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Sexta, 07 Fevereiro 2014 22:37

MP vai apurar violência racista a estudantes africanos no Brasil

Porto Alegre/RS (Brasil)– O pedido de desculpas do comandante do policiamento de Porto Alegre, coronel Atamar Cabreira, da Brigada Militar, não interferirá na investigação do caso dos estudantes Tibulle Sossou, natural da República do Benin, e Sagesse Kalla, da República Democrática do Congo, que ao procurarem a sede da PF na capital gaúcha para realizar os trâmites dos seus vistos, foram retirados do veículo, revistados, algemados e agredidos por soldados da Brigada.

O caso aconteceu no dia 17 janeiro e confirma o roteiro do doocumentário “Open Arms, Closed Doors” (Braços Abertos, Portas Fechadas), produzido no ano passado pela TV Al Jazeera sobre imigrantes angolanos que vivem na favela da Maré, no Rio e que relata a história de Geraldino Canhanga, conhecido como Narrador Kanhanga, que passou a utilizar a linguagem do rap para combater a discriminação racial na capital gaúcha, onde vive há 8 anos. (Veja o vídeo na TV Afropress).

O correspondente de Afropress, em Londres, Alberto Castro, disse que o documentário tem tido grande repercussão nas comunidades de imigrantes – especialmente africanos – no Reino Unido, que ainda se chocam com cenas de racismo no Brasil.

Manifestações racistas e ataques, principalmente, a estudantes africanos tem sido frequentes. Afropress apurou que, só no ano passado, ocorreram cerca de 15 ataques racistas a africanos de diferentes países nos últimos dois anos.

O principal deles foi o assassinato da universitária angolana Zulmira de Sousa Borges Cardoso, de 26 anos, que fazia pós graduação em comércio exterior na Universidade Paulista (UNIP), em maio de 2012, morta a tiros no centro de S. Paulo, quando comemorava em um bar do Brás, o aniversário do compatriota Renovaldo Manoel Capenda, também ferido no ataque.

Antes de atirar, segundo testemunhas, os assassinos - dois homens - chamou o grupo de "macacos que vieram lá da Angola". Mais dois angolanos ficaram feridos, entre as quais Celina Bento Mendonça, de 34 anos, grávida de cerca de oito meses.

Caso dos estudantes em Porto Alegre

Segundo os estudantes, um policial presente no ônibus, desconfiou da procerdência dos tênis usado por um deles e ligou de seu celular. “Estávamos conversando em francês dentro do ônibus e uma policial, que estava no coletivo, ficou nos olhando, principalmente para os nossos tênis. Ela pegou o celular e chamou as viaturas”, contou Sagesse Kalla, da República Democrática do Congo.

Por sua vez, Tibulle Sossou contou que durante a abordagem foi agredido com uma “gravata” e dois socos na nunca. “Nunca ninguém tinha apontado uma arma para a minha cabeça, eu fiquei triste e com muita vergonha. Muita gente passava e ficava olhando”, diz Sossou.

Após sofrerem violência foram soltos sem nenhum pedido de desculpas. “Um policial ainda falou que isso aconteceu porque somos negros e que esse tipo de abordagem é comum no Brasil”, contaram.

Sagesse veio cursar pós-graduação em Biologia na Furg. Sossou será aluno de pós-graduação, também na Furg, em Oceanologia. Ambos são falantes nativos de francês e estão começando a dominar o português.

Investigação

O caso está sendo investigado. Além da ocorrência policial também há uma queixa na Corregedoria da Brigada Militar. O presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, Jair Krischke, disse que se tratou de uma manifestação expressa de racismo: “Foi uma manifestação expressa de racismo, abuso de autoridade e constrangimento ilegal. A polícia age assim com qualquer negro, seja brasileiro ou estrangeiro. Precisamos dar um basta no despreparo da Brigada”, sublinhou.

A Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, por meio do defensor João Otávio Carmona Paz, também afirmou que representará ao Ministério Público pedindo investigação do caso e a identificação dos brigadianos envolvidos. Os estudantes participaram de uma audiência com o comandante do policiamento na capital gaúcha coronel Atamar Cabreira, que apresentou desculpas em nome da corporação e também prometeu investigar.

Confira o vídeo da reunião com o coronel da Brigada:

http://www.youtube.com/watch?v=ziOp4kW7BYw

Afropress

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