Por Natanaeli Nhanhado Melaço
O menino Rufino, que vivia com os seus pais , estudava a 4a classe numa escola comparticipada, e "o maior sonho dele era ser polícia".
Naquela altura, Angola, o país do menino Rufino, completaria 41 anos desde a conquista da Independência Nacional contra o colonialismo português.
Infelizmente, a ambição ao poder causou uma guerra civil nos primeiros 27 anos da Angola Independente, isto é, até o calar das armas em 2002.
Naquela ano, o então presidente José Eduardo dos Santos, que esteve no poder desde 1979, consagrou-se como "o arquiteto da paz", supostamente por ter morto em combate o seu irmão angolano, Jonas Malheiro Savimbi, numa operação militar executada pela Polícia de Intervenção Rápida (PIR), liderada pelo então brigadeiro Carlitos Wala.
Coincidentemente, não era só o menino Rufino António que tinha 14 anos de idade, mas também a paz do calar das armas em Angola.
Um incidente horrível que começou na Quarta-feira, dia 3 de Agosto de 2016, no musseque do Walale, bairro Zango II mudou a história daquela localidade e terminou com a vida heróica do menino Rufino.
Na madrugada daquela Quarta-feira, os moradores do musseque do Rufino, foram surpreendidos por militares das Forças Armadas de Angola, incorporadas no Posto Comando Unificado (PCU) em Luanda, liderada por Carlitos Wala, que havia sido promovido a patente de Tenente General.
Num país que se dizia viver num período de paz, sem aviso prévio ou qualquer notificação, os moradores do bairro do menino Rufino foram cercados e brutalmente expulsos a tiros por militares do Tenente General Wala, e suas casas foram injustamente demolidas.
Os moradores haviam apresentado os documentos legais das suas casas, emitidos pela Administração e justificavam que as terras pertenciam-nos por muitos anos porque eram zonas de cultivo, mas os militares receberam "ordens superior" e os expulsavam a tiros a queima-roupa, dizendo que as pessoas ocuparam e construíram ilegalmente em zona fundiária pertencente a Sociedade de Desenvolvimento da Zona Econômica Especial Luanda - Bengo (ZEE-EP).
Passado três dias, isto a 6 de Agosto de 2016, o governo já havia destruído mais de 600 casas no musseque do Walale, deixando várias famílias sem casas, vivendo ao relento e em condições extremamente desumanas.
Os moradores ficaram sem acesso a água porque os militares cavaram buracos nas ruas que davam acesso ao bairro, impossibilitando a entrada de carros e motorizadas.
Os moradores resmungavam e alguns mais corajosos protestavam mas os militares do governo e do Tenente General Wala, agrediam e expulsavam-nos.
Naquele Sábado, o menino Rufino António procurava entender as razões que levaram os militares do governo destruírem as casas no seu bairro.
Corajosamente metido entre a multidão, o menino Rufino foi perseguido por militares.
Fugindo dos tiroteios a queima roupa, naquele dia 6 de Agosto de 2016, o menino Rufino António foi atingido por uma bala na nuca, caindo ao chão de centenas de casas demolidas, onde o seu sangue derramou até o seu último suspiro de vida.
O governo apercebeu-se que estava errado e para tentar justificar-se já à última da hora, notificou os moradores num dia depois da morte do menino Rufino António, afirmando que os habitantes deviam abandonar a zona no prazo de 15 dias porque as demolições injustas e forçadas iriam continuar.
Rufino morreu como um mártir, porque queria saber das razões que levaram o governo e os militares do "arquiteto da paz", José Eduardo dos Santos, a destruírem as casas do seu povo. Ele morreu corajosamente como um herói da luta contra as demolições injusta das casas de pessoas pobres e indefesos.
"Perdemos o filho, perdemos a casa. Não temos sequer dinheiro para dar um funeral digno ao nosso Rufino," disse o pai do menino, que lutou contra as injustiças do anos da paz que está a matar mais do que guerra.