savimbi, formado pelo Savimbi". E acrescenta: "Aliás, deve ter dado um contributo indesejável na morte do Savimbi porque conhecia as tácticas dos dois lados. A literatura que se escreveu sobre a guerra e sobre aquele percurso. E compararmos os livros do Chiwale, o livro do Alcides Sakala, são gente de grande categoria. E alguns deles foram formados na mata. Como o Sousa Jamba. Todos formados na mata".

Sobre a actualidade, João Soares aponta que o facto de não haver ainda data para as eleições autárquicas "é um péssimo indicador", mas destaca que "já há opinião pública". E admite que há, por parte da comunidade internacional, uma percepção diferente sobre Angola.

"Há uma expectativa positiva por parte de toda a gente, incluindo eu próprio", diz. "E eu tinha as piores impressões sobre a forma como o poder era exercido".

"Mas isto não pode ser feito apenas à conta de tratar mal o José Eduardo dos Santos, porque depois há um lado de drama shakespeariano de pacotilha que a mim não agrada. Isto não se pode restringir a uma vingança sobre a família do antigo Presidente. E eu sou insuspeito para falar nisso porque fui muito criticado e caluniado. O Jornal de Angola até inventou que eu era traficante de marfim".

E remata: "O Jornal de Angola, por exemplo, agora está melhor". NJ

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