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Domingo, 21 Julho 2024 14:18

Relações luso-angolanas "não vivem lua-de-mel" mas estão num bom momento

Portugal e Angola estão a viver um "bom momento" nas relações bilaterais, disse à Lusa o analista de política africana Jonuel Gonçalves, a propósito da visita oficial que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, efetua esta semana a Angola.

"Não é uma lua-de-mel, porque uma lua-de-mel nunca se vive, mas [as relações bilaterais] vivem um bom momento. Lua-de-mel não se vive porque depois há toda a problemática social que se vive em África e é claro que o objetivo em Angola é: será que a parceria com Portugal vai ajudar a atual situação a melhorar um pouco?", acrescentou.

Para Jonuel Gonçalves, economista e também professor universitário, "no fundo, é a utilidade deste relacionamento" bilateral.

"Agora, além da utilidade, há os valores simbólicos e, realmente, um primeiro-ministro português que começa a sua presença como primeiro-ministro é significativo que seja com Angola", salientou.

A deslocação oficial de Luís Montenegro a Angola, de 23 a 25 deste mês, será a primeira do chefe do executivo português com caráter bilateral.

Antes, Luís Montenegro esteve em Bruxelas, para a cimeira da União Europeia, e em Washington, novamente para uma cimeira mas da NATO.

Questionado se as alterações recentemente introduzidas pelo Governo português para a emissão de vistos de entrada poderiam constituir um novo "irritante" nas relações luso-angolanas, Jonuel Gonçalves disse acreditar que não.

"Eu acho que, mesmo que tivesse ficado o Partido Socialista no poder, esta questão deu problema foi com Bruxelas a nível do Acordo de Schengen. Ou seja, os Estados membros não podiam introduzir um sistema de visto que desse curto-circuito no sistema geral e estava a levantar problemas, porque havia os vistos CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] que depois não eram aceites pelos outros signatários de Schengen, e isso é que era o grande problema", defendeu.

Para Jonuel Gonçalves, o acordo alcançado a nível da CPLP "causou muita surpresa em África e no Brasil".

"Pensava-se que Portugal tinha uma autorização, um acordo prévio da União Europeia para fazer isso, mas não tinha", frisou, considerando que a UE não podia aceitar aquele acordo porque criaria um precedente.

"Os franceses iam fazer a mesma coisa com um país de língua francesa e por aí fora, de maneira que esta questão pode ser abordada à margem [da visita de Luís Montenegro]", afirmou.

"Mas o que me parece, e que já está a acontecer neste momento por todo o lado, Brasil, Angola e tal, é que a CPLP não serve para nada", vincou.

"Uma medida tomada na CPLP, se for de caráter económico, ela não pode ser aplicada, porque os Estados membros da CPLP estão inseridos em acordos económicos diferentes, às vezes até antagónicos. Se for em termos de circulação de pessoas, há dois acordos que podem fazer problema. Um deles é o de Schengen, o outro é o do Mercosul, mas o Brasil não se opõe. Agora, a nível da União Europeia, é muito sério, porque a migração é um tema central na política europeia", adiantou.

Jonuel Gonçalves disse também não acreditar que os investimentos de Isabel dos Santos em Portugal possam ser um embrião para um novo "irritante".

"Irritante, não. Quer dizer, eu tenho a impressão é de que continuam contactos entre as procuradorias-gerais da República de Angola e de Portugal, não só no caso da Isabel, mas de muitos outros casos. À medida que vão aparecendo, digamos, indícios, caminhos ou provas em Luanda, a Procuradoria em Angola entra em contacto com Portugal. Eu penso que a área política está a deixar isso na mão da área jurídica", vaticinou.

O economista considerou ainda que atualmente já não se repete a ideia vigente no passado, nas relações entre Portugal e as antigas colónias, em que os governos portugueses de direita mantinham um relacionamento mais frutuoso do que os executivos de esquerda.

"Durante um certo momento foi assim mesmo. Agora acho que durante o período do [primeiro-ministro socialista António] Costa mudou", disse.

"Eu não sei quem é que tinha conseguido, digamos, vias de diálogo melhores, ou se era o antigo poder que estava mais interessado em conversar com a direita do que com certos setores da esquerda", acrescentou.

Segundo Jonuel Gonçalves, os governos de direita em Portugal "não colocavam, ou colocavam menos, questões de direitos humanos e havia um certo receio de que a esquerda colocasse esses problemas".

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