"Fico feliz com a confiança que os ruandeses depositam em mim. Sempre os servirei, tanto quanto puder. Sim, sou candidato", declarou Kagame, de 65 anos, a revista francófona Jeune Afrique.
O governo de Ruanda anunciou em março que sincronizaria as datas das presidenciais e as legislativas previstas para agosto de 2024.
Até agora Kagame não havia expressado abertamente suas intenções, mas algumas emendas constitucionais polêmicas o permitiram obter um terceiro mandato e governar até 2034.
Poderoso desde 1994
"Paul Kagame é um ditador que governa o Ruanda com mão firme - e não apenas desde 2000, mas na verdade desde 1994", diz o dissidente David Himbara. Após o genocídio e a vitória de Kagame na guerra civil em 1994, Pasteur Bizimungu foi colocado no posto de Presidente do Ruanda, tendo o próprio Kagame ficado com os cargos de vice-presidente e ministro da Defesa. "De facto, porém, ele já na altura tinha o poder ilimitado no Ruanda", afirma Himbara em entrevista à DW.
Himbara não é um mero observador distante, mas sim um homem que chegou a ocupar o cargo de "secretário particular" do Presidente durante seis anos. Quando Paul Kagame chegou ao topo em abril de 2000, ele nomeou Himbara para a sua equipa de consultores. Anos depois Himbara distanciou-se de Kagame e fugiu para o Canadá, onde cresceu.
"Agressivo, descontrolado, violento"
Kagame e as suas milícias tutsis, da "Frente Patriótica do Ruanda" (RPF), chegaram do vizinho Uganda como libertadores e conquistadores, enquanto o Ruanda se afundava no terror do genocídio praticado pelos hutus contra os tutsis. O seu passado militar ainda hoje é visível, diz David Himbara: "Kagame foi socializado na guerra. Ele é uma pessoa muito agressiva, descontrolada e violenta".
Várias organizações de defesa dos direitos humanos também fizeram sérias alegações: "Desde que Paul Kagame chegou ao poder, instalou um regime de terror: quem duvida da leitura oficial é perseguido", diz, por exemplo, a Human Rights Watch (HRW), que apresenta uma longa lista de assassinatos, casos de pessoas desaparecidas e prisões por motivos políticos.
O próprio Kagame chegou a comentar descaradamente as acusações, como as referentes ao caso do ex-chefe do serviço secreto e dissidente Patrick Karageya, que fora estrangulado num quarto de hotel na África do Sul, da seguinte forma: "O Estado ruandês não matou essa pessoa. Mas eu até gostaria que o Ruanda tivesse feito isso".
Poder até à morte?
Do ponto de vista jurídico, não há nada suscetível de atrapalhar a permanência no poder de Paul Kagame por muitos e longos anos. Sabiamente, Kagame alterou a Constituição em 2015 para poder cumprir mais dois mandatos até 2034. O povo aprovou a reforma em referendo, com uma esmagadora maioria de 98%. O dissidente David Himbara mostra-se convencido de que Kagame queira permanecer no poder "até à morte".
"Aqui no Ruanda, uma possível extensão do mandato do presidente não é um assunto que nos preocupe atualmente", enfatiza o conselheiro do Presidente Jean-Paul Kimonyo. O mandato atual de Kagame só termina em 2024. "Queremos mais prosperidade e precisamos de uma liderança forte para isso. E os ruandeses estão atualmente muito satisfeitos com a sua liderança", diz. C/DW