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Terça, 29 Março 2016 11:07

O princípio do fim em Luanda

A ignóbil condenação dos opositores políticos em Luanda evidencia que, quando um regime se esconde atrás de um tribunal e quando este tribunal eleva o absurdo a um monumento, só pode ser porque são os dias do fim.

Por Francisco Louçã | PUBLICO

O Ministério Público de Luanda acusou 17 jovens de estarem a ler um livro e, desse modo, de prepararem um golpe de Estado. Resolveu depois deixar cair essa inventona e substituí-la por uma nova acusação, formulada nas alegações finais (isto é, nem houve prova em tribunal nem a defesa teve oportunidade de contestar a alegação, examinando factos), segundo a qual se trataria antes de “associação de malfeitores”, junto com a magnífica acusação de “rebelião”. Obediente, o tribunal condenou: dois a oito anos de prisão.

Quando o arbítrio está fechado numa redoma, uma ditadura ainda se pode prolongar no tempo. Quanto está exibido, o ridículo mata. Por isso, o tribunal de Luanda, na violência da sua sentença, não faz só vítimas entre os democratas que estão a ser julgados, porque também condena o palácio que dá tais ordens. Podemos portanto registar este momento como um tempo de mudança ou como uma aceleração da luta democrática em Angola.

Poderá agora o Supremo Tribunal confirmar estas sentenças? Não sei. Já haverá juízes que, cientes de que o fim se vai aproximando, podem preferir a regra do direito à certeza da espada. Veremos então o que decidem.

Em qualquer caso, Luaty Beirão e os seus companheiros conseguiram o que pareceria um segredo muito reprimido: mostraram que há grandeza em Angola.

 

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