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Domingo, 21 Mai 2023 22:55

Dossier 27 de Maio: os dois lados da mesma moeda

Os assassinos e os assassinados o que ninguém gosta de escrever: Nós os que sobrevivemos precisamos ter muito cuidado para não cairmos no erro em acreditarmos. Que essa nossa condição de sobreviventes nos garante o direito de falsearmos a história daquele acontecimento, pintando todos os que foram mortos.

Como se na verdade se tratam de uns santinhos que nunca tivessem feito nada de mau contra Angola, nem contra os seus próprios irmãos angolanos brancos e negros. Olha que não é bem assim, já que a verdade deve ser a única coisa que deve e tem que prevalecer então precisamos falar dos dois lados com a mesma intensidade.

Dos assassinos e dos assassinados sob o risco de não estarmos a ser justos até porque os assassinos são tão angolanos como os assassinados. Condeno sim, e vou condenar sempre o que aconteceu e jamais algum assassino terá o meu perdão enquanto não me pedir e não notar sinais visíveis de arrependimento.

Mas ora bem, tal não pode nem deve ser motivo que me obriga a fechar um olho e abrir só o outro porque só me interessa ver um lado de uma mesma moeda?

Embora não haja nenhum motivo seja qual for, para que se tire a vida a ninguém. Nós estamos perante uma realidade em que houve sim um genocídio que precisamos encarar de frente de peito aberto e falar sobre o assunto.

Mas sem nunca deixar de olhar dos dois lados de uma mesma moeda nesse caso, pois só houve assassinados porque houve assassinos, essa é a realidade. Dos nossos mortos falamos sempre com muito fervor e lágrimas no rosto, não tenho nada contra.

Mas pouco nos interessarmos que muitos dos nossos mortos também nem sempre foram pera doce isto é o que me parece não estarmos a ser justos.

Eu na outra crônica vou trocar alguns aspectos em miúdos para facilitar a compreensão e evitar más interpretações como se eu estivesse aqui a defender os assassinos, o que não é bem isso. Importa dizer, que eu conheci pessoalmente muitos jovens que foram assassinados, chorei suas mortes, muitos conhecidos desde a infância.

Mas estaria a mentir se dissesse que eles todos enquanto operativos da DISA, ao serviço deste MPLA que tivessem sido uns santinhos sem pecado. O ser humano por natureza tem tendência de terceirização da culpa para evitar se colocar diante de seus próprios erros e crimes cometidos também.

Por exemplo, leio às vezes certos jornalistas que do jeito que escrevem e colocam o dedo nas feridas alheias. O fazem como se eles tivessem sido sempre uns santos mesmo quando os únicos milagres que se conhecem deles também são indecorosos.

A maka é que a maioria dos angolanos são jovens e muitos nem sabem do passado não distante de tanta gente que aplaude. Por isso, se assustam facilmente e entram em curto circuito sempre que eu vasculho e lhes mostro o que está escondido debaixo do tapete.

Mas entre os assassinados não haviam também cruéis ou não nos importa?

Continuarei

Por Fernando Vumby

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