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Terça, 27 Agosto 2024 21:06

João Lourenço prepara ‘limpeza’ na direcção do MPLA em Dezembro

A João Lourenço são atribuídos sentimentos de alguma “frustração” decorrentes da alegada falta de solidariedade que identifica na direcção do seu próprio partido, quando se trata da defesa dos temas mais controversos da sua governação.

A quatro meses da realização do próximo Congresso Extraordinário do MPLA, anunciado em Junho, a agenda do conclave, que deverá ser aprovada pelo Comité Central, continua a ser guardada a ‘sete chaves’, mas fontes ligadas ao círculo próximo do Presidente João Lourenço antecipam “uma limpeza do balneário” na direcção do partido.

A João Lourenço são atribuídos sentimentos de alguma “frustração” decorrentes da alegada falta de solidariedade que identifica na direcção do seu próprio partido, quando se trata da defesa dos temas mais controversos da sua governação.

Apesar do aparente alinhamento que ainda encontra no grupo parlamentar, em função do qual vai conseguindo aprovar iniciativas legislativas contestadas até por sectores internos do partido, como é o caso da nova Divisão Político-Administrativa que fez desaparecer a cidade de Luanda, figuras próximas do presidente afiançam que João Lourenço se sente particularmente isolado, ante os índices de contestação popular sem registo do MPLA e do seu governo.

Trabalhos de pesquisa independentes, como o mais recente da Afro- barómetro, confirmam níveis de rejeição de João Lourenço que superam a fasquia dos 80% e, em alguns casos, chegam mesmo a ultrapassar a barreira dos 90%, tal é o caso do elevado custo de vida, explicado por uma soma de alegadas tentativas de reformas que, em sete anos, resultaram em inegáveis fracassos.

Apontado em surdina por membros relevantes do MPLA como o único responsável pelo descalabro em que o país se encontra, com estatísticas que colocam a pobreza extrema em quase metade da população, João Lourenço confronta-se com um tabuleiro de xadrez com- plexo que não deixa de parte as contas do seu próprio futuro no partido e no país. É este quadro que, segundo altas figuras do regime, levaram o Presidente a concluir pela necessidade de uma "limpeza na direcção do MPLA" que deve atingir também o seu núcleo do Comité Central, no caso o secretariado do Bureau Politico. "A direcção do partido não o acompanha, todos andam calados, é como se quisessem propositadamente deixá-lo queimar-se sozinho", descreve uma alta patente militar próxima do círculo do Presidente, que explica assim o "projecto de renovação" que João Lourenço pretende forçar no Congresso Extraordinário que, entretanto, ainda não foi convocado.

Colocados de parte os temas centrais da governação, entre os quais os elevados índices de pobreza extrema e de desemprego, o alto custo de vida, a incapacidade de atracção de investimento estrangeiro, o contestado combate à corrupção e a crispação do quadro político, a fonte do Valor Económico sublinha que o Presidente do MPLA também não vê acolhimento, na actual direcção, da sua alegada pretensão de manter-se à frente dos destinos do país ou do partido. "Este tema [o do 'day after' de João Lourenço) nunca foi colocado em cima da mesa no partido, mas era esperado que, face à agitação que tem criado na sociedade, houvesse posicionamentos internos mais firmes em defesa do Presidente", observa.

Sem apontar nomes concretos dos membros da direcção que deverão ser defenestrados em Dezembro, a fonte insiste que João Lourenço deverá fazer "uma limpeza profunda", ao mesmo tempo que descarta qual- quer possibilidade de ocorrer um congresso electivo este ano. "Está fora de questão. Não vai haver eleição de um novo presidente em Dezembro", assegura, colocando em causa as aspirações de altos nomes do MPLA, como Higino Carneiro, que já se afirmaram como pré-candidatos à liderança do partido e que pretendem ver concretizada a mudança o quanto antes.

De parte, segundo a fonte, também ficam afastadas as alegadas aspirações de João Lourenço de um terceiro mandado, assim como a possibilidade de apresentar a sua mulher como candidata. "Nem ele nem a primeira-dama serão candidatos à chefia do Estado. Há o problema da Constituição e não há acolhimento no partido", explica.

Desafiado a comentar as informações da fonte deste jornal, um jornalista sénior angolano foi lacónico. "Não são confiáveis. E mais, se João Lourenço fizer uma reforma pro- funda na direcção do partido, isto significa 'varrer' o secretariado do Bureau Político. O que ele vai fazer? Substituir os actuais pelos 'miúdos' que ele colocou no Comité Central?", questionou.

OS SINAIS DO ISOLAMENTO

Além dos factos apontados pela fonte deste jornal, há inúmeros sinais que veem sugerindo a 'marcha solitária' de João Lourenço na assumpção do caos social em que pais se encontra mergulhado. Nos espaços de debate e opinião dos órgãos de comunicação social, excluindo raríssimas aparições, o MPLA passou a deixar-se representar por 'mercenários' e por figuras anódinas e com escasso ou nenhum reconhecimento público em matéria de militância partidária. Os 'tubarões' e os nomes notáveis do partido desapareceram dos debates e entrevistas, incluindo nos órgãos públicos controlados pelo Governo.

Uma das últimas raras aparições foi de Rui Falcão Pinto de Andrade ainda na qualidade de secretário do Bureau Politico para a Informação, numa entrevista, em Fevereiro deste ano, à rádio L.AC. Rui Falcão não se mostrou propriamente desalinhado de João Lourenço, mas deixou claro que o tema do alegado terceiro mandato era "conversa de bares" e não do partido. Poucos dias depois, acabou afastado do secretariado do Bureau Político, decisão interpretada como uma resposta de João Lourenço ao seu 'atrevimento'.

O isolamento de João Lourenço no MPLA encontra também respaldo em figuras que, mesmo sem qualquer voto na matéria hoje, continuam a 'fazer mossa' pela sua relevância histórica. Em declarações recentes, Bornito de Sousa, ex-vice Presidente da República, defendeu a realização de eleições autárquicas para ontem, contrariando a narrativa de João Loureço, Julião Paulo 'Dino Matross', que por longos anos foi secretário-geral do MPLA, repudiou a ideia de um hipotético terceiro mandato, evocando, entre outros, as limitações constitucionais. Valor Económico

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Last modified on Quarta, 28 Agosto 2024 11:59