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Quinta, 15 Dezembro 2022 23:10

Brasil investiga filho de ditador da Guiné Equatorial em caso de lavagem de dinheiro

A Polícia Federal brasileira deflagrou esta semana operação transnacional que investiga possível crime de lavagem de dinheiro cometido pelo filho do ditador da Guiné Equatorial e número 2 do regime, Teodoro Nguema Obiang, conhecido como Teodorín.

Cinco mandados de busca e apreensão foram cumpridos por meio de cooperação da PF com autoridades da França, de Portugal e da Suíça. Teodorín é conhecido pelos escândalos de corrupção e virou uma dor de cabeça para o regime ao esbanjar em redes sociais imóveis de luxo.

A operação mira possível lavagem de dinheiro na compra de um apartamento na rua Haddock Lobo, em área nobre da capital paulista, em 2007, por R$ 15,6 milhões. O filho de Teodoro Obiang, o ditador mais duradouro do mundo, teria adquirido a cobertura por meio de empresas offshores de fachada.

A PF suspeita que o montante tenha origem ilícita —Teodorín recebeu sanções e condenações no Reino Unido, nos EUA e na França por pagar carros, imóveis e roupas de luxo com dinheiro fruto de corrupção em seu país, no qual o petróleo domina a economia.

Ao solicitar a cooperação para as medidas, a PF elenca as suspeitas nos EUA e na França e indica a possibilidade de a atuação dele no Brasil seguir o mesmo padrão: dinheiro público desviado e lavado em imóveis e artigos de luxo em outros países.

Entre as medidas que foram executadas no exterior a pedido da PF estão operações de busca e apreensão em dois endereços na Suíça. Um deles mira um possível intermediário responsável por instruir dois brasileiros envolvidos na compra do imóvel para o filho do ditador. Ações do tipo ocorreram também em Paris e Lisboa.

A PF solicitou ainda a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos envolvidos na compra do imóvel, para tentar rastrear a origem do dinheiro e descobrir se ele saiu de empresas em nome de Teodorin na Guiné Equatorial.

O número 2 do regime teria adquirido o imóvel por meio de uma empresa de fachada, a Nova Forma, controlada por firmas estrangeiras sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas e na Suíça. A embaixada do país no Brasil chegou a afirmar que a empresa e o apartamento seriam de sua propriedade.

A representação diplomática foi procurada pela Folha na tarde desta terça-feira, por email e telefone, mas não respondeu aos pedidos de comentários até a publicação desta reportagem.

Após adquirir o apartamento com a ajuda de uma pessoa identificada como corretor de imóveis ou advogado pela PF, Teodorín iniciou uma reforma no local com arquitetos franceses. Ele comparecia ao local uma ou duas vezes ao ano, e ali guardava veículos de luxo, incluindo um Porsche, uma Maserati, uma Lamborghini e um Mercedes-Benz.

A PF acredita que o imóvel na capital paulista tenha sido adquirido com dinheiro acumulado de maneira ilícita pelo filho de Obiang. Em alusão à postura de Teodorín nas redes sociais, a operação foi batizada #LuxuryLiving (vida de luxo), hashtag comumente usada por ele.

O escopo da operação é o imóvel de luxo, mas a investigação também apura outros bens, possivelmente de origem ilícita, apreendidos com Teodorín no Aeroporto de Viracopos, em Campinas, em 2018, quando o político equato-guineano ocultou bens da alfândega.

Ao todo, na apreensão de 2018, foram encontrados com Teodorín US$ 1,4 milhão em espécie e 20 relógios de luxo, avaliados em US$ 15,4 milhões. A operação foi batizada à época de Salvo Conduto.

Teodorín é o principal cotado para assumir a liderança do regime no lugar do pai, ainda que disputas familiares sejam evidentes nos últimos anos. O país africano teve eleições de fachada em novembro, e o regime alega que Obiang foi reeleito com 95% dos votos.

Militar de formação, Teodoro Obiang está no poder desde 1979. Ascendeu ao cargo após dar um golpe no tio, Francisco Macías, também um ditador. Seu regime é acusado de violações de direitos humanos e de suprimir as liberdades de expressão e de imprensa.

Ainda que fale majoritariamente espanhol, a Guiné Equatorial integra ao lado do Brasil a CPLP, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A nação foi a última das nove a entrar na aliança, e o fez sob críticas e pressão. Com muito atraso, o país aboliu a pena de morte em setembro passado, oito anos após aderir à comunidade.

As mais recentes eleições foram criticadas por países como os EUA. Em nota, o Departamento de Estado americano afirma que irregularidades do processo eleitoral minam a credibilidade dos resultados anunciados por Malabo no último dia 26, seis dias após a votação.

Ainda assim, Obiang é um dos dezenas de líderes africanos esperados para uma cúpula organizada pelo governo de Joe Biden nesta semana, numa tentativa de conter o avanço chinês e russo no continente. Folha de São Paulo

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