A cena política está a ser redesenhada com novos actores: o povo e a sociedade civil organizada.
A cidade de Luanda, hoje paralisada por uma greve de taxistas em protesto contra a subida do preço dos combustíveis, é apenas o mais recente retrato dessa nova realidade.
Aos sábados, tornaram-se frequentes as marchas promovidas por associações, movimentos cívicos, mães indignadas, jovens activistas e trabalhadores de vários sectores.
As ruas que antes eram espaço de silêncio e medo, transformaram-se em palcos de expressão da frustração do povo e exigência de direitos.
Este despertar é mais do que resistência: é um sinal claro da maturação da consciência cívica.
O medo que durante décadas toldou a acção colectiva está a dar lugar a uma ousadia informada, a uma cidadania mais exigente e participativa.
Infelizmente, o regime insiste em interpretar este novo fenómeno como manipulação da oposição ou instigação de "forças externas". Essa leitura redutora é não apenas perigosa, mas profundamente desrespeitosa para com o povo angolano que hoje já não se satisfaz com promessas vazias nem com o uso do "inimigo externo" como desculpa permanente.
A verdade é que a luta política em Angola já não é só entre partidos. A verdadeira tensão é agora entre o poder e o povo. Entre um partido-Estado que se recusa a ouvir e uma sociedade que decidiu falar e falar alto.
A maturidade de uma democracia mede-se também, entre outros factores, pela capacidade do Estado em escutar os seus cidadãos. Insistir no autoritarismo, na repressão e no descrédito de toda forma de manifestação é remar contra a maré da história.
O povo acordou e não voltará mais a dormir.