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Sábado, 11 Fevereiro 2023 10:35

Problemas de Angola resultam dos confrontos do passado, diz Higino Carneiro

Os problemas que se vivem em Angola resultam dos confrontos do passado, afirmou hoje o general Higino Carneiro, dizendo que é preciso dar a conhecer a história às novas gerações e não perturbar a “marcha triunfal” da paz.

Higino Carneiro, general, diplomata, empresário, ex-ministro das Obras Públicas, ex-governador de Luanda e ex-deputado do MPLA lançou hoje, cerca de um ano depois de “Memórias: soldado da pátria”, o seu segundo livro dedicado às “Grandes Batalhas e Operações Militares Decisivas de Angola”.

Na apresentação, o político explicou que o que descreve no livro ajuda a explicar os problemas que ocorreram em Angola, e até agora subsistem, já que só a partir de 2002 é que o MPLA e seu governo começaram a poder olhar para questões relacionadas com a economia e as questões sociais.

“Os problemas que Angola atravessa resultam de todos esses confrontos que ocorreram no nosso país”, um período “tenebroso critico, difícil, mas também glorioso” e que permitiu alcançar a paz que se vive atualmente e que queremos que continue assim”, disse em entrevista à Agência Lusa.

No lançamento do livro, em Luanda, deixou a sua visão sobre temas polémicos e presenteou a UNITA, maior força política da oposição angolana, que durante 30 anos combateu o governo do MPLA, com alguns remoques, apesar de dizer em entrevista à Lusa que conta vários amigos nas fileiras do partido fundado por Jonas Savimbi.

“Deixamos sempre (recados), no fundo nós conhecemo-nos e não deixamos de nos falar. Eu, pessoalmente, nutro amizade por muitos deles, com quem até combatemos em determinado momento do nosso processo. Alguns pensam melhor, compreenderam a essência do que aconteceu, mas também é preciso dar recados a outros que abandonaram essas ideias e que só podem perturbar a marcha triunfal que conquistámos e que queremos que perdure”, explicou.

E prosseguiu dizendo que “tudo o que ocorre, manifestações, partir carros, queimar, tem a mão sempre de alguém”

“As informações chegam-nos e não deixamos de passar o recado para abandonarem isso: querem o poder, vamos dialogar, vamos fazer a luta política, hoje é o momento”, frisou.

Higino Carneiro falou também sobre a importância da memória: “Se não escrevermos acabamos por esquecer e os angolanos em geral, e sobretudo as novas gerações, acabam por não perceber os problemas que estamos a viver”.

Uma incompreensão que levou o general a emocionar-se e a puxar do lenço para enxugar as lágrimas, afirmando que “nunca uma organização política em todo o mundo fez tanto como fez o MPLA”.

“É de facto desagradável ouvir tantas coisas que nos procuram imputar e nós não somos capazes de responder, de dizer o que deve ser dito”, lamentou.

“Um país não pode esquecer a sua história, um país sem história está condenado ao fracasso”, insistiu o general.

“Muitos se sentiram feridos, mas aquilo que estou a contar foi o que aconteceu. Tudo ficou destruído, é preciso recuperar”, reforçou, salientando que “é preciso ter dinheiro” para o fazer.

Questionado sobre se sente a insatisfação popular como uma forma de ingratidão, Higino Carneiro disse que falta comunicação: “Nós não comunicamos, não transmitimos, ou dialogamos muito pouco. Precisamos conversar mais, para fazer compreender a essência dos nossos problemas. Se isso for possível, com certeza que as reivindicações vão diminuir e as pessoas vão compreender melhor”.

Acrescentou que “é direito da população exigir que o governo faça mais”, mas é preciso tempo e dinheiro

“O dinheiro não vem do céu, vem do nosso trabalho das nossas contribuições”, insistiu.

Quanto aos milhões de dólares desviados do erário no âmbito de casos de corrupção, contornou a questão, dizendo que o Presidente tem conduzido este combate, abraçado pelo MPLA.

“Nós abraçamos todo o seu programa e agora compete-nos a nós fazer o nosso papel e não deixarmos o presidente sozinho nessa luta”, declarou.

Um papel que passa, segundo disse à Lusa, por “sensibilizar as pessoas para que tenham um comportamento diferente e entendam que Angola é de todos nós”

O general que teve também os seus próprios problemas com a justiça angolana, e foi acusado de crimes de peculato, nepotismo, tráfico de influência, associação criminosa e branqueamento de capitais, no período em que foi governador de Luanda, acabou por nunca ser julgado e o processo foi arquivado por ordem do Tribunal Supremo.

“Eu nem sequer fui ouvido, chegamos só ao período do contraditório e chegaram à conclusão (que não havia fundamento) e por essa razão o processo foi arquivado”, disse à Lusa.

No evento marcaram presença antigos combatentes e pesos pesados do MPLA, desde Mário Pinto de Andrade, Boavida Neto, Dino Matross, o ministro do Interior, Eugénio Laborinho, o governador de Luanda, Manuel Homem, a vice-presidente do MPLA, Luísa Damião e a presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, bem como Irene Neto, viúva do primeiro presidente angolano, Antonio Agostinho Neto.

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