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Terça, 28 Janeiro 2020 10:45

Os esqueletos guardados no armário da Sonangol

Isabel dos Santos ficou em xeque por causa de uma transferência feita enquanto líder da Sonangol para uma empresa detida por si. Existe, contudo, um lado B da história que envolve uma demissão no escritório da petrolífera angolana de Londres.

Uma transferência de 115 milhões de dólares para uma empresa controlada por si, feita nas vésperas da sua demissão da presidência da Sonangol, a 15 de novembro de 2017, foi a peça de domínio que fez cair Isabel dos Santos do pedestal.

Esta é narrativa suportada pelo Luanda Leaks e o peso dos factos que atingiram a empresária como um tsunami. Ainda com as ondas de choque bem visíveis surge uma versão contra a corrente, a de que o afastamento da petrolífera angolana se deveu à circunstância de Isabel dos Santos ter decidido demitir a representante do escritório da Sonangol em Londres, Sandra Júlio, por esta não prestar esclarecimentos à administração da empresa. Pela capital inglesa passa um grande volume de vendas do petróleo e Isabel dos Santos entendia que existia informação que lhe estava a ser sonegada, desconfiando que a Sonangol estava a ser prejudicada nessa atividade de "trading".

No entendimento destes interlocutores, essa opção fez soar os alarmes em certos meios de Luanda, os quais pressionaram o Presidente João Lourenço para que demitisse Isabel dos Santos, o que efetivamente se verificou. Depois disso, no escritório de Londres, o "status quo" que a empresária quis derrubar foi restabelecido.

A gestão da Sonangol, antes de Isabel dos Santos, fez-se sempre numa espécie de nebulosa, o que abre espaço para a especulação e muitas dúvidas. Por exemplo, o Negócios teve acesso a documentação que mostra a criação a 20 de novembro de 2010 de uma Sonangol SA em Hong Kong, com acionistas privados, que no mesmo dia passa a ter de Mantra Group Administration Limited, sendo que o número de registo das duas companhias é exatamente o mesmo, 1393750. Esta opção levanta uma série de interrogações, sendo que uma delas tem que ver com as motivações que levaram uma EP (empresa pública) a criar uma SA (sociedade anónima) com terceiros.

Denúncias antigas

Nesse ano de 2010, a 7 de maio, Rafael Marques, no site Maka Angola, sustentava que o então presidente da Sonangol, Manuel Vicente, tinha procedido em 2008 "à reestruturação das principais subsidiárias da empresa petrolífera estatal para enriquecimento pessoal". "Manuel Vicente fez negócio consigo próprio transferindo, de forma ilegal, 1% da Sonangol Holdings para o seu nome pessoal, tornando-se assim sócio formal da empresa pública em quase todos os seus negócios multimilionários", escreveu Rafael Marques.

O nome do antigo líder da Sonangol e ex-vice-presidente do país tem estado, aliás, no centro das atenções, havendo quem sugira que está a ser protegido devido a ter optado por uma atitude de colaboração com o atual Governo.

O discurso oficial segue uma linha paralela a esta. Hélder Pitta Grós, procurador-geral da República, em entrevista ao Expresso publicada no sábado, questionado sobre se admite investigar outra figuras angolanas, Manuel Vicente e os generais Kopelipa, Leopoldino Fragoso do Nascimento e Francisco Miala, respondeu assim: "Sempre que tivermos factos que revelem isso instauraremos os devidos processos-crime. Em relação a essas figuras ainda não temos matéria suficiente."  

Por Celso Filipe / Jornal de Negocios

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