"A continuidade de uma liderança de 12 anos que manifestamente não conseguiu penetrar junto do eleitorado nem capitalizar essa insatisfação que existe não tem condições para obter resultados diferentes, até porque é mais do mesmo", disse Paulo Gorjão.
Em declarações à Lusa, o investigador no IPRIS disse que, assim, "o Presidente José Eduardo dos Santos recebeu uma excelente notícia caso decida concorrer novamente às eleições de 2017".
Questionado sobre a razão de a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) não capitalizar esse descontentamento, Paulo Gorjão respondeu que isso reside principalmente na "diferença de meios entre a UNITA e o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), que é óbvia e notória, até porque o MPLA tem os meios do Estado ao seu dispor, o que lhes torna tudo muito mais fácil".
Para Paulo Gorjão, outra das razões de a UNITA não conseguir traduzir em votos "o descontentamento que se sente na população" tem a ver com a perceção de falta de credibilidade.
"A população associa a UNITA a mais do mesmo, não lhes atribuem especial credibilidade, e por isso o voto acaba por ser relativamente residual, ninguém vê na UNITA uma alternativa credível e séria, e a prova disso é que grande parte dessa insatisfação, expressa simbolicamente pelo Luaty Beirão, não se canaliza nem para a CASA nem para a UNITA", concluiu Paulo Gorjão.
Num comentário publicado hoje pelo IPRIS, o académico afirmou que "sem que seja previsível a ascensão da UNITA ao poder, o partido do 'Galo Negro' vive fechado sobre si próprio, sem grande capacidade de atração de jovens quadros, e disso tira proveito Samakuva que, ao longo dos anos, teceu uma elaborada teia de cumplicidades e de lealdades".
Para Paulo Gorjão, "ironicamente, pode dizer-se que em sentido figurado a continuidade de Samakuva --- e o que ela representa em termos de ausência de alternativas e de renovação da UNITA --- é em parte um precioso seguro de vida para José Eduardo dos Santos".
Assim, concluiu, "ainda que Angola viva atualmente um ciclo económico adverso e muito difícil, com todas as implicações políticas e sociais que daí decorrem, a eventual reedição em 2017 do confronto eleitoral de 2012 --- entre José Eduardo dos Santos, Isaías Samakuva e Abel Chivukuvuku --- não terá, em circunstâncias normais, grande história para contar".
Lusa