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Sábado, 16 Abril 2016 07:12

250 mortes depois, governo angolano corre atrás do prejuízo da febre amarela

Vacina é uma das palavras na ordem do dia em Luanda. Governo anuncia que vai vacinar, está a vacinar – ou que encomendou vacinas. Mas o facto é que as 250 mortes já registadas – oficialmente – por causa da epidemia de febre amarela poderiam ter sido facilmente evitadas – com vacinação atempada. E, no meio dos seus esforços para correr atrás do prejuízo, o governo não escapa a críticas.

Uma mais diretas feita até hoje foi de um dos responsáveis da UNICEF em Angola, Sam Agbo. Em artigo de opinião, esta semana no jornal britânico The Guardian, afirmou que tem faltado “vontade política para aplicar o dinheiro e recursos humanos necessários para fazer funcionar” campanhas de imunização. O processo é ainda mais difícil agora, uma vez que a abundância de receitas petrolíferas deu lugar a um tempo de penúria e apertar o cinto, devido à quebra económica

O reaparecimento da febre amarela, afirma Agbo, é “diretamente atribuível a uma quebra acentuada no financiamento para a Saúde”. “O orçamento do governo para a saúde foi revisto este ano com uma alocação 33% inferior a 2015, tornando mais difícil adquirir vacinas”. “tTambém foram cortados gastos na salubridade pública e controlo de mosquitos, deixando montes de lixo por recolher em zonas pobres – condições férteis para o surgimento e contágio por vírus”.

À febre amarela e ao paludismo, pode agora juntar-se a poliomielite. O último caso em Angola foi reportado em julho de 2011, mas peritos de saúde avisam que o país continua em risco, dado que grande número de crianças não recebem a vacina oral. A doença já tinha sido eliminada em 2001, mas ressurgiu em 2005.

Para Agbo, o Governo tem de “demonstrar o seu compromisso”, investindo “pelo menos 60 dólares por ano, por criança, bem como destinar financiamento significativo ao apoio de saúde materno-intantil. O atual investimento é inferior a 15% do orçamento. 

O último balanço da OMS dá conta de um aumento do número de casos de febre amarela confirmados (mais 90 face a 04.abr). O total de casos suspeitos atingiu 1.751 (mais 200), e as mortes 242 mortes (mais 20). Dos 582 casos confirmados em laboratório, 406 da província de Luanda, 85 do Huambo, 22 de Benguela e restantes de outras 12 das 18 províncias.

Entretanto, 90% da população-alvo de campanha de vacinação em Luanda foi alcançada, a vacinação está em curso em mais 7 distritos de Luanda, e um reforço de vacinação noutros 5.

Na quinta-feira, o coordenador da ONU e representante da OMS esteve de visita à província do Huambo, onde foi agora lançada uma campanha de vacinação com objetivo de chegar a 930.751 indivíduos. Em preparação está o lançamento de uma campanha de vacinação em Benguela, com equipas técnicas no terreno;

Apoio técnico ao laboratório nacional está a ser prestado por 4 técnicos de laboratório do Instituto Pasteur, Dakar, e 2 do CDC (Atlanta, EUA). Em breve deverá chegar a Luanda um novo gestor de dados para apoiar vigilância a nível nacional. O coordenador da ONU pediu apoio do Gabinete de Coordenação Assuntos Humanitários ONU (OCHA) para a articulação e uma equipa deverá chegar ao terreno na próxima semana

Entretanto, está também já a ser feita coordenação com os países vizinhos, em particular a República Democrática do Congo, exposta a contágio a “presença de agente transmissor, elevada proporção de indivíduos susceptíveis a infeção e movimentos populacionais intensos de e para Angola”. De 4 casos confirmados no Instituto Pasteur, Dakar, 3 foram confirmados como “importados” de Angola na província do Baixo-Congo, junto à fronteira angolana. As infeções de viajantes de regresso de Angola “sublinham o risco de disseminação internacional da doença”, segundo a OMS.

Segundo o Briefing Africa Monitor de 13 de abril, a progressão de casos suspeitos e confirmados e de fatalidades continua ao mesmo ritmo de semanas anteriores, apesar dos esforços da OMS, MSF, USAid, entre outras entidades, com várias equipas no terreno. Profissionais de saúde pública e a oposição apontam para números “reais” muito superiores.

“Apenas 3 meses depois de alerta para o surto em Luanda, ocorre lançamento de campanha de vacinação no Huambo, com Benguela ainda à espera. Com 12 províncias afetadas, serão necessárias campanhas também em cidades de média dimensão no interior do país. Vacinas continuam a chegar, mas ainda aquém das necessidades. (…) Há relatos de falta de recursos financeiros para continuação da campanha de vacinação em Luanda e início em Benguela”, adianta o Briefing. 

“A epidemia angolana pôs a nu incapacidade de resposta do sistema de saúde, falta de meios das autoridades para o sector, constituindo-se como um embaraço interno e externo. Situação está a configurar-se como uma emergência de saúde pública regional”, conclui.

AM

 

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