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Terça, 31 Dezembro 2024 04:09

Angola, entre os EUA, China e Rússia – quem deve escolher?

O presente artigo de opinião analisa o “status quo” das relações de Angola com as três grandes potências mundiais (EUA, Rússia e a China). Na primeira parte, abordou-se a relação de Angola com os EUA, na segunda parte a relação de Angola com a China e nesta parte abordar-se-á a relação de Angola com a Rússia, numa perspectiva histórica e contextual, para compreender os interesses que estes Estados têm em Angola e os interesses de Angola com esses mesmos Estados.

A relação entre Angola e a Rússia é alicerçada numa base histórica e estratégica que remonta ao período do movimento de libertação nacional MPLA, que se estende durante e após ao dia da proclamação da Independência de Angola, em 11 de Novembro de 1975.

Desde então, os dois países estabeleceram laços diplomáticos, solidificados pela assinatura do Tratado de Amizade e Cooperação entre a então União Soviética e Angola, em 1976. Este pacto marcou o início de uma colaboração que foi decisiva para a consolidação do Estado angolano durante os anos conturbados da guerra civil e da intervenção estrangeira.

As relações destes dois Estados foram construídas num dos períodos mais difíceis da história da humanidade, sendo o quadro da Guerra-Fria, que obrigava os Estados recém-independentes ao alinhamento ideológicos no Sistema Internacional. É possível e é correcto dividir as relações Angola-Rússia em três períodos importantes, apesar de serem discutíveis, mas se fundamenta a divisão na visão de vários estudiosos, assim como, Valdemir Shubin, nesta ordem de ideias, podemos descrever estes períodos da seguinte forma:

De 1975 a 1985: Este período foi marcado por um alinhamento estratégico e ideológico, influenciado pela Guerra-Fria. A União Soviética desempenhou um papel crucial no apoio militar ao MPLA, permitindo ao Governo angolano resistir a incursões da África do Sul e da UNITA;

1. De 1990 a 2000: Com o colapso da URSS e o fim da Guerra Fria, as relações arrefeceram. A Rússia enfrentava uma crise económica e política interna, resultando numa diminuição do seu alcance internacional;

2. De 2000 até os dias de hoje: A ascensão de Vladimir Putin trouxe um novo dinamismo às relações bilaterais. A cooperação foi ampliada para além da esfera militar, incorporando áreas económicas e sociais, embora com oscilações devido a mudanças no contexto internacional.

3. O contexto internacional recente, marcado pelas sanções económicas impostas à Rússia pelos EUA e pela União Europeia, tem tido repercussões nas relações bilaterais. Estas sanções, decorrentes da anexação da Crimeia e da guerra na Ucrânia, afectam directamente os interesses angolanos, como se observa na operação da empresa diamantífera russa Alrosa em território angolano.

Além disso, o impacto global do conflito na Ucrânia, particularmente na cadeia de abastecimento de grãos e cereais, evidenciou a vulnerabilidade de países como Angola, que dependem de mercados internacionais para garantir a segurança alimentar.

A cooperação militar permanece como um pilar central das relações entre Angola e a Rússia. O fornecimento de armamento, treino militar e formação de quadros por parte da Rússia moldaram, profundamente, o sector de Defesa e Segurança angolano ao longo de décadas. Contudo, Angola tem demonstrado interesse em diversificar as suas parcerias militares, incluindo a possibilidade de aquisição de equipamento americano, que demonstra interesse angolano em afastar-se de uma relação do domínio militar de quase meio século.

A materialização de um projecto de montagem de equipamento militar em Angola, com o apoio técnico da Rússia, conforme manifestado pelo Presidente João Lourenço, na Cimeira de Sochi, em 2018, poderia consolidar a posição do país como um actor relevante em questões de segurança e estabilidade no continente africano. Tal iniciativa reforçaria a diplomacia militar de Angola, ao mesmo tempo que contribuiria para a modernização das suas Forças Armadas.

Embora Angola e Rússia partilhem um alinhamento histórico e estratégico, a Política Externa angolana tem sido marcada pelo pragmatismo. O país condenou, publicamente, a anexação de territórios ucranianos pela Rússia na Assembleia-Geral das Nações Unidas. A posição angolana reflecte um equilíbrio cuidadoso entre a preservação de relações históricas e a adaptação às realidades do sistema internacional contemporâneo. A diversificação económica e o fortalecimento de parcerias em sectores não tradicionais são essenciais para revitalizar esta relação. Para Angola, manter um equilíbrio entre os seus parceiros internacionais, sem comprometer os seus interesses nacionais, será crucial. Angola, como nação soberana, deve avaliar, constantemente, as vantagens e desvantagens das suas relações com os EUA, a Rússia e a China, sem se comprometer excessivamente com um único bloco de poder e pôr em causa o seu interesse nacional. Neste contexto, a pergunta permanece: como Angola pode aproveitar as suas relações com a Rússia para avançar na sua agenda de desenvolvimento, ao mesmo tempo que fortalece a sua posição no cenário internacional? A resposta dependerá da capacidade do país em harmonizar os seus interesses históricos e estratégicos com as exigências de um sistema internacional em constante mudança. A Rússia, por sua vez, tem procurado aumentar a sua presença no continente africano, incluindo Angola, mas as suas ofertas de ajuda são mais centradas em questões de Defesa e Segurança.

A verdadeira questão para Angola não é simplesmente escolher entre essas potências, mas sim como equilibrar essas relações para maximizar os benefícios e mitigar os riscos. Esta será a resposta para a quarta parte da série de quatro artigos. “Angola entre os EUA, Rússia e China: quem deve escolher?”

Osvaldo Mboco Professor de Relações Internacionais e mestre em Gestão e Governação Pública, na especialidade de Políticas Públicas
domingo, 29 de dezembro de 2024

*Professor de Relações Internacionais e mestre em Gestão e Governação Pública, na especialidade de Políticas Públicas

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