"O embaixador disse-nos que vai fazer todos os esforços para que no próximo semestre possa haver, através das verbas do FMI, uma atenção especial a este problema; quanto mais depressa chegar o dinheiro, mais depressa o problema pode ser resolvido", disse Albano Ribeiro no final de uma reunião com o embaixador de Angola em Portugal.
Nas declarações aos jornalistas em Lisboa, o representante dos trabalhadores da construção civil vincou que o embaixador Marcos Barrica disse que "estão a procurar resolver esta parte do problema, que é a falta de divisas, e vão dar uma grande atenção ao setor da construção, porque há obras paradas e o setor é muito importante para Angola".
A reunião desta manhã, "pedida desde janeiro do ano passado, mas só hoje realizada por questões de agenda do embaixador", serviu para o sindicato dar conta das preocupações dos cerca de 110 mil trabalhadores do setor em Angola, que na sua maioria têm salários em atraso.
"Só cerca de 10% tem os salários em dia, os restantes têm um, dois, três, quatro ou cinco meses de atraso, o que leva a situações dramáticas do ponto de vista humano", acrescentou o sindicalista.
"No ano passado conseguimos evitar o suicídio de três mulheres e este ano vamos pelo mesmo caminho", adiantou Albano Ribeiro.
Só os cerca de 400 trabalhadores da Soares da Costa em Angola têm três milhões de euros em salários em atraso, e a estratégia desta e de outras empresas tem sido direcionar os colaboradores para outras geografias, em vez de os trazer para Portugal.
"Já regressaram milhares, e regressariam muitos mais se as empresas, e bem, não direcionassem para outros países como a Bolívia, Nova Zelândia e Zâmbia, senão vinham para Portugal e faziam o desemprego aumentar", disse o sindicalista.
O setor da construção em Angola está a passar por uma crise motivada pela descida do preço do petróleo e consequente quebra nas receitas do Estado, o que originou um conjunto de medidas de austeridade, entre as quais a suspensão ou anulação de diversos investimentos públicos, nomeadamente na área da construção.
O FMI anunciou este mês que ia começar a negociar um Programa de Financiamento Ampliado com as autoridades angolanas para fornecer ajuda técnica e financeira para aprofundar a diversificação da economia e torná-la menos dependente do petróleo.
A estrutura sindical esteve reunida ao final da manhã desta quinta-feira, em Lisboa, com o embaixador de Angola.