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Quarta, 31 Julho 2019 13:02

Desconstruindo preconceitos e redefinindo conceitos: quem deve ser o Dr. no hospital?

Antes de tudo gostaria de explicar que existe diferença entre titulo académico e profissional.

Quando um médico, enfermeiro, odontologista, biomédico, radiologista ou outro profissional de saúde se forma na universidade ele adquire um titulo académico de graduado que pode ser licenciado ou bacharel conforme outras realidades como a do Brasil, e essas formações podem levar entre 4 a 6 anos de ensino universitário, entretanto a teoria de quem estudou mais esta deturpada, já que para cada curso se exige um numero exacto de horas que varia entre cursos, podendo chagar a 7.200 horas/Aulas (para Medicina) e 5200 horas horas/Aulas (para Enfermagem), 4000 horas horas/Aulas (para Biomédicas ou Análises Clínicas, Psicologia e Farmácia outros cursos), entretanto, isso depende da especificidade do curso e não é condição para se ter grau de formação maior ou menor que os outros, profissionais de saúde. Por isso, ele adquire um título profissional conforme os nomes supracitados.

Quando surgiu a academia no mundo moderno, um dos primeiros cursos leccionados na Universidade eram a medicina e o direito e ambos os formados nessas academias lhes era atribuído o titulo social de Dr., com o surgimento de outras academias esse atributo social passou a ser reivindicado por outros profissionais, e assim como os primeiros, se tem e chamado socialmente Dr. a outros profissionais, não só os de saúde como também de outras ciências humanas, sociais entre outros, entretanto, porém, todavia, apesar de e todos os outros termos de contraposição que me fogem a mente, nenhum deles é academicamente doutor (Dr.), mesmo que para tal faça cursos de especialização, residência ou outra pós-graduação lato sensu, com todos esses cursos ele se torna apenas especialista, ou seja, deixa de ser generalista e se especializa em uma área mais específica do conhecimento (médico cirurgião, enfermeiro de cuidados intensivos, endodontista, bacteriologista, entre outros).

Só é academicamente doutor, hoje denominado Ph.D (sigla para Philosophiæ Doctor), devido a utilização do atributo social Dr. em profissionais que tem o nível académico de graduado, é doutor ou Ph.D quem termina um doutoramento e para isso precisa fazer uma pós-graduação stritu sensu que começa com mestrado (2 anos no mínimo) e termina com o doutoramento (4 anos no mínimo), embora exista hoje os doutoramento directos que são permitidos a graduados com produção científica relevante e experiência técnica e profissional comprovada.

Por isso nesse artigo de reflexão, se chama a atenção aos profissionais de saúde, para que sejam apenas profissionais, independente do que forem, profissionalmente somos apenas meros trabalhadores em prol do bem estar do paciente, nenhum de nós está acima do outro nem academicamente, nem profissionalmente, já que estamos no mesmo nível, não temos e não somos superiores a ninguém no hospital, porque até os nossos colegas maqueiros, catalogadores, recepcionistas, seguranças e outros, também são partes integrantes da nossa equipa de saúde, nenhum dos profissionais que se encontra no hospital se formou para servir ao outro profissional, todos são formados para servir ao paciente, pois ele é o único que está acima de todos nós e abaixo de Deus, é graças ao paciente que temos uma profissão, que passamos vários anos na universidade na maioria das vezes de forma integral (manhã, tarde e noite), temos que ler uma variedade de livros aqueles livros grandes e aturar professores carrascos.
O paciente quando vai para o hospital, ele só quer ficar bom, não se importa muito com qual o profissional vai fazer isso, apenas que ele o faça bem feito, até porque sabemos todos que ninguém é indispensável na assistência ao paciente. Não fomos formados para chegar ao hospital e ser servido como Deuses na terra, para sermos idolatrados, mas sim para servir ao paciente e isso se faz trabalhando de forma multidisciplinarmente, estando atento as condições de saúde do paciente, estar presente quando ele precisa, e o sucesso dessa actividade passa pela troca de conhecimentos entre profissionais, pela partilha de informação, pela solicitação de parecer técnico e clínico, pela aceitação de opiniões e acima de tudo pela humildade académica, cientifica e humana em aceitar que qualquer um de nos pode falhar por mais competente e mais bem formado que seja. Entre as actividades de assistência em saúde, cada dos profissionais têm suas actividades independentes, interdependentes e independentes, fruto do seu conhecimento científico e técnico.

Por isso sejamos os primeiros a respeitar a vida humana desde o nascimento até a morte. Num país onde os pacientes morrem na porta do hospital por falta de atendimento, se transfunde sangue contaminado a uma criança, se manda para a morgue uma pessoa que não tem morte confirmada, e todos os outros casos polémicos que conhecemos, requerer exclusividade apenas para si de um atributo social (Dr.), que não é seu titulo académico nem profissional é burrice, querer definir quem deve uma material ou equipamento no hospital como bata branca, estetoscópio, termómetro, ou outro material de assistência ao paciente é parvoíce, a única coisa que precisas ser competente, ter profissionalismo, ser humilde, amar ao próximo como a ti mesmo, respeitar os outros e saber que qualquer um de nos pode estar na condição de profissional de saúde hoje e amanhã na condição de paciente.

Temos que criar fóruns científicos para discutir saúde baseada na evidência clínica, produção de novos fármacos e equipamentos de diagnósticos, humanização da assistência prestada aos pacientes, indicadores epidemiológicos, factores de propagação de doenças, surgimentos de novas patologias, utilização de fármacos falsificados, falta de vigilância sanitária de alimentos e insumos de consumo, produtos de higiene, equipamentos médicos e medicamentosos e muitos outros assuntos que afligem nossa sociedade. Angola precisa de todos médicos, enfermeiros, farmacêuticos, biomédicos, odontologistas, cardiopneumologistas, fisioterapeutas, nutricionistas e todas as outras profissões de saúde coesas, integras, respeitadas e acima de tudo unidas para resolver os problemas de saúde da sua população, não precisa de profissionais vaidosos, arrogantes, prepotentes, incompetentes e inconscientes que vivam num mar de utopia sem precedentes. O respeito de todos os profissionais de saúde tem de vir com o respeito pelo hospital, pela promoção da saúde, prevenção de doenças e melhoria da qualidade de vida dos Angolanos. Não se aceita que continuem nos importando expatriados ano após anos e depois descobrimos que nem sequer são formados em saúde e ganham 5 vezes mais que o nacional, tudo isso fruto da desvalorização do profissional de saúde nacional, fechando a porta aos seus anseios, sendo mal pagos e enfrentando todos os problemas de uma Angola que precisa da nossa mão. Não devemos nos esquecer que quando um profissional de saúde falha na assistência ao paciente, todo o hospital será acusados pelo mesmo acto, não importa qual seja a profissão.
Façamos juntos a campanha ``Juntos por uma saúde melhor pelo Angolanos e para os Angolanos´´

Por: Euclides Sacomboio (Ph.D em Ciências de Saúde)

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