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Sexta, 03 Abril 2020 12:26

Covid-19: Empregadas domésticas estão a ser obrigadas a trabalhar

“A minha patroa tem 21 anos e não sabe cozinhar. Deu-me um frasco de álcool em gel, máscara e disse para evitar acumulado de pessoas”, justifica à reportagem do Jornal de Angola uma cozinheira obrigada a trabalhar quase todos dias, por não ter sido dispensada durante o período de Estado de Emergência, em vigor desde o passado dia 27, para prevenir o contágio e propagação do Covid-19.

Maria Majimo, 47 anos, trabalha na centralidade do Sequele, município de Cacuaco, diz temer um possível corte do salário ou despedimento, caso se mantenha em casa, apesar de nunca ter tentado abordar o assunto com os patrões. Refere não ter argumentos para tal, por ser iletrada e de uma família humilde.

Majimo afirma que os patrões dizem, apenas, para se cuidar, evitando aglomerados de pessoas e higienizar constantemente as mãos.

Já Maura Andrade é babá de uma criança, cuja mãe está em Portugal em tratamento médico. “Sou babá interna. Minha patroa está há meses em tratamento médico em Portugal, com o marido. Eu e a irmã dela ficamos a cuidar da criança. Saio do Sequele apenas para levar compras para os meus filhos, que estão aos cuidados do pai”, disse, lamentando a “atitude insensível” dos agentes da Polícia Nacional. Por seu lado, a empregada de limpeza Arlete Cardoso, mesmo com os patrões a cumprirem quarentena numa outra propriedade deles, disse sentir-se obrigada a cuidar da casa do Sequele, actualmente vazia. “Eles estão a gozar quarentena na quinta e eu cuido da casa e trato da roupa”, disse.

Detidas pela Polícia

Maria, Maura e Arlete foram detidas à entrada do Sequele, quando tentavam ludibriar efectivos dos órgãos de Defesa e Segurança ali destacados. As três aproveitaram uma viatura de táxi descaracterizada para terem acesso à centralidade, depois terem sido aconselhadas a regressar ao convívio dos seus familiares, devido ao Estado de Emergência, em vigor no país.

A reportagem do Jornal de Angola presenciou a cena, por sinal vivida todos os dias à entrada da cidade, onde são barradas centenas de empregadas domésticas pelos órgãos de Defesa e Segurança. O cenário à entrada parece um dia normal de trabalho, num país despreocupado com a pandemia. Todos os dias, logo às primeiras horas da manhã, um número expressivo de pessoas era interrogada sobre as motivações que as leva à cidade, sendo no entanto, as causas de menor relevância dando lugar ao aconselhamento para se manter em casa, por formas a cumprir isolamento social e quarentena domiciliar.

Na sua maioria jovens, as empregadas esbarram num cordão de agentes da Polícia Nacional, da Guarda Fronteira e militares das Forças Armadas Angolanas, montado ainda no exterior da centralidade.

do Sequele, ficando, assim, impedidas de chegarem à paragem dos autocarros públicos e de seguirem viagem até aos respectivos locais de trabalho.

Uma vez impedidas de penetrar na cidade pelas forças de Defesa e Segurança, algumas tentam utilizar artimanhas para fugir do controlo, mas a atitude tem sido frustrada pelas autoridades, como aconteceu com a cozinheira, babá e a empregada de limpeza.

O comandante da Iª esquadra da cidade do Sequele reiterou a necessidade de se cumprir com o Decreto Presidencial Provisório, que restringe a circulação aos cidadãos, por formas a evitar contacto e aglomeração entre pessoas.

Jaime Simão disse que, apesar de as empregadas terem sido pedagogicamente alertadas sobre os perigos, incorreram no crime de desobediência. “Prometemos ser implacáveis e cumprir escrupulosamente com as orientações atribuídas às forças de Defesa e Segurança”, disse o inspector-chefe, para quem os empregadores mostram desrespeito ao apelo, sobre a necessidade de as empregadas serem dispensadas como forma de prevenir a propagação do Covid-19.

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