Esse parece ser o primeiro objectivo das jornadas parlamentares conjuntas e coloca os partidos políticos da oposição numa situação de reconhecimento da sua fraqueza individual neste momento, perante o partido da maioria parlamentar.
A interacção com a sociedade é outro dos objectivos avançados para a realização das jornadas parlamentares conjuntas e talvez essa seja a razão por que algumas personalidades angolanas, que não são deputados, tenham sido convidadas a participar, a começar pelo líder do maior partido da oposição e do chefe da única coligação eleitoral nacional.
Em comum, todas essas personalidades têm como característica o facto de sempre terem estado intimamente ligadas à oposição sistemática que é feita aos esforços desenvolvidos pelo Estado angolano no sentido da paz, da reconciliação nacional, da democracia e da reconstrução e desenvolvimento do país.
Pretender apresentar essas personalidades como representativas da sociedade civil e querer dar a entender com isso que se regista um alargamento da base de apoio eleitoral dos partidos políticos da oposição é uma farsa e intelectual e politicamente desonesto.
Além de a lista fornecida aos órgãos de comunicação social pelos organizadores das jornadas parlamentares ter como oradores somente indivíduos que têm vindo a legitimar a conduta negativa e não construtiva da oposição angolana contra o Executivo e contra aquilo que é a vontade da maioria dos angolanos, há ainda um pormenor importante que não pode deixar de ser evocado, nesta altura em que Angola comemora 40 anos de Independência Nacional.
É que algumas das pessoas convidadas para as jornadas parlamentares foram responsáveis pelo prosseguimento da guerra fratricida em Angola e foram aliadas do apartheid da África do Sul. Outras que se notabilizaram como propagandistas da linha savimbista na Europa e nos Estados Unidos não mostraram até hoje qualquer sinal de arrependimento, antes pelo contrário.
Outros ainda dos convidados já deram sinais suficientes de falta de probidade no cumprimento de promessas e na administração de bens quando colocados à frente de organizações que gerem bens colectivos.
Sendo a primeira vez que a oposição realiza jornadas parlamentares conjuntas, seria de crer que os partidos políticos começassem por apresentar um balanço do posicionamento que tiveram ao longo dos tempos quanto aos grandes desígnios e difíceis problemas que a nação angolana enfrentou e conseguiu superar.
Ao mesmo tempo, seria necessário que dessem a conhecer as suas propostas para a resolução dos imensos problemas que o país ainda hoje tem pela frente. Provavelmente porque muito pouco em matéria de contribuição para o engrandecimento do país houvesse para apresentar, esse balanço e essa autocrítica estiveram longe de ser feitos no primeiro dia de trabalhos das jornadas parlamentares, mas esse facto marcou o tom do encontro e chamou a atenção do observador para a linha de acção de cada força política.
Mais grave foi que, contradizendo a própria imagem que quis dar de ser um grande defensor da reconciliação, o líder da UNITA tivesse insistido claramente em privilegiar como alvo dos seus mais duros e injustos ataques o MPLA – ao afirmar que o partido da maioria não aceita a diferença e não está a conseguir fazer a construção de um futuro de reconciliação, mesmo sabendo que isso é redondamente falso, que isso contribui para a crispação política e que é de uma gravidade que extravasa os limites das jornadas parlamentares conjuntas da oposição.
Com oradores de probidade duvidosa, com um historial de traições aos seus companheiros e ao país, sem contribuição para a reconstrução, o desenvolvimento e o progresso nacional, sem propostas para o futuro e numa linha de confronto, a única contribuição que as jornadas parlamentares conjuntas da oposição podiam trazer era saber se os quatro partidos políticos valem mais juntos ou separados. Por pequenas que sejam, as diferenças e excepções existem, ainda que subjectivas, e é notório que nenhum dos partidos se arrisque para já a decidir sobre uma coligação entre todos juntos nas eleições de 2017.
Sendo assim, tudo fica remetido para daqui a dois anos. As jornadas parlamentares conjuntas da oposição, a continuarem neste tom, acabam por se transformar num tempo perdido que podia ter sido aproveitado para melhor trabalho de reflexão a favor do país, e menos para o artifício político.
Jornal de Angola