Segunda, 06 de Mai de 2024
Follow Us

Quarta, 09 Setembro 2015 08:20

Falta de gestos construtivos

Os partidos políticos da oposição realizam desde ontem, pela primeira vez, jornadas parlamentares conjuntas em Angola, um acontecimento significativo, por mostrar, antes de mais, que as jornadas organizadas separadamente por cada uma das formações têm falhado e todos juntos podem conseguir acrescentar algum valor político à oposição no seu todo.

Esse parece ser o primeiro objectivo das jornadas parlamentares conjuntas e coloca os partidos políticos da oposição numa situação de reconhecimento da sua fraqueza individual neste momento, perante o partido da maioria parlamentar.

A interacção com a sociedade é outro dos objectivos avançados para a realização das jornadas parlamentares conjuntas e talvez essa seja a razão por que algumas personalidades angolanas, que não são deputados, tenham sido convidadas a participar, a começar pelo líder do maior partido da oposição e do chefe da única coligação eleitoral nacional.

Em comum, todas essas personalidades têm como característica o facto de sempre terem estado intimamente ligadas à oposição sistemática que é feita aos esforços desenvolvidos pelo Estado angolano no sentido da paz, da reconciliação nacional, da democracia e da reconstrução e desenvolvimento do país.

Pretender apresentar essas personalidades como representativas da sociedade civil e querer dar a entender com isso que se regista um alargamento da base de apoio eleitoral dos partidos políticos da oposição é uma farsa e intelectual e politicamente desonesto.

Além de a lista fornecida aos órgãos de comunicação social pelos organizadores das jornadas parlamentares ter como oradores somente indivíduos que têm vindo a legitimar a conduta negativa e não construtiva da oposição angolana contra o Executivo e contra aquilo que é a vontade da maioria dos angolanos, há ainda um pormenor importante que não pode deixar de ser evocado, nesta altura em que Angola comemora 40 anos de Independência Nacional. 

É que algumas das pessoas convidadas para as jornadas parlamentares foram responsáveis pelo prosseguimento da guerra fratricida em Angola e foram aliadas do apartheid da África do Sul. Outras que se notabilizaram como propagandistas da linha savimbista na Europa e nos Estados Unidos não mostraram até hoje qualquer sinal de arrependimento, antes pelo contrário.

Outros ainda dos convidados já deram sinais suficientes de falta de probidade no cumprimento de promessas e na administração de bens quando colocados à frente de organizações que gerem bens colectivos.

Sendo a primeira vez que a oposição realiza jornadas parlamentares conjuntas, seria de crer que os partidos políticos começassem por apresentar um balanço do posicionamento que tiveram ao longo dos tempos quanto aos grandes desígnios e difíceis problemas que a nação angolana enfrentou e conseguiu superar.

Ao mesmo tempo, seria necessário que dessem a conhecer as suas propostas para a resolução dos imensos problemas que o país ainda hoje tem pela frente. Provavelmente porque muito pouco em matéria de contribuição para o engrandecimento do país houvesse para apresentar, esse balanço e essa autocrítica estiveram longe de ser feitos no primeiro dia de trabalhos das jornadas parlamentares, mas esse facto marcou o tom do encontro e chamou a atenção do observador para a linha de acção de cada força política.

Mais grave foi que, contradizendo a própria imagem que quis dar de ser um grande defensor da reconciliação, o líder da UNITA tivesse insistido claramente em privilegiar como alvo dos seus mais duros e injustos ataques o MPLA – ao afirmar que o partido da maioria não aceita a diferença e não está a conseguir fazer a construção de um futuro de reconciliação, mesmo sabendo que isso é redondamente falso, que isso contribui para a crispação política e que é de uma gravidade que extravasa os limites das jornadas parlamentares conjuntas da oposição.

Com oradores de probidade duvidosa, com um historial de traições aos seus companheiros e ao país, sem contribuição para a reconstrução, o desenvolvimento e o progresso nacional, sem propostas para o futuro e numa linha de confronto, a única contribuição que as jornadas parlamentares conjuntas da oposição podiam trazer era saber se os quatro partidos políticos valem mais juntos ou separados. Por pequenas que sejam, as diferenças e excepções existem, ainda que subjectivas, e é notório que nenhum dos partidos se arrisque para já a decidir sobre uma coligação entre todos juntos nas eleições de 2017. 

Sendo assim, tudo fica remetido para daqui a dois anos. As jornadas parlamentares conjuntas da oposição, a continuarem neste tom, acabam por se transformar num tempo perdido que podia ter sido aproveitado para melhor trabalho de reflexão a favor do país, e menos para o artifício político.

Jornal de Angola

Rate this item
(0 votes)