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Quinta, 01 Setembro 2016 06:54

Angola causa azia indisfarçável para alguns portugueses

Angola continua a ser, ainda hoje, para alguns portugueses, volvidos mais de 40 anos após a nossa Independência, uma espécie de mel que lhes sabe a fel, que lhes causa azia indisfarçável.

Por Luciano Rocha

Esta atitude difícil de descrever não é apenas manifestada pelo cidadão anónimo e ignorante que dá como verdadeiro o que lhe chega aos ouvidos por via das televisões, das emissoras de rádio, o que lhes diz a imprensa, no fundo as câmaras de eco de interesses vários, com raiz comum identificada há muito pelo povo angolano. 

Nem sequer me refiro aos “bastardos da pátria”, os habituais ressabiados, capazes de tudo para serem apanhados pelas objectivas dos fotógrafos e holofotes da televisão, bem como para falarem a um microfone. É a forma que têm de justificar a vida que levam, muito acima do que podiam ganhar com as profissões que dizem exercer.Estes já sabemos quem são e o mais que podem merecer é desprezo. Os anónimos ignorantes são apenas isso e, quando muito, valem um encolher de ombros.

Nesta crónica, refiro-me a gente que pelos cargos políticos que ocupa ou pretende ocupar, pelos diplomas que ostenta, não devia desfivelar a boca e deixar escapar a má-fé, na melhor das hipóteses ignorância que, por razões óbvias, não pode evocar. Querer, por exemplo, convencer que em Angola são detidas e julgadas pessoas por estarem a ler e discutir uma obra literária revela, no mínimo, falta de imaginação. Afirmar que não há liberdade de informação é igualmente caricato, quando os passeios de Luanda abarrotam de jornais da oposição. Não acredito que haja tantos noutra qualquer parte do mundo e que alguns deles, pelas calúnias que difundem, que nada ficam a dever a anónimos sítios e cobardes sítios da Internet, publicassem mais do que um número.

Quando oiço alguns desses iluminados que vociferarem ódios a Angola, com olhos vermelhos de raiva e pálidos que nem folhas de caderno de desenho, lembro-me de um diambista de Luanda, muito popular na década de 1960, que não dizia coisa com coisa. Mas, ao menos, ele, ao fim da tarde, no regresso a casa, em passadas certas, com o tronco ligeiramente inclinado para a direita e estalidos com os dedos de uma das mãos, dava alegria às crianças ao prometer-lhes moedas se o seguissem e gritassem o seu nome com palmas sincopadas.

Até há alguns anos, era apenas a direita mais retrógrada e assumida de Portugal que rugia ódios a Angola, mas com o passar dos tempos as coisas mudaram. Agora, há quem arvorando-se de esquerda faz o mesmo e de maneira descarada, como a indivídua que, num restaurante, numa mesa perto da minha, num jantar bem comido e melhor regado, dizia sem rebuços, de voz teatralmente indignada, que estivera em Luanda, numa delegação de um organismo qualquer, e ficara “chocada ao verificar a falta de médicos e medicamentos no Hospital Pediátrico”, como se no país dela os serviços de saúde fossem um “mar de rosas”. O que “a indignada de esquerda” se esqueceu de contar aos amigos foi que no tempo colonial não havia na capital de Angola qualquer estabelecimento do género. Por isso, das duas uma: ou falou de má-fé ou desconhece a realidade, o que também é gravíssimo, para quem tem um curso superior. A não ser que fosse obtido por correspondência ounum fim-de-semana.

Angola, para alguns portugueses, continua a ser mel com sabor a fel. Por culpa deles. Uns porque acreditam em tudo o que ouvem e lêem. Outros por má-fé. Continuem a vociferar, que “os cães ladram e a caravana passa”. Alheios a ignorâncias e histerias, os angolanos mantêm-se apostados em fazer um país novo, que já é exemplo no mundo, a saber perdoar, mesmo a quem não merece, e a receber de braços abertos, em kandandu fraterno, quem vem por bem e sem preconceitos.

JA

 

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