"A dívida pública de Angola terá subido para perto de 91,8% do PIB, um aumento de 30 pontos percentuais que se deveu exclusivamente ao efeito da perda de valor do Kwanza", lê-se na análise semanal à economia angolana, enviada aos clientes e a que a Lusa teve hoje acesso.
Os dados do Banco Nacional de Angola mostram que a dívida externa fixou-se perto dos 50,3 mil milhões de dólares (46,9 mil milhões de euros) no segundo trimestre do ano, menos 1,5 mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros) face aos doze meses anteriores, estando no valor mais baixo desde o segundo trimestre de 2020, acrescentam os analistas do BFA.
Ainda assim, acrescentam, "olhando para a dívida como um todo, a estimativa aponta para um valor a rondar os 65,5 mil milhões de dólares (60 mil milhões de euros), uma quebra significativa no valor em dólares, decorrente da descida da dívida externa em montante, e devido ao efeito da depreciação no valor da dívida interna quando medida em dólares".
A desvalorização do kwanza desde o princípio do ano, mas com particular incidência a partir do segundo trimestre, quando o Governo implementou a retirada parcial dos subsídios aos combustíveis, motivou esta subida da dívida externa, já que uma moeda nacional mais barata equivale a pagamento da dívida mais elevados.
Relativamente à decomposição da dívida externa de Angola, o BFA salienta que "a dívida a entidades chinesas representa 38% de toda a dívida pública ao exterior, um peso muito relevante, mas que tem estado em quebra, estando agora em mínimos desde o primeiro trimestre de 2016".
Pelo contrário, acrescentam, "a dívida às entidades multilaterais representa agora 17,5% de toda a dívida ao exterior, um máximo histórico desde o início da série estatística, em 2013", o que mostra os esforços do Governo para fomentar a diversificação das fontes de financiamento.
A análise do BFA surge poucos dias depois da primeira avaliação do conselho executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) após o programa de assistência financeira, na qual reviu em baixa a previsão de crescimento da economia de Angola, de 3,5% para 0,9% este ano.
Para esta revisão em baixa contribui o decréscimo do setor petrolífero, principal sustentáculo da economia angolana, com um recuo de 6,1% (esperava-se um crescimento de 2% nas previsões de fevereiro), que o crescimento do setor não petrolífero para 3,4% (era de 4,3% em fevereiro) não consegue compensar.
O Conselho executivo do FMI destaca que as reformas, bem sucedidas, associadas aos preços do petróleo suportaram a recuperação económica de Angola entre 2021-22, mas o declínio da produção petrolífera (de 1,205 milhões de barris por dia previstos em fevereiro, para 1,026 milhões de barris por dia) traz “desafios significativos”.
O Fundo prevê também que o rácio da dívida pública sobre o PIB, que é um dos cinco principais indicadores para avaliar a sustentabilidade da dívida de um país, suba de 65,2% em 2022 para 83,2% este ano, para depois abrandar para 75,6% em 2024, ainda assim acima da média dos países da África subsaariana, à volta dos 60% do PIB.