Robert Mugabe, Presidente do Zimbabué há 27 anos, nomeou na quarta-feira o seu ministro da Justiça, Emmerson Mnangagwa, vice-presidente, abrindo a porta a uma possível sucessão. A cerimónia da tomada de posse deverá ser na sexta-feira, juntamente com a de Phelekeza Mphoko, escolhido para o cargo de segundo vice-presidente.
"Assegurei ao Presidente e quero assegurar ao partido que me manterei leal e fiel à linha da revolução", declarou Mnangagwa. O agora vice-presidente é conhecido informalmente por Ngwena (O Crocodilo), alcunha relacionada com o seu papel como chefe dos serviços secretos na repressão aos opositores políticos em 1980 - um processo conhecido como Gukurahundi. Também há suspeitas de ter estado envolvido na violência e intimidação que se seguiram à primeira ronda das eleições de 2008, onde Mugabe não foi o mais votado.
A fama de implacável de Mnangagwa (que ocupou também os cargos de ministro do Alojamento, da Segurança do Estado e da Defesa) persegue-o, acentuada por algumas declarações públicas. Segundo o jornal britânico "Daily Telegraph", em 1983 Mnangagwa fez um discurso onde chamava aos membros da oposição "baratas" e ameaçava queimar "todas as aldeias infetadas com dissidentes."
Incógnita na sucessão
Mnangagwa sucede a Joice Mujuru no cargo de vice-presidente, afastada por suspeitas de envolvimento numa conspiração para depor o Presidente - acusações que a própria nega -, juntamente com oito ministros, também eles destituídos.
No seu discurso de agradecimento, Mnangagwa abordou o tema: "A revolução tem uma forma de se fortalecer. Atravessa ciclos e este é outro ciclo marcado pela eliminação dos que se afastaram da linha justa", declarou o próximo vice-presidente,
Nos últimos meses, a primeira-dama Grace Mugabe assumiu um maior protagonismo político, alimentando rumores de que poderia ser ela a escolhida para ocupar o lugar do marido. "Especulou-se muito que o Presidente queria escolhê-la para manter a famiília Mugabe no poder", analisa o correspondente da BBC em Harare, capital do Zimbabué. "Mas a escolha do senhor Mnangagwa tirou todas as dúvidas."
Expresso