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Quinta, 25 Setembro 2014 09:12

A mentalidade dos tempos monopartidários é que ameaça a paz

Não é mentira, se dissermos que a mentalidade de partido único reina na mente de muitos moçambicanos e angolanos. Alguns deles ocupando posições de relevo em instituições públicas muito importantes no contexto nacional.

Quando se teima e se insiste numa estratégia absolutista como visão e prática de governo, fica claro que se teme a democracia efectiva.

Aquela visão de partido-estado, de poder centralizado omnipotente e omnipresente, foi abalada pelas duas guerras civis, mas nem com isso se pode considerar que seja um defunto pronto a enterrar.

Moçambique e  Angola sofre de “deficits” efectivos de qualidade de vida governativa, porque a liderança governamental optou pelo mercantilismo e clientelismo, no lugar de adoptar preceitos de gestão democráticos.

A demagogia e o encobrimento da agenda real do Governo tornaram o país em campo fértil para a emergência e desenvolvimento de correntes corruptoras, que acabaram “capturando o Estado”, como algum dia alguém disse.

Sucessos anunciados em vários domínios não se tornaram em benefícios concretos para milhões de moçambicanos ou angolanos.

A informalidade galopante na economia, o surgimento de crimes até aqui atípicos, a corrupção generalizada e institucionalizada, foram tratados cosmeticamente pelo poder do dia.

A mediocridade do “entourage” oficial reflecte-se no desempenho governamental.

Chegou a altura de o mais alto magistrado da nação desassociar-se, não do seu partido de suporte, mas do colete-de-forças que não o deixa assumir as funções para as quais foi investido.

O governo do MPLA tem um programa a cumprir, no qual votou a maioria dos angolanos e deve fazer por isso.

O PR, Armando Emílio Guebuza, deve descortinar com rapidez e urgência que não pode continuar fazendo política dependendo de conselheiros que impedem a normalização e credibilização do Governo.

É de esperar que, nestes próximos tempos, se veja a coragem de limpar o executivo e órgãos auxiliares limpos de gente que até tem processos no Tribunal Administrativo.

Urge moralizar e normalizar instituições públicas através de acções concretas que incluem a simples e pura exoneração de indivíduos que estão comprometendo a PAZ no país.

Aduladores e escovistas não podem continuar a passear a sua classe à custa de recursos públicos, quando nada de bom fazem e trazem para os cidadãos.

A defesa incoerente de procedimentos manifestamente contrários à agenda nacional não pode receber oxigénio nos meios da comunicação social pública.

Afinal, pode deduzir-se, as coisas não estão mal, a redução da produção do petróleo em Angola, a baixíssima taxa de criação de empregos, o escândalo do BESA, a redução da previsão do crescimento do PIB em 2014 para metade do previsto no Plano Nacional de Desenvolvimento (de 8% para cerca de 3,9%), os atrasos continuados no pagamento da dívida pública, a paralisação na reabilitação das estradas, as inúmeras dificuldades que se colocam à diversificação da economia.

Reconhecendo que o PR de Angola conseguiu alguns sucessos ao longo dos seus reinados e reconhecendo também que o PR de Moçambique conseguiu alguns sucessos ao longo dos seus dois mandatos, não se pode deixar de dizer que tais sucessos estão assombrados por toda uma cultura de “inside trading” nefasta e entorpecente para as aspirações nacionais.

O país, enquanto tal, deve ser assumido e entendido como espaço em que toda uma nação constrói o seu presente e futuro em condições de dignidade e soberania, a coberto de uma Constituição que garante direitos e deveres iguais para os seus cidadãos.

Uma situação de desequilíbrio grave, aumentando de dia para dia o fosso entre ricos e pobres, conduz à emergência de conflitos, como já tivemos a oportunidade de ver e sofrer.

Sr. PR Guebuza, não se trata de remodelar o seu Governo, o que se propõe é apelar para que se eliminem situações de compadrio e de incitação ao ódio através da comunicação social pública.

Somos diferentes, mas somos todos moçambicanos, e essa realidade nos torna responsáveis pela manutenção da PAZ no país.

Sectores claramente antipatrióticos devem ser tratados como empecilhos reais ao progresso e harmonia que se pretendem.

Um grupo de moçambicanos que, ao longo do tempo, tem demonstrado que não abandona comportamentos nocivos e promotores da discórdia não pode continuar acarinhado só porque alegadamente presta serviços inestimáveis ao partido no poder.

Uma cultura democrática requer-se no quotidiano e não nas proclamações mediatizadas pelos actores políticos.

Cultura da PAZ deve significar cultura democrática em toda a linha.

A exclusão é inimiga figadal da PAZ e da democracia.

Não estaríamos em crise nem discutindo despartidarização e questões económicas no Centro de Conferências “Joaquim Chissano” se tivesse havido abertura e frontalidade no debate nacional.

Ainda há tempo de corrigir erros e evitar repeti-los.

A única via aceitável para os moçambicanos passa pela implementação de programas democratizantes na esfera política e económica.

Tudo deve ser feito para não se repetir o “gole de Gaborone”.

O fim de mandato de AEG é uma oportunidade de ele definir como quer ser conhecido e reconhecido nos anais da história nacional.

Julgo que não deixará passar esta magna oportunidade removendo alguns empecilhos que se arvoram peças importantes na sua equipa de assessores e conselheiros.

Liderar e governar requerem coragem de cortar alguns laços para a concretização de objectivos de alcance e impacto nacional.

Moçambique já não é a República Popular de Moçambique ou Angola já não é a República Popular de Angola .

Esta nova República de Moçambique ou República de Angola é pluralista e deve continuar na senda da democratização, do progresso e desenvolvimento.

Nesse processo, cada um de nós tem as suas responsabilidades e ninguém é “especial”, e muito menos superior aos outros.

A viragem de que tanto se falou deve ser no sentido de construção de uma moçambicanidade que nos orgulhe.

Vamos todos aprender a ver com olhos de ver a periculosidade e o carácter pernicioso de cultos de personalidade, tanto à esquerda como à direita.

No embalo e com os ventos eleitoralistas soprando, não se perca de vista que Moçambique não termina no dia 15 de Outubro de 2014.

Que essa data seja um novo recomeço na senda que com sacrifícios os moçambicanos têm seguido.

O PR Armando Emílio Guebuza sabe perfeitamente que o país precisa da sua liderança nestes momentos cruciais.

Ninguém tem mais valor do que os moçambicanos.

Por Noé Nhantumbo

Jornal CanalMoz / AO24

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