O leste da RDCongo, região rica em recursos e que faz fronteira com o Ruanda, é assolada por conflitos há mais de 30 anos, com a violência a intensificar-se com a tomada das grandes cidades de Goma, no Kivu do Norte, no final de janeiro, e Bukavu, no Kivu do Sul, em fevereiro pelo grupo armado antigovernamental M23, apoiado por Kigali e pelo seu exército.
Os Presidentes congolës, Félix Tshisekedi, e ruandès, Paul Kagame, assinaram na quinta-feira à noite, em Washington, um acordo, negociado em junho, e enfaticamente qualificado como um "milagre" pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, lembra a AFP, para vincar que esse acordo não teve nenhum efeito no terreno até agora.
Intensos combates estavam hoje em curso na provincia de Kivu do Sul entre o M23 e o exército congolés, apoiado por milhares de soldados burundeses destacados ao seu lado, noticia a reportagem da AFP no local, apontando que as duas partes disputam o controlo da cidade fronteiriça de Kamanyola, situada na fronteira entre a RDCongo, o Ruanda e o Burundi, e controlada pelo M23.
Fortes detonações, que chegaram a fazer vibrar o interior dos edificios, ressoaram durante toda a manhã nos arredores de Kamanyola, observou um jornalista da AFP em Bugarama, posto fronteiriço ruandēs localizado a dois quilómetros de Kamanyola.
Os Presidentes da República Democrática do Congo (RDCongo) e do Ruanda assinaram na quinta-feira, em Washington, um acordo de paz, na presença de Donald Trump, com o objetivo de por fim ao conflito entre os dois países.
"Hoje, estamos a triunfar onde tantos outros falharam e esta tornou-se a oltava guerra que terminamos em menos de um ano. É realmente emocionante, porque falamos de 30 anos de luta e mais de dez milhões de vidas", disse o chefe de Estado norte-americano durante a cerimonia da assinatura do acordo de paz.
Trump detalhou que o acordo contempla um cessar-fogo permanente, o desarmamento das forças não-estatais, o retorno dos refugiados e a responsabilização para aqueles que cometeram atrocidades.
O pacto inclui ainda uma componente económica, ao conceder aos Estados Unidos da América (EUA) acesso preferencial a minerais estratégicos da região.
Desde 1998, o leste da RDCongo, nação vizinha de Angola, vive um conflito alimentado por grupos rebeldes e pelo exército, apesar do destacamento de uma missão de paz da ONU (Monusco).
A crise no leste congolës agravou-se no final de janeiro quando o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23), apoiado pelo Ruanda - segundo a ONU e varios países ocidentais, tomou o controlo de Goma, capital da província do Kivu do Norte, e semanas depois de Bukavu, capital da vizinha Kivu do Sul.
Em junho, a RDCongo e o Ruanda ratificaram o acordo de paz em Washington, durante uma cerimônia no departamento de Estado, com a presença do secretário de Estado, Marco Rubio, e dos ministros dos Negócios Estrangeiros de ambos os países.
Contudo, a violência continuou na região, e em novembro representantes da RDCongo e do grupo rebelde M23 assinaram, em Doha, um acordo-quadro, mediado pelo Qatar, com o objetivo de alcançar uma paz definitiva.
O Presidente angolano, que participou na cerimónia na qualidade de presidente em exercício da União Africana, chegou a mediar o conflito, missão que suspendeu em março último depois de fracassada uma reunião em Luanda entre delegações da RDCongo e do M23, no mesmo dia em que se realizou o encontro em Doha entre Tshisekedi e Kagamé, sem o conhecimento de Angola.

