Segunda, 29 de Setembro de 2025
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Segunda, 29 Setembro 2025 15:01

João Lourenço versus Higino: quem vai cair primeiro do ‘cavalo’?

Higino Carneiro, ou melhor, o famoso general 4×4, parece ter estacionado o seu jipe blindado numa zona proibida: a liderança do MPLA. E quando alguém ousa estacionar onde João Lourenço pintou a faixa vermelha, o reboque do Estado chega rápido, escoltado pela TPA e a Secreta.

O guião é velho como os impérios: quem sonha com a coroa, paga com a cabeça. Roma tinha o Coliseu; nós temos a TPA. Os césares usavam gladiadores; os nossos usam jornalistas fardados a rigor, com microfones em vez de espadas, mas com a mesma precisão letal.

Higino não é nenhum santo, disso até os anjos desconfiam. Já passou pelas mãos da Justiça, já esteve com um pé no cadafalso durante o “primeiro combate” à corrupção, mas, como gato de sete vidas, escapou sempre na porta pequena, provavelmente depois de um chá quentinho servido na “sala das negociações”.

Mas desta vez a ousadia foi maior: dizer em voz alta que queria ser presidente do MPLA. Ah, pecado capital! Como se em monarquias se pudesse candidatar a rei. A linha vermelha foi atravessada e, desde então, Carneiro é tratado como persona non grata pelo império lourencista.

A imprensa oficial, que deveria informar, agora desfila como guarda pretoriana do Palácio. A TPA, sustentada com o suor de todos os angolanos, virou sala de comando da presidência, uma espécie de Netflix do regime, só que sem a opção de “pular introdução”. Ética jornalística? Está no mesmo arquivo onde guardaram as promessas de combate à pobreza.

O curioso é que Higino Carneiro, homem de fortuna e com fama de saber sobreviver, não parece disposto a ser cordeiro levado ao matadouro. Está a ser caçado, é certo, mas ainda pode rosnar, mostrar garras e obrigar João Lourenço a dançar mais rápido do que gostaria.

Se este conflito fosse epopeia antiga, veríamos dois generais no campo de batalha, cada qual com a sua legião: Lourenço com a máquina do Estado, Carneiro com as suas redes de influência e bolsos fundos. A questão é: quantos “golpes de espada” resistirá o general 4×4 antes de ser abatido? Chega inteiro a 2026?

Os impérios ensinam que quem desafia o trono raramente morre de velhice. Mas também ensinam que, por vezes, um desafeto resiliente consegue arrastar o próprio império para a decadência. A história gosta de ironias. E aqui a ironia é ver um regime que prometeu “abrir” a democracia usar o manual clássico do absolutismo para se proteger dos seus próprios filhos.

No fim, a dúvida permanece: Higino Carneiro será abatido como exemplo ou sobreviverá como fantasma incómodo, assombrando João Lourenço até ao último dia do seu reinado? O certo é que o jogo começou. E, como diziam os romanos, “alea jacta est”. Os dados estão lançados.

Horácio dos Reis

*Jornalista

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