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Sábado, 31 Dezembro 2022 09:43

Gás em Angola: País está num ponto de viragem?

2023 poderá ser um ano importante para os negócios do gás em Angola. É o consenso entre vários analistas ouvidos pela DW, que dizem que o país tem boas possibilidades de se tornar um novo fornecedor de gás para a Europa.

Com a invasão russa da Ucrânia, aumentou a corrida ao gás na Europa. Antes, os europeus eram clientes fiéis do gás russo, mas a guerra mudou tudo. A Europa fechou a torneira à Rússia e procura agora outros fornecedores.

O especialista em energia Chigozie Nweke-Eze lembra que a Alemanha é um dos países mais interessados no gás, para a sua indústria. “Com a guerra, a Alemanha é forçada a olhar para outros lados, para obter gás. E claro que alguns desses países para onde a Europa está a olhar são países africanos”, diz.

Países como a Nigéria, o Senegal, a Guiné Equatorial, o Congo e também Angola. O problema, diz Chigozie Nweke-Eze, é que, embora esses países tenham muito gás, não têm infraestruturas necessárias para o poderem processar e levar à Europa.

Inpacto da Covid-19 no setor

É por isso que o investigador José Oliveira não acredita que 2023 traga grandes avanços para o setor do gás em Angola.

“Os projetos de desenvolvimento para a produção do gás para abastecer o complexo do Soyo, o Angola LNG, estão relativamente atrasados. Em parte por causa da Covid-19, que atrasou dois anos os investimentos que se tinha de fazer no mar para possibilitar a exploração de mais gás, em offshore, para alimentar o LNG”, explica.

O Governo angolano prevê o processamento de 5,2 milhões de toneladas de gás natural liquefeito por ano, não só para o mercado global como também para consumo interno.

Situação mantém-se em 2023

Mas mesmo que não se comece já a processar esse gás em 2023, poderá haver novidades, afirma José Oliveira. O colaborador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola lembra que Angola tem já identificadas algumas reservas de gás na bacia do Kwanza:

Nesta altura estão em fase de planeamento vários projetos para aproveitar o gás naquela região, havendo a possibilidade da criação de um novo complexo de liquefação.

“O desenvolvimento de descobertas de gás, nomeadamente para a sua liquefação e exportação, são projetos que demoram três a quatro anos e que envolvem no mínimo três a quatro mil milhões de dólares. Portanto, provavelmente em 2023, poderá haver alguma decisão em relação aos projetos em carteira e só em 2026 é que poderá haver um aumento de exportação do gás de Angola”, afirma José Oliveira.

Posição de Angola no mercado internacional
Patrício Quingongo, fundador e diretor-executivo da Petro Angola, a maior plataforma de informação especializada sobre o assunto nos PALOP, considera que, em 2023, o maior desafio para Angola será aproveitar a janela de oportunidades que se abre com a escassez no fornecimento de gás para a Europa. Mas Angola terá de se apressar.

Segundo Quigongo, no que se refere à produção do petróleo em África, Angola alterna a liderança com a Nigéria, mas quando olhamos para a indústria do gás, o país quase não tem muita expressão, devido à inexistência de investimento na referida indústria.

“Outro desafio de Angola para os próximos anos é melhorar o conhecimento geológico e com isso fazer novas descobertas de gás, para conseguir se posicionar como um país relevante”, defende Patrício Quingongo. “Porque mesmo para atrair investidores, estes só investem em países onde há reservas comprovadas, e Angola não tem o conhecimento de grandes reservas de gás comprovadas o que faz com que Angola seja um parceiro limitado para a UE no que tange a rápida necessidade no fornecimento de gás”, conclui.

Segundo o Presidente angolano, João Lourenço, a implementação do plano diretor para o setor do gás terá um horizonte temporal de pelo menos 30 anos e visa também a criação de mais empregos para os jovens.

Em entrevista à DW, Julian Cardenas, diretor do Centro de Direito dos Estados Unidos e do México, disse acreditar que após a recente Conferência Angola Oil and Gas 2022, realizada no início de dezembro, o número de projectos e infraestruturas na indústria petrolífera angolana serão muito promissores.

“Os preços do petróleo e do gás mantêm-se a níveis que podem permitir que as empresas internacionais se envolvam em investimentos” em Angola, enfatiza o investigador. Além disso, acrescenta. “a Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis de Angola conta com pessoal altamente qualificado e profissional. Isto facilita muito o diálogo com investidores estrangeiros.”

Angola deixa de ser “árbitro e jogador”

O diretor do Centro de Direito disse ainda que há outro detalhe muito mais importante: “Em outubro de 2022, Angola aderiu plenamente à Convenção sobre a Resolução de Litígios de Investimento entre Estados e Nacionais de Outros Estados, que dá acesso ao direito internacional e à arbitragem internacional aos investidores estrangeiros no sector da energia e das infraestruturas.”

Este é um detalhe muito importante porque impede o país de participar do jogo como árbitro e jogador ao mesmo tempo, dizem os analistas do setor.

Julian Cardenas acredita que “2023 será um ano em que Angola poderá tirar partido do seu potencial para continuar a promover e destacar a atratividade de projectos energéticos a longo prazo.”

Fatores de competitividade no mercado global

Chigozie Nweke-Eze disse em entrevista à DW: “Quando olhamos especificamente para Angola, o governo angolano sempre se mostrou aberto a seguir as tendências de negócios. E tem planos atrativos.”

Portanto, acrescenta, “é quase certo que a Europa também tem uma oportunidade para planear a importação de gás de Angola e Angola destaca-se de outros países africanos, no sentido em que o Governo se mostra disposto a entrar no negócio do gás.”

Além de que têm criado incentivos económicos. Afirma Nweke-Eze acrescenta que Angola também é relativamente estável politicamente, com poucos conflitos em comparação com outros países que produzem gás.

“Angola tem boas possibilidades de se tornar um novo fornecedor de gás para a Europa. Mas Angola terá de assegurar que isto não só beneficia a Europa, como também a economia angolana, e que são cumpridos padrões de sustentabilidade, para não prejudicar o meio ambiente”, conclui.

DW Africa

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