Pequim está a intensificar o uso do renminbi (ou yuan) no sistema financeiro global, através do aumento de empréstimos, depósitos, obrigações e instrumentos de financiamento ao comércio internacional, num esforço para reduzir a exposição ao dólar e fortalecer a autonomia financeira do país, segundo dados oficiais.
Dados da Administração Estatal de Câmbio da China mostram que os ativos externos de rendimento fixo dos bancos chineses ultrapassaram os 1,5 biliões de dólares (1,3 biliões de euros) no final de junho, com o volume de ativos denominados em renminbi a atingir 484 mil milhões de dólares (416 mil milhões de euros) – incluindo 360 mil milhões de dólares (310 mil milhões de euros) em empréstimos e depósitos, mais do triplo face a 2020.
De acordo com o Banco de Pagamentos Internacionais (BIS), o crédito bancário chinês a países em desenvolvimento em renminbi aumentou 373 mil milhões de dólares (321 mil milhões de euros) nos últimos quatro anos, com 2022 a marcar uma viragem no abandono do dólar e do euro por parte destes mutuários.
Com taxas de juro relativamente baixas na China, países como Quénia, Etiópia e Angola converteram dívida antiga em dólares para yuan, enquanto Brasil, Indonésia, Cazaquistão e Eslovénia anunciaram emissões de dívida pública em renminbi – os chamados panda ‘bonds’ (obrigações panda).
Em junho, o Governo brasileiro revelou que está a preparar a sua estreia no mercado obrigacionista chinês, numa operação vista como “sinal claro de adesão ao processo de internacionalização do yuan”.
“Para a China, conseguir liquidar comércio em renminbi mostra que, aconteça o que acontecer, continuará a conseguir transacionar”, afirmou Adam Wolfe, economista da Absolute Strategy Research, citado pelo Financial Times.
O uso do renminbi no financiamento do comércio também disparou. Dados do sistema de pagamentos internacional SWIFT indicam que a quota da moeda chinesa quadruplicou nos últimos três anos, para 7,6% do mercado global – o segundo lugar, atrás apenas do dólar.
Este crescimento foi sustentado por uma rede cada vez mais densa de bancos de compensação em renminbi fora da China e linhas de swap com parceiros comerciais em várias regiões, além do reforço do sistema de pagamentos transfronteiriços chinês, o CIPS, que movimenta mais de 40 biliões de yuan (483 mil milhões de euros) por trimestre desde o início de 2024.
Em paralelo, as autoridades de Hong Kong lançaram um “roteiro” para transformar a cidade num centro global de transações e liquidez em renminbi, incluindo medidas para reforçar o mercado de dívida e abrir o acesso estrangeiro ao mercado interbancário de ‘repos’ na China continental – um passo crucial, segundo Karen Lam, da Simmons & Simmons, para tornar os ativos em renminbi mais funcionais e apelativos.
“O impacto pode ser tão relevante quanto o que foi conseguido com os programas de ligação às bolsas”, afirmou Paul Smith, responsável de mercados para o Japão e Norte da Ásia no Citibank, referindo-se ao mecanismo que liga Hong Kong às praças financeiras de Xangai e Shenzhen, no continente chinês. Ainda assim, persistem obstáculos à internacionalização plena.
Segundo o FMI, o renminbi representava apenas 2,1% das reservas oficiais globais no início deste ano, muito abaixo do dólar (58%) e do euro (20%).

