Numa ronda feita hoje por alguns dos bairros da capital angolana, as 'kinguilas', como são conhecidas as mulheres que se dedicam à compra e venda de divisas na rua, transacionam uma nota de cem dólares por cerca de 42.000 kwanzas. Trata-se de uma cotação, do mercado informal, que se mantém inalterada desde 22 de fevereiro e contrasta com os 47.500 kwanzas do final de janeiro.
A falta de kwanzas no mercado, segundo explicaram estas 'kinguilas', em declarações à Lusa, continua a travar a subida da cotação do dólar e do euro, resultando na prática, devido à retirada de moeda de circulação física, numa valorização da moeda angolana.
Na prática, e apesar de continuar escassa a quantidade de divisas nos bancos, o preço no mercado paralelo não dispara, como aconteceu em meses anteriores.
Na mesma ronda realizada hoje, a Lusa encontrou uma nota de cem euros a ser transacionado na rua, em bairros como Maculusso, Mutamba ou São Paulo, a cerca de 52.000 kwanzas , também inalterado em duas semanas, contrastado com os 58.000 kwanzas do final de janeiro.
Na taxa de câmbio oficial definida pelo Banco Nacional de Angola (BNA), a compra de cada dólar está hoje fixada nos 213,4 kwanzas, enquanto adquirir cada euro custa 264,7 kwanzas.
A retirada de dinheiro de circulação física tem sido uma medida adotada pelo BNA para conter a escalada da cotação do euro e do dólar no mercado informal, alternativo, embora ilegal e a preços especulativos, para angolanos e expatriados que não conseguem comprar divisas aos balcões dos bancos, face à crise cambial.
Durante o mês de janeiro, no mercado de rua, negócio que a polícia angolana tenta combater, o custo da nota de dólar tinha aumentado quase 20% e a de euro 15%, segundo os cálculos feitos pela Lusa, tendência que desde o início de fevereiro está a ser invertida.
Em agosto último, por altura das eleições gerais angolanas, a compra de cada dólar norte-americano estava em mínimos de 2017, rondando os 370 kwanzas (1,40 euros).
Entretanto, desde 09 de janeiro que a moeda europeia passou a ser a referência para o mercado de câmbios de Angola, no novo regime flutuante cambial, levando a uma forte depreciação da moeda angolana face ao dólar e ao euro.
Desde o primeiro trimestre de 2016 - até ao início de janeiro deste ano - que a taxa de câmbio oficial definida pelo BNA não sofria alterações, nos 166 kwanzas por cada dólar norte-americano e nos 186 kwanzas por cada euro.
A cotação passou, entretanto, a resultar dos leilões de divisas realizados pelo BNA, no âmbito do novo modelo de definição da taxa de câmbio em função das propostas apresentadas pelos bancos, mas que passou a ser limitada a uma variação máxima, por leilão, de 2%, para travar a especulação cambial.
No modelo anterior, a cotação era fixada diretamente pelo BNA e o novo regime flutuante cambial começou a ser aplicado numa altura em que as Reservas Internacionais Líquidas do país estão em mínimos históricos, inferiores a 12.000 milhões de euros, devido à crise da cotação do petróleo.